segunda-feira, 28 de junho de 2010

A inteligência da "loura burra"

A inteligência da "loura burra" - I (versão para homens)
Artigo de André Soares - 10/04/2010.

A “loura burra” não tem nada de burra, pois é inteligentíssima e, consequentemente, poderosésima!


Continua no próximo número.


A inteligência da "loura burra" - I (versão para mulheres)

As mulheres estão ficando cada vez mais louras.
Pintar os cabelos dessa cor já é filosofia de vida das mulheres – até a Beyonce é loura!.

Mas, as mulheres estão completamente enganadas, pois ao invés de se preocuparem em pintar os cabelos de louro deveriam se dedicar a ser “loura burra”, e para isso não precisariam sequer pintar os cabelos.

Se não entendeu...bem...vamos explicar mais um pouco. Afinal, todos tem “limitações”, não é mesmo?

A “loura burra” autêntica não tem nada de burra, pois é inteligentíssima e, consequentemente, poderosésima!

É importante frisar estarmos tratando da “loura burra” autêntica porque a “loura burra” falsa (tem imitação prá tudo) é burra mesmo.

“Loura burra” simboliza a maior expressão de poder da mulher - a beleza, em todos os sentidos.

A “loura burra” (a autêntica) é a mulher esplendorosamente bela. Assim, a palavra “loura” não tem qualquer relação com a cor dos cabelos, mas sim com o fato da mulher bela encantar e hipnotizar irresistivelmente a todos, reluzindo-se como o amarelo reluz o ouro (a cor amarela...a cor do ouro...a cor dos cabelos amarelos...a loura... entendeu, agora?).

Portanto, a palavra “loura” tem sentido figurado referindo-se ao “brilho” da beleza feminina, pois o poder da mulher bela independe da cor dos cabelos.

E por que a “loura burra” é “burra”?

Boa pergunta!

A “loura burra” é “burra” por opção.

Se não entendeu...bem...vamos explicar mais um pouco. Afinal, poucas tem a inteligência da “loura burra”, não é mesmo?

Todavia, o simbolismo da palavra “burra” é mais profundo e constitui uma figura de linguagem de raciocínio subliminar paradoxal, significando exatamente o seu oposto que é - inteligência. Sua lógica encontra-se solidamente fundamentada nas concepções filosóficas evolucionistas e behavioristas e estudos comprovados dos mais renomados cientistas da atualidade apresentam evidências significativas de que a “loura burra” representa a linha evolutiva mais desenvolvida do sexo feminino, com mutações genéticas adaptativas de DNA (é preciso inteligência para entender isso – a “loura burra” entende).

Pode-se fazer um esforço para simplificar a referida lógica de “como” e “por que” a “loura burra” é tão inteligente, embora a sua compreensão exija níveis elevados de raciocínio.

Por que a “loura burra” é “burra”?

Porque ela não precisa ser “inteligente” como as mulheres “inteligentes” que têm 50 páginas de histórico acadêmico no curricullum lattes, falam fluentemente cinco idiomas, tem pós-doutorado no exterior, conheçem todos os biomas da Amazônia, fazem palestras sobre os acordos e subsídios agrícolas da rodada de Doha, e conhecem toda a biografia da tia-avó do presidente Barack Obama.

E por que a “loura burra” não precisa ser “inteligente” como essas mulheres “inteligentes”?

Porque ela é esplendorosamente bela, e uma mulher assim tem absolutamente tudo o que quer (as mulheres “inteligentes” têm?).

É importante destacar que a “loura burra”, como foi dito, é inteligentíssima. Assim, caso ela quisesse fazer tudo o que as mulheres “inteligentes” fazem, ela faria facilmente.
Mas para quê? Se ela tem o mundo a seus pés!
Seria pura perda de tempo.
E a “loura burra” é inteligentíssima para não desperdiçá-lo.

Marilyn Monroe, foi um excelente exemplo de “loura burra” que, inclusive, segundo dizem, nem era loura de verdade e que, conforme foi dito, não tem a menor importância.

Façamos, então, um teste de verificação:

1. Marilyn Monroe sabia cantar?

Não.

2. Marilyn Monroe sabia dançar?

Também, não.

3. Marilyn Monroe sabia interpretar?

Pessimamente.

4. Marilyn Monroe sabia a tabela periódica dos elementos?

Nem pensar!

5. Marilyn Monroe sabia a tabuada dos 9?

Só até o 9 x 3.

...........

Concluindo:

O que Marilyn Monroe sabia fazer?

Marilyn Monroe sabia ser bela, esplendorosamente bela, e assim colocou o mundo a seus pés (presidentes também).

Conclusão:

Só mulheres inteligentíssimas e, consequentemente, poderosésimas conseguem algo assim.


Continua no próximo número.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O presente

Artigo de André Soares.

Passado, presente e futuro.
Das três dimensões do tempo, aquela em que efetivamente vivemos é o presente.
Nunca viveremos no passado, nem no futuro.
Mesmo se nos teletransportássemos no tempo, aquilo que estaríamos vivendo seria, exatamente, o momento presente.
Portanto, estamos eternamente aprisionados ao presente.
Todavia, se o passado e o futuro existem, mas são inalcançáveis para nós; o mais perturbador é saber que o presente, em que achamos que vivemos, simplesmente não existe.
Nunca existiu.
Nunca existirá.
Onde está presente?
Quem souber, que o determine!
Impossível!
Quer tentar?
Então responda – “Que horas são?”
E ainda riem do “português” que responde: “...tantas horas, tantos minutos, e 22 segundos, 23 segundos, 24 segundos.....”.
Brincadeiras à parte, o “português” está certo.
Na verdade, as dimensões do tempo são apenas duas, pois o tempo salta do passado para o futuro.
Não há o presente, como intermediário.
Assim, se é impossível vivermos no passado, ou no futuro; e se o presente em que achamos que vivemos de fato não existe – onde estamos?
Em termos práticos, isto pode parecer completamente irrelevante; mas aqueles que tiverem a coragem de avançar a partir daqui terão que enfrentar a inquietação de não conseguir provar a própria existência, pois o presente, a realidade e a própria vida não passam de meras sensações, tão “irreais” como os nossos sonhos.

