Artigo de André Soares - 17/01/2013
EXPLOSÃO DO FOGUETE BRASILEIRO VLS-1 (22/08/2003)
(Explosão do foguete brasileiro VLS-1, no Centro de Lançamento de Alcântara/MA)
(21 técnicos civis falecidos na explosão do foguete brasileiro VLS-1)
Em
2013, comemora-se dez anos de uma tragédia nacional que foi o mais
explícito atentado à soberania do estado. Trata-se da explosão do
foguete brasileiro VLS-1, no Centro de Lançamento de Alcântara/MA, que
além dos incalculáveis prejuízos e do sério comprometimento do
estratégico projeto aeroespacial brasileiro, assassinou impunemente 21
cidadãos brasileiros. A verdade proibida é que a versão oficial
classifica esse fato como tendo sido um infeliz “acidente”, para
encobrir a responsabilidade da Agência Brasileira de Inteligência
(ABIN), em sua ineficiência como órgão central do Sistema Brasileiro de
Inteligência (SISBIN). Contudo, a realidade é ainda mais grave. Pois,
além de ineficiente, a atuação desvirtuada da ABIN foi desvelada em
2008, em suas clandestinidades na Operação “Satiagraha”, condenadas pelo
Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2011, e que serão julgadas
brevemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Compreende-se
então porque o Brasil está vulnerável e incapaz de antecipar ameaças,
como o atentado do “mensalão” em 2005, a mais grave ação criminosa da
política brasileira; os ataques terroristas do Primeiro Comando da
Capital (PCC) em 2006, que dominou todo estado de São Paulo; o caos da
aviação brasileira entre 2006 e 2007, que comprometeu a segurança dos
voos no país; a onda de ataques do crime organizado no Rio de Janeiro em
2010, que demandou o emprego das forças armadas; só para citar algumas.
Cumpre destacar que o Brasil é alvo de diversos serviços secretos
estrangeiros, sendo atribuição e responsabilidade precípua da ABIN
combatê-los. Entretanto, os mesmos atuam livremente em todo território
nacional, principalmente a CIA (EUA), MOSSAD (Israel), BND (Alemanha),
DGSE (França) e o serviço secreto chinês, dentre outros.
Enquanto
“o que fazer com a ABIN?” continua a ser a única questão que atormenta
nossos governantes, a dimensão dessa caótica conjuntura nacional é muito
mais abrangente e profunda porquanto hodiernamente o Brasil está
sofrendo a pior crise institucional de inteligência de sua história.
Para saber isso, basta investigar as clandestinidades da ABIN na
Operação “Satiagraha”, ou simplesmente perguntar aos governantes do país
“quais são e o que estão fazendo os serviços de inteligência
nacionais?” Porque nossos dirigentes não sabem responder, bem como
desconhecem absolutamente tudo o que acontece nessas organizações, em
razão da inação dos órgãos responsáveis pelo controle da atividade de
inteligência no país, como a Comissão de Controle das Atividades de
Inteligência do Congresso Nacional (CCAI), os Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário, o Ministério Público, os Tribunais de Contas, a
Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional, e a Secretaria de
Controle Interno da Presidência da República (CISET).
Portanto,
os desafios são muitos. A começar pela promulgação de uma Política
Nacional de Inteligência e de um Plano Nacional de Inteligência, pois a
inadmissível inexistência desses instrumentos fomenta o desvirtuamento
dessa atividade; a urgente revisão e aperfeiçoamento dos nossos diplomas
legais, começando pela equivocada Lei 9883, de 07 de dezembro de 1999,
que cria a ABIN e o SISBIN; a estruturação de um legítimo sistema
nacional de inteligência, que prime pela ética e legalidade de suas
ações, congregando os poderes da república, ministério público e entes
federativos; a ruptura da “caixa preta” dos serviços de inteligência,
cuja prestação de contas deve submeter-se impiedosamente ao princípio
constitucional da publicidade; a total reestruturação da ABIN, governada
por uma inescrupulosa “comunidade de inteligência”; e a
responsabilização criminal de todos os operadores de inteligência,
principalmente dos dirigentes máximos desses serviços, completamente
protegidos pela impunidade.
Ao
que na verdade estamos assistindo são as manifestações explícitas de
uma metástase institucional, por sua degenerescência aquiescida em mais
de uma década de inépcia e diletantismo irresponsável de nossas
autoridades. O julgamento pelo STF da participação da ABIN na Operação
“Satiagraha” é momento histórico que decidirá irreversivelmente o futuro
da Inteligência de Estado no país. Que a decisão da suprema corte
inspire a inauguração de uma Inteligência nacional eficiente,
comprometida com o estado democrático de direito e que salvaguarde o
Brasil de adversidades como a explosão do foguete brasileiro VLS-1. Caso
contrário, restar-nos-á aguardar o próximo atentado.
“A Inteligência é um apanágio dos nobres. Confiada a outros, desmorona".
(Coronel Walther Nicolai - 1873/1934 - Chefe do Serviço de Inteligência do Chanceler Bismarck)