segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O Ciúme

Artigo de André Soares - 10/11/2014


O ciúme é o oxigênio do amor. Ledo engano acreditar que o ciúme é um sentimento negativo, vil e destrutivo, considerado o grande vilão dos relacionamentos amorosos. É exatamente o oposto. Porque ao contrário de tudo de ruim que se imagina sobre o ciúme, ele na verdade é um sentimento nobre, poderoso, inerente e indissociável do próprio amor. Amor e ciúme são irmãos siameses. Nascem juntos e um não sobrevive sem o outro. Portanto, sem ciúme não existe amor.

Quem ama verdadeiramente sente ciúme, inexoravelmente. E a força e intensidade do amor podem ser mensuradas pela força e intensidade do respectivo ciúme, pois são diretamente proporcionais. Quanto mais se ama, mais ciúme se sente.

Mas, o que é o ciúme? Ciúme nada mais é do que o sentimento de desejo de posse do objeto amado. E, conforme mencionado, quanto mais forte for o amor maior será esse desejo de posse, fazendo com que se queira obter total atenção e exclusividade do objeto de amor. É por isso que pais têm ciúmes dos filhos, filhos têm ciúmes dos pais; namorados e cônjuges têm ciúmes de seus companheiros; as pessoas têm ciúmes dos seus melhores amigos(as), animais de estimação e até de objetos pessoais de valor afetivo.

Grande injustiça é atribuir ao ciúme a culpa pelas desavenças, brigas e inclusive tragédias nos relacionamentos amorosos, principalmente entre os casais. O culpado está nas pessoas de personalidade egocêntrica, fracas, imaturas, inseguras e despreparadas para o amor, que não conseguem lidar com o sentimento poderoso do ciúme, deixando-se dominar pelo egoísmo doentio de pensar somente em si mesmo e na sua satisfação pessoal. Por outro lado, nas pessoas dignas ao amor, o ciúme é um sentimento nobre, cujo desejo de posse desperta de um lado a atitude de cuidado e proteção de lutar por quem se ama, e de outro a valorização pessoal de si mesmo, exigindo a mesma reciprocidade no relacionamento. Porque o verdadeiro amor deve ser devidamente correspondido, inclusive no ciúme.

Amor e ciúme se fortalecem mutuamente. Portanto, mente quem declara amar e afirma não sentir ciúme. Significa que se alguém lhe declara amor e não sente ciúme por você, quer dizer que verdadeiramente você não é amado(a). E cuidado! Porque você também está sendo enganado(a).

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A Traição


Artigo de André Soares - 03/11/2014


 

Manifestando minha grata deferência aos ilustres leitores, peço a devida licença para perguntar-lhes respeitosamente sobre um assunto extremamente sensível e delicado: Você já traiu? Você já foi traído? O que você acha que descobriria se tivesse a possibilidade de investigar secretamente as pessoas, principalmente as que você mais ama, para saber se foi ou está sendo traído? Provavelmente, a resposta à primeira pergunta será: sim. Certamente, a resposta à segunda pergunta também será: sim. E, incontestavelmente, a resposta à terceira pergunta será: traição. Em respeito à intimidade e à ética não farei considerações sobre a primeira pergunta. Mas, a realidade dolorosa é que somos todos traídos, inescapavelmente. Aqueles que não têm consciência sobre essa verdade é porque ainda não a sabem, ou insistem em não querer sabê-la, confirmando o célebre ditado popular que diz: “O pior cego é aquele que não quer ver (ou não sabe)”.

A traição é o pior e mais grave crime cometido contra o amor e a lealdade que existe na face da terra. Nenhum mal ao espírito é pior do que a traição. Basta ressaltar que a traição à pátria é crime punido com a pena capital (pena de morte) nos países soberanos, inclusive no Brasil, para o espanto da esmagadora maioria dos brasileiros ineptos que se engana acreditando que não há pena de morte no país. Porque no Brasil a punição prevista para o crime de traição à pátria é a pena de morte (grau máximo), conforme capitulado no código penal militar (dos crimes militares em tempo de guerra - art 355 a 362), ao qual todos os brasileiros, militares e civis, estão submetidos.

A próxima pergunta é: “Se os países soberanos, como o Brasil, punem a traição com a pena de morte, como deveríamos nós punir aqueles que nos traem”? Evidentemente, que a resposta das pessoas soberanas é: “Da mesma maneira”. Porque o crime de traição não tem perdão. Todavia, não é isso que acontece com a maioria das pessoas, que toleram a traição em suas vidas. E é por isso que foram e continuarão a ser traídas.

O aspecto mais sofrível da traição é que a sua condição “sine qua non” é que este crime só pode ser cometido contra nós pelos amigos, aliados e pessoas que amamos. Nunca por nossos inimigos. Porque inimigos não traem. E, nesse aspecto, inimigos nos são extremamente leais, por mais paradoxal que possa parecer. Jesus Cristo não foi traído de morte pelo seu amado discípulo Judas? Portanto, verdade seja dita, na vida real somos traídos por nossos pais, irmãos, familiares, namorados(as), cônjuges, amigos, professores, colegas de profissão, chefes, patrões, governantes, instituições e pelo próprio país.