Sabedoria e verdade

Artigo de André Soares - 18/06/2010

“Qual a atitude de um sábio em relação à verdade?”
Submissão? Publicidade? Transparência? Difusão? Compartilhamento? Doutrinação? Adoração?...
Nenhuma delas.
A postura de um sábio em relação à verdade é o silêncio.
“Por que os sábios são assim?”
Porque a condição de ser sábio é ter sabedoria. E ter sabedoria é conhecer a verdade. E quem alcança a verdade não a manifesta; pois, em relação à verdade, a melhor atitude é o silêncio – e os sábios, evidentemente, sabem disso.
Muito provavelmente, você discordará. Todavia, se ousar prosseguir, pensará diferentemente, ao final.
Tratar de sabedoria é tratar da verdade.
Portanto, a primeira pergunta a ser respondida é:
“O que é a verdade?”
Aquele que a responder deverá responder a seguinte:
“A verdade existe?”
Se você não conseguir respondê-las, siga, então, uma importante sugestão:
Pergunte-as a todas as personalidades consagradas como “sábios”, que assim se apresentam, ou lhe são apresentadas como tal, ao longo dos tempos, e veja se elas conseguem respondê-las. Apenas uma ressalva, cuidado para não ser enganado!
Enquanto você busca as respostas para as perguntas anteriores, poderia também tentar esclarecer uma questão, aparentemente simples.
Se a verdade existe, certamente é o conhecimento mais importante, mais disputado e, evidentemente, o mais valioso de todos.
Por que motivo, então, a pessoa que possuísse o conhecimento da verdade e, conseqüentemente, o imenso poder dessa sabedoria, a compartilharia? Ainda mais com toda a humanidade?
Por altruísmo?
Registre-se aqui, duas citações que merecem a sua profunda reflexão.
A primeira delas é de um renomado brasileiro e visionário contemporâneo, chamado Roberto Campos, que foi um dos políticos mais brilhantes do nosso país.
Ele dizia que, de todos os “pecados” da política, havia apenas um que ele era reincidente em cometer: “Dizer a verdade, antes do tempo.”
A outra citação é de um sábio: ao insistirem para que ele rompesse o silêncio e dissesse a verdade ele respondeu, apenas:
“Por que me pedes para dizer aquilo que não queres ouvir?”
Por mais incômodo que possa ser, a esmagadora maioria das personalidades consagradas, ao longo dos tempos, como sábios, não o são. Não se trata de desqualificar as grandes personalidades da história que são consideradas “sábias”. Pessoas consagradas como tal, certamente, possuem valorosos atributos, destacam-se por sua expertise em diversas competências e, indubitavelmente, são excepcionalmente inteligentes. Só não são sábios.
Por que?
Porque sábios conhecem a verdade e, justamente por conhecê-la, sábios não são consagrados, sábios não são famosos, sábios não se apresentam como tal, sábios não professam ideologias, sábios não lideram pessoas, e sábios não vendem sonhos.

A "quarta onda"

Artigo de André Soares - 26/05/2010.
Alvin Toffler é um renomado futurista norte-americano que reviu a história sob nova ótica na sua memorável obra intitulada “A terceira onda” (The Third Wave). Nela, o autor demonstra que o desenvolvimento da humanidade foi fortemente determinado por três fatos que considerou os mais significativos da história e que denominou de “ondas”. A primeira delas foi a revolução agrícola há cerca de dez mil anos, a segunda foi a revolução industrial há 300 anos, e “a terceira onda” é a atual era da informação e do conhecimento em que vivemos. Hoje, no auge da eclosão da “terceira onda”, já se anuncia o advento da “quarta onda”. Todavia, contrariamente às “ondas” anteriores que ensejaram o crescimento e o desenvolvimento das civilizações, “a quarta onda” constitui um verdadeiro “tsunami” de destruição. Trata-se da “onda do espírito”.

Se ao longo da história a humanidade experimentou um desenvolvimento econômico exponencial extraordinário, conforme muito bem diagnosticou Alvin Toffler; atualmente as pessoas nunca estiveram tão vulneráveis e perdidas espiritualmente. Estresse, ansiedade, fobias, bipolaridade, depressão, assédio moral, “bullying”, síndrome do pânico, dentre outros, fazem parte do inevitável pacote de problemas psicológicos da vida moderna; e que levaram a diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Gro Harlem Brundtland, no ano de 2000, a qualificar a situação das enfermidades e transtornos mentais como "a crise do século XXI". Em termos práticos, significa dizer que se hoje ainda há quem não tenha sido acometido por pelo menos alguma dessas doenças, no futuro próximo certamente será.

Prova disso são as demandas sociais crescentes pelos conteúdos de auto-ajuda, os recordes de lucratividade das editoras e livrarias na vendagem desses livros, a constatação tácita de que os consultórios dos profissionais da psique nunca estiveram tão cheios, o enfraquecimento das religiões mais tradicionais pela perda de fiéis, o surgimento de novas crenças e seitas, o recrudescimento do fundamentalismo e do fanatismo religioso, e as estatísticas alarmantes dos gastos previdenciários com o tratamento de doenças mentais em todo o mundo.

A destruição da “onda do espírito” já é uma realidade na vida das pessoas, das famílias, das organizações e dos estados. Seus efeitos comprometem a saúde dos indivíduos e seus custos crescentes inviabilizarão gradativamente a eficiência e o próprio funcionamento organizacional. Assim, avizinha-se o inexorável cenário de crises de natureza psicossocial, com conseqüentes prejuízos financeiros, econômicos e políticos para as sociedades, que já se fazem sentir. Entretanto, como sempre acontece ante a uma tragédia anunciada como esta, a incredulidade, a indolência, e a irresponsabilidade generalizadas, conduzindo à inação, contribuem para o agravamento de suas conseqüências.

“O que fazer?”

Pelas gerações atuais, muito pouco, pois força espiritual não se compra nas livrarias, não se adquire nas igrejas e templos, e não se recupera nos consultórios. Nesse contexto, as gerações futuras já nascerão comprometidas porquanto não escaparão da má influência e do triste legado que herdarão.

A boa notícia é que, como historicamente acontece, as grandes tragédias suscitam os melhores auspícios aos que, antevendo o futuro, são os mais inteligentes, os mais fortes, e os espiritualmente mais preparados.

A arte da guerra

Artigo de André Soares - 10/04/2010.
O prêmio Nobel da Paz de 2009 foi concedido a Barack Obama, presidente dos Estados Unidos da América, país que é a maior potência bélica do planeta, com bases militares instaladas em todo o mundo, patrocinador histórico de vários conflitos armados; e protagonista, dentre outras, das guerras no Iraque e no Afeganistão, ambas em curso. Muitos analistas consideravam ser essa premiação uma elaborada estratégia política com fins pacifistas, empreendida visando a sensibilizar o homem mais poderoso do mundo e a nação-potência sob seu comando, no sentido de que esse magnânimo reconhecimento internacional conduzisse-os a uma política externa menos agressiva. Entretanto, contrariamente à essa expectativa, o que se viu na cerimônia de entrega dessa distinta homenagem do comitê do Nobel, perante as maiores autoridades mundiais presentes ao evento, foi o presidente americano Barack Obama discursar uma magnífica exaltação à “arte da guerra”.

“O objetivo da guerra é a paz!” Estas foram as palavras de Sun Tzu, há mais de 2000 anos, que o presidente Barack Obama “ressuscitou” ao mundo. Todavia, se a humanidade for evocar a sabedoria e a grandeza daqueles que, a exemplo de Sun Tzu, conseguiram demonstrar que a guerra pode ser justa, ética e nobre, então é no Brasil que encontrarão inigualável exemplo de como se “combate” a “arte da guerra”.

O glorioso Exército Brasileiro tem como patrono Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, pois ninguém melhor que este soldado ensinou aos brasileiros e ao mundo que a “arte da guerra” se faz com - combate e diplomacia. Não por acaso, que da extensa lista de títulos e honrarias com as quais foi agraciado, a que o notabilizou pela excelência e grandiosidade como grande comandante militar foi “O Pacificador”, porque Caxias personificou como ninguém as sábias palavras de Sun Tzu.

A guerra não deve ser entendida como uma “maldição dos militares”, pois guerras são deflagradas por políticos e não por soldados; conquanto sejam estes os que pagarão com o sangue e as próprias vidas as conseqüências dessa decisão. Este é o “grito de guerra” que os militares brasileiros da Força Terrestre, entoam em uníssono nos versos da “canção de Exército”, ao clamarem: “A paz, queremos com fervor! A guerra só nos causa dor! Porém, se a Pátria amada for um dia ultrajada, lutaremos sem temor”. Assim, se as guerras são lutas entre nações e não disputas entre exércitos, a “arte da guerra” é inerente à cidadania, e não uma prerrogativa militar.

O combate e a diplomacia são os instrumentos da “arte da guerra”, cujo exemplo está na biografia de Caxias, e ambos consistem em vencer pelo emprego da força. O combate é a força da dissuasão; e a diplomacia, a força da persuasão. Porém, a “arte da guerra” quando dissociada de qualquer um deles degenera-se perigosamente.

O Combate sem a diplomacia é a luta do holocausto, dos massacres e dos extermínios de vidas humanas, protagonizado por exércitos entregues aos loucos, sádicos e mercenários. A diplomacia sem o combate é a luta da covardia, é entregar-se à derrota.

A “arte da guerra” é a arte de viver, e é também o divisor de águas entre vencedores e vencidos, pois assim como demonstrou Caxias – “O Pacificador”, dominá-la é tornar-se invencível. Por isso, a escolha do vencedor do prêmio Nobel da Paz de 2009 foi coerente e justa porque “aquele que não estiver disposto a lutar pela sua paz, não a merece."

Os Serviços de Inteligência e as Operações Clandestinas

Artigo de André Soares, publicado no jornal Estado de Minas – 15/11/08, íntegra do artigo "Luzes para a Inteligência".
As ações realizadas pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) em sua participação na operação da Polícia Federal batizada de Satiagraha, as quais foram denominadas pelo presidente da chamada CPI dos Grampos de “ações paralegais”, e que levaram o Presidente da República a ordenar o afastamento do Diretor-Geral da ABIN e de vários diretores de suas funções, bem como a determinar a sua apuração rigorosa; impõem a necessidade de revelar uma realidade dos serviços de inteligência que o imaginário coletivo supõe existir apenas em livros e filmes de ficção de espionagem - as operações clandestinas. Pode-se definir operações clandestinas como sendo ações criminosas, patrocinadas por serviços de inteligência nacionais, em benefício de pessoas ou grupos, à revelia e em detrimento do ordenamento jurídico vigente. Constituem grave atentado à democracia, ameaça à sociedade, e sempre resultam em sérias, e não raras vezes trágicas, conseqüências para o Estado Democrático de Direito.

Tradicionalmente houve e continua havendo, no país, um desconhecimento da sociedade, dos dirigentes e dos governantes sobre os serviços de inteligência, isso em razão do obscurantismo de suas ações, bem como da ineficiência dos órgãos responsáveis pelo controle dessa atividade.

Este cenário, aliado às irregularidades identificadas pela CPI do Grampo e pelas investigações da Polícia Federal evidenciam a existência de um ambiente favorável às ações ilegais e suscitam questionamentos sobre sua ocorrência.

Responder a essas perguntas exige o conhecimento da realidade intestina dos serviços de inteligência, bem como do das operações clandestinas, que são concebidas para não serem descobertas, pois, caso contrário, “desacontecem”.

Quando falham os pilares da tríade da Inteligência de Estado - o sigilo, a legalidade e a ética -, a atividade passa a representar elevado potencial de risco, e subverte a sua função de instrumento de defesa do Estado, da sociedade e dos valores em que se funda.

No Brasil, já temos leis que regulamentam o emprego do sigilo e que constituem instrumentos adequados para o exercício da Inteligência de Estado, a despeito da necessidade de aperfeiçoamento desses instrumentos.

A Constituição Federal de 1988 impõe a publicidade aos atos da administração pública, exceção feita somente aos casos que representem risco à segurança da sociedade e do Estado. Assim, a publicidade dos atos estatais é a regra, do que decorre o direito de acesso à informação, de acesso ao poder judiciário, para a correção de atos ilegais que firam direitos individuais ou coletivos, bem como a obrigação dos órgãos responsáveis pelo controle interno e externo da inteligência de zelar pela observância da publicidade e pelo uso restrito do sigilo, circunscrito às necessidades reais de defesa externa e da sociedade.

Temos legislação bastante pormenorizada estabelecendo, por exemplo, as situações em que caberá o emprego do sigilo, os limites de sua aplicação, as autoridades investidas dessa atribuição, sobre os graus de sigilo e seus prazos-limite. Portanto, tão-somente o cumprimento da legislação em vigor constitui excelente instrumento de combate às ações clandestinas.