Como esta verdade é avassaladoramente cruel ao espírito, a maioria das pessoas se rende ao autoengano, seja ignorando ou tolerando a traição que sofrem - “Me engana, que eu gosto!” Todavia, é plenamente possível viver sem o terror da sombra da traição. E para isso é preciso apenas duas coisas: ser forte e inteligente. Forte para ser implacável em punir rigorosamente uma eventual traição, da mesma forma como fazem os países soberanos, servindo de exemplo para que as pessoas temam traí-lo. E inteligente para saber reverter a situação, transformando a traição contra você em uma poderosa arma a seu favor, evitando ser traído, punindo traidores, destruindo inimigos e conquistando poder.

Como se faz isso? Conquanto seja dificílimo, é necessário dominar a expertise de “decifrar pessoas”. Desta forma, conseguir-se-á conhecer profundamente a personalidade humana, identificando antecipadamente as pessoas que irão te trair. A partir daí, elas devem ser manipuladas, sem exceção e sem piedade, visando a que a traição que certamente lhe farão reverta em prejuízo delas e em seu próprio benefício. Destarte, você ficará imunizado contra a traição e descobrirá que traidores têm muita utilidade.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Preconceito, pré-conceito ou preferência?


Artigo de André Soares - 27/10/2014



O político corrupto “Justo Veríssimo“, personagem do inigualável humorista Chico Anysio; e o assoberbado “Caco Antibes”, personagem interpretado pelo ator Miguel Falabella no consagrado programa humorístico “Sai de Baixo”, têm algo em comum: ambos têm ojeriza a pobres. E o mais importante: manifestam isso publicamente: "Tenho horror a pobre!". Todavia, a despeito de “Justo Veríssimo“ e “Caco Antibes” serem personagens de abjeta conduta pessoal, há que se reconhecer que ambos têm uma virtude: a coragem de dizer o que pensam, principalmente por se tratar de ideias “politicamente incorretas”. Inevitavelmente, a maioria das pessoas os condenará por inadmissível discriminação contra as pessoas pobres. Contudo, há uma grande incompreensão que acomete a sociedade, que não sabe diferenciar preconceito, pré-conceito, ou apenas simples preferência.

A “liberdade de pensamento e de expressão” são direitos consagrados em nossa Carta Magna, em seu art. 5º, inciso IV: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”; e em seu inciso IX: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Portanto, assumindo a autoria de suas ideias, qualquer pessoa pode manifestar a opinião que quiser.

Dessa forma, manifestar-se dizendo exclusivamente que se tem ojeriza a pobres, como fazem “Justo Veríssimo“ e “Caco Antibes”, ou manifestar-se por não gostar de determinada origem, raça, sexo, cor, etnia, religião, procedência nacional, etc não constitui ilícito algum. Porque se trata de manifestação sobre opinião que representa apenas simples preferência pessoal. Afinal, você e todas as pessoas também têm suas preferências pessoais “politicamente incorretas”, não é mesmo? Pois, então saiba que não há ilícito algum em dizer isso. Só é preciso coragem.

Aprofundando a questão, vale perguntar: Por que “Justo Veríssimo“ e “Caco Antibes” não gostam de pobres?
Resposta: Pelos mesmos motivos que você e todas as pessoas nesse mundo não gostam de algo.
Pergunta: E o que faz com que as pessoas gostem ou não gostem de alguma coisa?
Resposta: O pré-conceito.
Pré-conceito consiste no conjunto de ideias e valores individuais, adquiridos ao longo da experiência de vida e que, por serem considerados fundamentais à sobrevivência, constituem parâmetro de julgamento nas decisões pessoais. Portanto, “Justo Veríssimo“, “Caco Antibes”, você e todas as pessoas possuem seus respectivos pré-conceitos, que foram previamente consolidados ao longo de suas vidas.

Todavia, se por um lado é legítimo e inevitável que as pessoas formulem seus respectivos pré-conceitos, que determinam suas respectivas preferências pessoais, as quais podem ser manifestadas livremente; por outro lado é importante destacar que o exercício indevido do direito à liberdade de expressão pode ensejar o cometimento de ilícitos. É o caso dos crimes contra a honra (calúnia, difamação e injúria), relativos à ofensa contra a pessoa ou à sua reputação; ou no caso dos tipos penais referentes à apologia a ilicitudes, como o racismo, o preconceito, a discriminação e a prostituição, por exemplo.

Quanto ao preconceito, em termos gerais, constitui ilicitude relativa a fomentar ou dar tratamento indigno ou discriminatório a qualquer pessoa, em razão de quaisquer aspectos relativos à sua natureza ou procedência. Portanto, é importante saber diferenciar preconceito, pré-conceito, de simples preferência porque há sutilezas significativas quanto seu emprego na vida prática, com as quais se deve ter muito cuidado. Porque a manifestação de “Justo Veríssimo“ e “Caco Antibes” dizendo "Tenho horror a pobre!" é apenas mera preferência pessoal. Porém, a manifestação de ambos dizendo "Quero que pobre se exploda!" trata-se de grave e inadmissível preconceito.

Fórum da Inteligência

Este é um espaço destinado ao debate e à manifestação democrática, livre, coerente e responsável de idéias sobre Inteligência.