Todavia, a principal forma por meio da qual os serviços de inteligência transitam para a ilegalidade se dá pela manipulação das operações de inteligência, que constituem o que há de mais sigiloso nos serviços secretos. Estas possuem alto grau de compartimentação e sigilo, empregam verba sigilosa e técnicas operacionais, além de se desenvolverem em condições especiais que, se desvirtuadas, proporcionam acobertamento a todo tipo de ilicitude.

No Brasil, o conhecimento da genealogia das operações de inteligência e de sua propedêutica está restrito exclusivamente à cúpula dos serviços de inteligência. Configura-se, assim, indevida e perigosa independência dessas organizações, para atuação em seara de grande sensibilidade aos interesses nacionais.

Sobre o tema, vale destacar importantes fundamentos da doutrina de inteligência, praticados pelos melhores serviços de inteligência de países mais desenvolvidos, que constituem valioso saber relativo às melhores práticas dessa atividade.

Consagra a doutrina que o emprego de operações de inteligência é de atribuição e competência exclusiva, pessoal e indelegável do dirigente máximo do serviço de inteligência, previsto em legislação e normas regimentais institucionais sigilosas. A autorização para sua realização, alterações e encerramento se dá mediante ordem expressa e direta deste dirigente, em documentos específicos, com aposição de sua assinatura pessoal e das demais autoridades responsáveis, segundo rito procedimental administrativo sigiloso.

Em que pese esta doutrina estar prevista em alguns serviços de inteligência nacionais, como a ABIN, o que se verifica de fato é sua pouca efetividade. Assim, uma vez “abertas”, não é incomum operações de inteligência terem seu propósito desvirtuado e serem conduzidas para o atendimento de interesses adversos, utilizando-se de seus recursos, pessoal, material e da proteção legal do Estado. Estes desvios, por vezes, se dão com a aquiescência da cúpula do próprio serviço de inteligência e, em outras, em total desconhecimento do dirigente máximo que a autorizou.

Destaca-se que a referida doutrina de inteligência preconiza e normatiza, detalhadamente, o registro documental de todas as ações realizadas nas operações de inteligência, bem como seu histórico. Assim - ao contrário de opiniões equivocadas, segundo as quais operações sigilosas são incompatíveis com prestação de contas – os gastos com verba sigilosa, o emprego de pessoal e material, bem como todas as ações operacionais realizadas são pormenorizadamente documentados e classificados com alto grau de sigilo.

A despeito da elevada salvaguarda dessas informações, a legislação brasileira prescreve situações e condições de acesso integral a elas, a qualquer tempo, para o cumprimento de suas atribuições, especialmente aos órgãos responsáveis pelo controle da atividade de inteligência como a Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional (CCAI), o Poder Judiciário, o Ministério Público Federal, os Ministérios Públicos Estaduais, o Tribunal de Contas da União, os Tribunais de Contas dos Estados, o Poder Legislativo, a Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Poder Executivo, e a Secretaria de Controle Interno da Presidência da República (CISET). Portanto, o cumprimento da legislação em vigor constitui excelente instrumento de combate às ações clandestinas, por possibilitar às instituições e órgãos responsáveis condições plenas de fiscalização e auditoria sobre todas as ações sigilosas dos serviços de inteligência nacionais.

Cumpre mencionar que, dentre às instituições e órgãos responsáveis pelo controle da atividade de inteligência no Brasil, cabe à Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional (CCAI) a maior responsabilidade por esta ação, em razão das atribuições e poderes especiais de que dispõe. A CCAI constitui a mais alta instância nacional de inteligência e é a sua atuação exemplar que possibilitará a efetiva apuração e devida responsabilização por eventuais desvios cometidos, especialmente no caso de ações clandestinas. Desempenha, portanto, papel primordial e determinante na condução da Política Nacional de Inteligência no país, a exemplo das estruturas congêneres que, no plano internacional, têm protagonizado os maiores aperfeiçoamentos e avanços da Inteligência de Estado de países democráticos, particularmente nas situações de crise.

Entretanto, nenhuma legislação se faz cumprir por si mesma. Essa é uma responsabilidade das pessoas, da sociedade, das instituições e dos governos. A força motivadora dessa ação representa o verdadeiro significado e exercício da cidadania que, entretanto, não é suficiente para coibir completamente ações deletérias que acometem os serviços de inteligência, particularmente as ações clandestinas. Estas conseguem, ainda, escapar aos instrumentos e controles objetivos do estado. Todavia, não sobrevivem ao derradeiro pilar da tríade da inteligência – a ética.

A ética no exercício da Inteligência de Estado é determinante na concepção, condução e êxito dos serviços de inteligência. Marginalizá-la, ao contrário, é a certeza de fracasso da atividade de inteligência e dos fins a que se destina, como a história vem demonstrando.

A despeito do discurso oficial das instituições de inteligência no Brasil em favor da ética, o enfrentamento deste tema causa profundo desconforto aos serviços de inteligência, que abordam esta questão mediante estratégias dissimuladoras em relação às suas práticas, nas quais, como se verifica, a ética é perigosamente negligenciada.

O âmago dessa questão demonstra que a inexistência de um código de ética próprio e efetivamente adotado nos serviços de inteligência revela a falta de profissionalismo e de sólida postura ética de seus dirigentes, a existência de dilemas e conflitos internos, e a hegemonia de uma mentalidade corporativista contrária ao discurso oficial. Essa conjuntura é agravada pelo diletantismo com que a atividade de inteligência é exercida e pelo despreparo de muitos de seus recursos humanos, incluindo-se dirigentes e operadores de inteligência.

Consolida-se, assim, o domínio de uma “cultura” marginal de uma “comunidade de inteligência”, cujo resultado final é a realização de operações de inteligência no país eivadas de irregularidades, impropriedades, vícios e oficiosas.

O alcance das ações operacionais é ilimitado e envolve a participação de pessoal não orgânico. Forma-se, portanto, poderoso “exército invisível” de fontes humanas, constituído de colaboradores, cooptados, informantes, recrutados, infiltrados, agentes especiais e agentes duplos que, atuando sob as ordens e patrocínio dos serviços secretos, realizam trabalhos cuja grande sensibilidade e risco representam significativo comprometimento para o Estado, inclusive em nível internacional. “Comandar” este “exército invisível” é tarefa difícil, sensível e altamente sigilosa que deve ser afeta somente aos profissionais mais competentes, experientes, equilibrados, responsáveis e éticos. Todavia, invariavelmente, a inépcia de muitos dirigentes e operadores de inteligência conduz a erros operacionais sérios com conseqüências graves, os quais, indevidamente protegidos pelo sigilo e pela compartimentação, acabam por “desacontecer”.

A prevalência deste cenário de deficiências e vulnerabilidades de ordem ética, aliado aos grandes interesses envolvidos nas operações sigilosas acaba por proporcionar o ambiente favorável à pior ameaça aos serviços de inteligência – a corrupção. Configura-se, então, a falência do “sistema imunológico” do Estado, que se torna efetivamente vulnerável a toda espécie de ameaças adversas, especialmente aos serviços de inteligência estrangeiros.

Desnecessário mencionar que o Brasil é alvo dos serviços secretos de vários países, em razão de sua importância geopolítica, do grande valor de seus recursos naturais e de suas potencialidades e expertise em vários campos do poder. Combatê-los é tarefa de alguns serviços de inteligência nacionais e missão exclusiva da ABIN, constituindo a própria razão de sua existência. Entretanto, no plano internacional, os alvos prioritários dos serviços de inteligência são os seus congêneres dos países de interesse e, no Brasil, os controles de contra-inteligência adotados não impedem que serviços de inteligência estrangeiros atuem livremente no país. Nesse mister, é significativa a atuação em território nacional, particularmente da CIA (EUA), MOSSAD (Israel), BND (Alemanha), DGSE (França) e o serviço secreto chinês, patrocinando ações de significativo prejuízo ao Estado, que a sociedade brasileira desconhece.

Cumpre lembrar o destino dos profissionais de inteligência éticos, homens e mulheres, que lutaram pela tríade da inteligência de Estado, no Brasil. Muitos foram perseguidos e derrotados. Alguns tiveram suas vidas destruídas e caíram em desgraça. Outros, ainda persistem.

Diante da grave crise de inteligência vivenciada pela atual conjuntura nacional, é fundamental ao Estado e à sociedade conhecer sua verdadeira dimensão, pois o povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la. Se operações clandestinas “desaconteceram”, ou estão por “desacontecer” no Brasil, certamente profissionais de inteligência éticos combateram e estão combatendo “o sorrateiro”, porque têm a coragem moral e ética de fazê-lo, mesmo quando o próprio Estado não o faz.

A solução para os graves problemas da Inteligência de Estado no Brasil foi, há muito, proferida pelo Coronel Walther Nicolai (1873/1934 - Chefe do Serviço de Inteligência do Chanceler Bismarck), em sua máxima inexorável:

“A Inteligência é um apanágio dos nobres. Confiada a outros, desmorona”.

Luzes para a Inteligência

Artigo de André Soares, publicado no jornal Estado de Minas – 15/11/08.
As ações realizadas pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) em sua participação na operação Satiagraha da Polícia Federal, as quais foram denominadas pelo presidente da CPI dos Grampos de “ações paralegais”, que levaram o Presidente da República a ordenar o afastamento do Diretor-Geral da ABIN e de vários diretores de suas funções, bem como a determinar a sua apuração rigorosa impõem a necessidade de revelar uma realidade dos serviços de inteligência que o imaginário coletivo supõe existir apenas em livros e filmes de ficção de espionagem - as operações clandestinas.

Operações clandestinas são ações criminosas, patrocinadas por serviços de inteligência nacionais, em benefício de pessoas ou grupos, à revelia e em detrimento do ordenamento jurídico vigente e são concebidas para não serem descobertas, pois, caso contrário, “desacontecem”.Quando falham os pilares da tríade da Inteligência de Estado - o sigilo, a legalidade e a ética -, o exercício dessa atividade passa a representar elevado potencial de risco.

No Brasil, tão-somente o cumprimento da legislação em vigor constitui excelente instrumento de combate às ações clandestinas, por possibilitar às instituições e órgãos responsáveis condições plenas de fiscalização e auditoria sobre todas as ações sigilosas dos serviços de inteligência nacionais. Todavia, a principal forma por meio da qual os serviços de inteligência transitam para a ilegalidade se dá pela manipulação das operações de inteligência, que constituem o que há de mais sigiloso nos serviços secretos.

Consagra a doutrina que o emprego de operações de inteligência é de atribuição e competência exclusiva, pessoal e indelegável do dirigente máximo do serviço de inteligência, mediante sua ordem expressa e com a aposição de sua assinatura pessoal e das demais autoridades responsáveis, em documentos específicos. Assim - ao contrário de opiniões equivocadas, segundo as quais operações sigilosas são incompatíveis com prestação de contas – os gastos com verba sigilosa, o emprego de pessoal e material, bem como todas as ações operacionais realizadas são pormenorizadamente documentados e classificados.

Em que pese esta doutrina estar prevista em alguns serviços de inteligência nacionais, como a ABIN, o que se verifica de fato é sua pouca efetividade. Importante destacar que a despeito da elevada salvaguarda dessas informações, a legislação brasileira prescreve situações e condições de acesso integral a elas, a qualquer tempo, especialmente aos órgãos responsáveis pelo controle da atividade de inteligência.

Cumpre mencionar que, dentre às instituições e órgãos responsáveis por esse controle, cabe à Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional (CCAI) a maior responsabilidade por esta ação. A CCAI constitui a mais alta instância nacional de inteligência e é a sua atuação exemplar que possibilitará a efetiva apuração e devida responsabilização por eventuais desvios cometidos, especialmente no caso de ações clandestinas.

Entretanto, estas conseguem, ainda, escapar aos instrumentos e controles objetivos do estado. Todavia, não sobrevivem ao derradeiro pilar da tríade da inteligência – a ética.

No Brasil, o âmago dessa questão demonstra que a inexistência de um código de ética próprio e efetivamente adotado nos serviços de inteligência revela a falta de profissionalismo e de sólida postura ética de seus dirigentes, a existência de dilemas e conflitos internos, e a hegemonia de uma mentalidade corporativista contrária ao discurso oficial.

Essa conjuntura é agravada pelo diletantismo com que a Inteligência de Estado é exercida e pelo despreparo de muitos de seus recursos humanos, incluindo-se dirigentes e operadores de inteligência, cuja inépcia conduz a erros operacionais sérios, cujo resultado final é a realização de operações de inteligência no país eivadas de irregularidades, impropriedades, vícios e oficiosas.

A prevalência deste cenário, aliado aos grandes interesses envolvidos nas operações sigilosas, acaba por proporcionar o ambiente favorável à pior ameaça aos serviços de inteligência – a corrupção. Configura-se, então, a falência do “sistema imunológico” do Estado, que se torna efetivamente vulnerável a toda espécie de ameaças adversas, especialmente aos serviços de inteligência estrangeiros.

Desnecessário mencionar que o Brasil é alvo dos serviços secretos de vários países. Combatê-los é tarefa de alguns serviços de inteligência nacionais e missão exclusiva da ABIN, constituindo a própria razão de sua existência. Entretanto, os controles de contra-inteligência adotados não impedem que serviços de inteligência estrangeiros atuem livremente no país. Nesse mister, é significativa a atuação em território nacional, particularmente da CIA (EUA), MOSSAD (Israel), BND (Alemanha), DGSE (França) e do serviço secreto chinês, patrocinando ações deletérias ao Estado, que a sociedade brasileira desconhece.

Diante da grave crise de inteligência vivenciada pela atual conjuntura nacional, é fundamental ao Estado e à sociedade conhecer sua verdadeira dimensão, pois o povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la. Se operações clandestinas “desaconteceram”, ou estão por “desacontecer” no Brasil, certamente profissionais de inteligência éticos combateram e estão combatendo “o sorrateiro”, porque têm a coragem moral e ética de fazê-lo, mesmo quando o próprio Estado não o faz.

A solução para os graves problemas da Inteligência de Estado no Brasil foi, há muito, proferida pelo Coronel Walther Nicolai (1873/1934 - Chefe do Serviço de Inteligência do Chanceler Bismarck), em sua máxima inexorável:

“A Inteligência é um apanágio dos nobres. Confiada a outros, desmorona”.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Inteligência em crise

André Soares - Autor do livro “Operações de inteligência - Aspectos do emprego das operações sigilosas no Estado democrático de direito” e Diretor-presidente de Inteligência Operacional

O Brasil está vivendo a maior e pior crise institucional de inteligência de sua história. Todavia, diferentemente das potências mundiais que têm corrigido e aperfeiçoado suas estruturas de inteligência às novas demandas da atualidade, a inação dos nossos governantes conduz ao recrudescimento e agravamento dessa conjuntura nacional, cujos sérios prejuízos ao país a sociedade brasileira desconhece.

A melhor justificativa para a existência de serviços de inteligência nacionais é a de constituírem o “sistema imunológico” do estado, sem o qual toda nação perece. Assim, atuando sigilosamente, devem ser os guardiões da pátria, identificando e combatendo ameaças ao estado e à sociedade, à semelhança das células de defesa do nosso organismo. Porém, se a degeneração celular causa o desenvolvimento cancerígeno nos seres humanos, a degeneração institucional compromete perigosamente os estados constituídos, principalmente se alcançar o seu “sistema imunológico” - pois, quem nos protegerá contra serviços de inteligência “cancerígenos”?

A despeito da existência de estruturas de inteligência nacionais eficientes, dotadas de recursos humanos de alto nível profissional, tratam-se de meras ilhas de excelência e exceções à regra, ante à preocupante realidade nacional.

“O que acontece nos nossos serviços de inteligência?”

Ninguém sabe. Nem os governantes do país, nem os próprios dirigentes dessas organizações. E o motivo é simples: não há controle, pois o estado brasileiro não consegue vencer a blindagem da sua maior “caixa-preta” que são os seus próprios serviços de inteligência, cuja publicidade de suas ações sigilosas permanece inacessível, em flagrante e arrogante desrespeito ao texto constitucional e ao estado democrático de direito, vigentes.

Esse estado de coisas nos tornou uma nação insegura, vivendo aos sobressaltos e completamente à mercê de graves ameaças; como, por exemplo, os ataques terroristas da organização criminosa PCC, que dominou e atemorizou completamente todo o estado de São Paulo, em 2006; e o grampo ilegal do qual foram vítimas o senador Demóstenes Torres e o então Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, em 2008, que atentou contra as instâncias máximas dos poderes da República.

Nesses casos, não bastasse a irresponsável ineficiência dos nossos serviços de inteligência, houve a flagrante e tácita constatação da degeneração institucional do órgão máximo do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) - a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). Tudo isso só foi descoberto graças à eficiência da Polícia Federal e da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Interceptações Telefônicas, que desvelaram ao país um festival de clandestinidades, protagonizadas e acobertadas pela própria ABIN, na Operação “Satiagraha”, revelando a atual crise nacional de inteligência aos olhos da sociedade.

Pode-se avaliar a gravidade do momento em que vivemos pela atitude do próprio presidente Lula, que nem nas piores crises dos seus dois mandatos exonerou qualquer de seus principais assessores. Entretanto, nosso presidente não hesitou em afastar de imediato e definitivamente, antes mesmo do início das investigações, o Diretor-Geral e toda a cúpula da ABIN; determinando também a urgente elaboração da Política Nacional de Inteligência; pois, pasme a sociedade brasileira, não temos uma.

Todavia, apesar do transcurso dessa grave conjuntura, efetivamente, nada foi feito. A implantação da Política Nacional de Inteligência, determinada pessoalmente pelo Presidente da República, não ultrapassou a elaboração de um tratado de boas intenções; a Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional (CCAI), que é a instância máxima do país, sequer conhece todos os serviços de inteligência nacionais existentes; os nossos diplomas legais que regulam a atividade de inteligência e suas ações sigilosas estão em nível embrionário; o mais grave escândalo de inteligência, cujos culpados nunca foram apontados, permanece impune; nossas autoridades governamentais foram inexplicavelmente acometidas de amnésia sobre fatos dessa gravidade; e a ABIN, que desde a sua criação é reincidente em diletantismos dessa natureza, continua uma “caixa preta” invencível, onerosa e ineficiente, cuja fragilizada “saúde” institucional vulnerabiliza o estado brasileiro a vitimar-se de graves “doenças”.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A arte de votar

André Soares - Autor do livro "Operações de inteligência - Aspectos do emprego das operações sigilosas no Estado democrático de direito"

Os sucessivos escândalos de corrupção que caracterizam a nossa história política republicana são a melhor demonstração de que expressiva parcela dos eleitores brasileiros é, lamentavelmente, reincidente no erro de inconscientemente confiar seu voto aos indignos, corruptos e criminosos. Este ano, o Brasil caminha para mais um pleito presidencial e, se a sociedade pretende vencer o desafio de escolher os melhores, precisa aprender a conhecer verdadeiramente as pessoas. “Decifrar” pessoas é conhecer o ser humano cada vez mais e plenamente, algo a que a humanidade tem se empenhado incansavelmente, pelo incomensurável valor que esses conhecimentos representam. Se na atual conjuntura o desafio de “decifrar” pessoas está cada vez mais difícil, destacam-se dois princípios fundamentais que retratam com grande objetividade e fidedignidade um dos principais elementos determinantes do comportamento humano – a personalidade.

“Quer decifrar pessoas?” Então, conheça as suas personalidades. “Quer conhecer a personalidade de alguém?” Então, conheça o seu passado, pois “as pessoas são escravas do próprio passado”. O passado é o “retrato” de cada pessoa e a amostra fiel do “DNA” da sua personalidade, do qual não se pode fugir. Mas conheça-o o mais integralmente possível, atentando para o fato de que, como as pessoas escondem o passado que não lhes agrada, é este lado obscuro o que há de mais revelador sobre as suas personalidades. Merece especial atenção saber que ainda pior que aquele que tem um passado a esconder é aquele que o renega. Estes, em geral, afirmam terem se redimido dos erros anteriormente cometidos e se transformado em novas pessoas, a partir de então. Mentira. Nada mais falso e traiçoeiro. Reconstruir a vida a partir dos próprios erros só é possível, verdadeiro e autêntico assumindo-os e “carregando a cruz” do próprio passado. Querer apagá-lo é renegar-se a si próprio e só faz evidenciar aqueles que na verdade têm vergonha de si mesmos, pois sabem o que realmente são e, indubitavelmente, continuarão a ser.

“Quer conhecer a personalidade de alguém?” Então, conheça o seu exemplo, pois nada é mais verdadeiro sobre uma pessoa que as suas ações e inações. Se, por um lado, também podemos identificar indícios da personalidade humana nas manifestações do comportamento, por meio das palavras, dos gestos, dos desejos, das intenções, das ideias, dos sonhos etc., por outro lado, são as suas ações e inações o que há de mais crível e cabal sobre alguém. O que uma pessoa faz é exatamente o que ela é, e o verdadeiro ser de uma pessoa se revela integralmente no que ela faz, ou deixa de fazer. Nada é tão simples e ao mesmo tempo tão difícil e doloroso de aceitar como esse fato, pois as pessoas preferem se iludir no erro de imaginar que a personalidade do ser humano pode transcender às suas próprias ações. Ledo engano.

Portanto, aos eleitores, muito mais importante do que conhecer programas de governo é decifrar a personalidade e o caráter dos candidatos aos cargos públicos deste país. A verdade sobre eles não se encontrará nos discursos políticos, nas promessas de campanha, nos debates televisivos, muito menos na propaganda eleitoral. Todavia, a realidade da qual os pretendentes a serem nossos governantes não podem fugir é a de seus próprios passados e exemplos pessoais, que devem ser desvelados por toda a sociedade brasileira.

A arte de votar é a arte de “decifrar” pessoas, que requer a coragem de perscrutar a verdade e aceitá-la, pois, para conhecer verdadeiramente o outro, é necessário, antes de tudo, conhecer verdadeiramente a si próprio. Portanto, investigando passado e o exemplo, “decifra-se” toda e qualquer pessoa. Significa dizer também que, sejam lá quais forem o seu passado e o seu exemplo, é exatamente isso o que você é.

Inteligência e Interesses

Por Hércules Rodrigues de Oliveira*

"America is under attack!", sussurava ao pé do ouvido do presidente norte-americano George W. Bush, Andrew Card, chefe de sua Comitiva que o acompanhava em visita a uma escola em Sarasota, no Estado da Flórida, tão logo se deu o segundo impacto às Torres Gêmeas. Era manhã de 11 de setembro de 2001.

A partir de então outra página começava a ser escrita na história global. Enquanto países passaram a adotar rígidas medidas de segurança internas, outros integraram a coalizão (Força Armada), liderada pelos Estados Unidos, na guerra contra o terror. A opinião pública estadunidense questionou a Agência Central de Inteligência (CIA), uma das mais eficientes do mundo, de não ter antecipado o ataque que atingiu um dos símbolos da economia norte-americana.

O episódio além de consternar todo o planeta, elevou o índice de popularidade interna de George W. Bush, saindo de 50% de aprovação para 90%, quando se torna líder da guerra ao terrorismo internacional, em específico contra o grupo fundamentalista muçulmano Al Qaeda (a base em árabe) comandada pelo sunita Osama Bin Laden, bem como promoveu a indústria bélica norte-americana valorizando suas ações, grupo este que financiou a sua campanha rumo a Presidência dos Estados Unidos da América (EUA).

Em 27 de novembro de 2002 foi instalada a Comissão Nacional sobre os Ataques Terroristas nos Estados Unidos (National Commission on Terrorist Attacks upon the United States – 9/11 Commission), com o objetivo de desvendar as circunstâncias do ataque e quais respostas deveriam dela advir, formulando recomendações para prevenir outros. A Comissão apontou falha nos órgãos de Inteligência que precisavam ser reestruturados. Em 2004, o Congresso dos Estados Unidos aprova a Reforma da Inteligência e Terrorismo por intermédio da “Prevention Act”.

Como resultado é criado em 22 de abril de 2005, a Agência de Inteligência Nacional, com sede em Washington, capital, cujo diretor se torna o principal conselheiro do Presidente dos EUA para questões relacionadas com a Inteligência e a Segurança Nacional, pois o papel do diretor é o de supervisor e orientador da execução do Programa Nacional de Inteligência. Para o cargo recomendaram que fosse ocupado por oficial general da ativa ou da reserva das Forças Armadas americanas e que tivesse ao longo da carreira, adquirido experiência em atividades de Inteligência militar.

A Agência de Inteligência Nacional supervisiona dezesseis outras agências de Inteligência estadunidenses, responsáveis pela busca e coleta de dado de inteligência e pela luta contra o terrorismo, entre as quais a própria CIA – que deixou de ser o centro daquele sistema.

Coincidências a parte, o seu diretor atual, Almirante da reserva da Marinha Americana, Dennis Blair (é o terceiro a ocupar a função desde a criação da Agência) solicitou sua renúncia em 28 de maio de 2010, após 16 meses à frente dos trabalhos, deixando em sua gestão à ocorrência de tentativa de um atentado a bomba em um avião comercial em Detroit, no natal de 2009, causado por um nigeriano; a um atentado com vítimas, a uma base da CIA no Afeganistão; no atentado fracassado em Times Square, Nova York, cujo autor é um paquistanês e não menos importante a disputa de poder entre as agências de Inteligência, que não conseguem compartilhar conhecimentos. O presidente Barack Obama, concitou a reflexão os serviços de Inteligência do EUA pelas falhas cometidas na prevenção dos atentados nos últimos dois anos, dizendo que "as autoridades norte-americanas dispunham de informações suficientes para ter desmascarado o plano e prevenido a tentativa de terror a tempo. Mas nossos serviços secretos falharam em juntar todos os indícios", disse o presidente.

Não obstante a tudo isso de boa lembrança suscitar o Acordo Brasil – Irã – Turquia relativos à política iraniana de energia nuclear. Fato é que a posição norte-americana seja ela Democrata ou Republicana no que diz respeito ao Irã, implica alteração no espaço geopolítico mundial e pior, demonstra nova alternativa a contumaz ação armada (razão de ser da indústria bélica dos EUA) na resolução dos interesses norte americanos. Dos ideais da Revolução Francesa, talvez seja esta a vez da fraternidade levada a efeito pelos países integrantes do Movimento dos Não-Alinhados, que são contrários a quaisquer sanções contra o Irã. A saída do Diretor da Agência Nacional de Inteligência pode ser presságio do retorno dos “falcões negros” da era Bush.

*Hércules Rodrigues de Oliveira é Professor Universitário e Mestre em Administração. É também autor do livro "Breve história do conhecimento e de sua proteção - Aspectos da Inteligência e Propriedade Intelectual", Ed. FUNDAC, 2009.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Inteligência na guerra

Hércules Rodrigues de Oliveira -Professor universitário, mestre em administração

Aqueles que não aprendem com a história estão condenados a repeti-la. Em 25 de junho de 1950, começava a Guerra da Coreia, que terminou com o cessar-fogo em julho de 1953. De boa lembrança, o registro de que, em 1905, o Japão havia forçado a Coreia a assinar o Tratado de Eulsa, no que transformou a Coreia em um protetorado, sendo anexado ao país do Sol Nascente em 1910. A Coreia, até então uma nação não soberana, com o fim da Segunda Guerra Mundial, assistiu nas suas terras ao ocaso do Exército samurai. Estados Unidos e Rússia concordaram em aceitar a rendição do Japão e, com isso, estabeleceu-se o paralelo 38 Norte como marco da divisão para a capitulação japonesa.

Hoje, percebemos que a ideia se mostrou desastrosa, pois se dividiu o país em dois: ao norte, russos e chineses socialistas, contrapondo-se ideologicamente ao Sul, sob a guarda do capitalismo norte-americano e britânico. Com a saída das tropas estrangeiras do Sul, o Norte avança buscando a unificação das Coreias sob a égide comunista. O Ocidente (leia-se EUA), por intermédio da Organização das Nações Unidas (ONU), reage enviando tropas sob o comando do general Douglas MacArthur, que seguem vitoriosas em direção ao Rio Yalu, próximo à fronteira sino-coreana, vindo de encontro aos interesses expansionistas de Mao Tsé-tung,, bem como os de Moscou, seu aliado, que começam ali a perder geopoliticamente uma futura base de apoio para um possível ataque ao Japão. Diante de cenário tão improdutivo, a China, de olho também na unificação de Taiwan, apoiada pelo Kremlin, desce em socorro dos norte-coreanos, com expressiva vantagem numérica de seu Exército Popular de Libertação, que empurra as tropas da ONU de volta ao paralelo 38 Norte. O conflito se encerra com a assinatura do cessar-fogo somente quando assume o presidente Dwigth Eisenhower, que ameaçou detonar armas nucleares contra a China e a Coreia do Norte caso o conflito persistisse.

Passados 60 anos, o mundo assiste a nova tensão na Ásia, protagonizada pela Coreia do Norte, envolvendo os mesmos países do início do conflito em 1950: Coreias, EUA, China, Japão e Rússia. A guerra avizinha-se face a ataques a navios sul-coreanos supostamente advindos dos norte-coreanos e, como resposta, exercícios militares perto da zona desmilitarizada pela Coreia do Sul e constante presença naval, tanto norte-americana como sul-coreana no mar do Japão. Em questões como esta, imperiosa a presença da atividade de inteligência, basicamente no seu emprego como inteligência “clássica”, com fins militares, para antecipar as ações e reações dos atores envolvidos, em que a geografia passa a ser a chave de toda esta história.

Operadores de inteligência já identificaram no horizonte o que se conhece pelo “espectro dos conflitos”, pois a história se faz presente com os mesmos atores de 60 anos, que, apesar do término da Guerra Fria, continuam antagônicos em seus interesses geoestratégicos. Lembremos que China e Rússia buscam a multipolaridade para fazer frente à nova ordem mundial, conduzida pelo governo estadunidense. Esse espectro se apresenta por gradação diante de diferentes formas de emprego da força, que se iniciam desde ações não violentas, ameaças, por exemplo, ao emprego da força, seja demonstrando capacidade militar, lançando mísseis ou, de forma objetiva, destruindo unidades de fronteira do oponente, cujo ápice será inevitavelmente o disparo de artefato nuclear, caso os tenha.

Caminhamos para uma crise que deve ser tratada com cautela, para que não se percam de vista as reais questões políticas e os interesses de cada ator envolvido. Imprescindível a atuação da inteligência neste contexto para identificar a graduação do emprego ou da simples ameaça de emprego dos meios de força pelos Estados nacionais envolvidos no conflito. John Keegan mostra a importância permanente do papel da inteligência para o processamento e a manipulação dos conhecimentos, como se viu na Guerra do Iraque, em que os serviços de inteligência norte-americano e inglês afiançaram ao mundo a existência de armas de destruição em massa para justificar a invasão de um país soberano. O ex-presidente norte-americano George W. Bush, como fez em relação ao Iraque, também alcunhou a Coreia do Norte e o Irã como países integrantes do eixo do mal. O espectro do conflito já está sob estes dois governos. Caso o mundo não reaja, será apenas uma questão de tempo.

Fórum da Inteligência

Este é um espaço destinado ao debate e à manifestação democrática, livre, coerente e responsável de idéias sobre Inteligência.