André Soares - Autor do livro "Operações de inteligência - Aspectos do emprego das operações sigilosas no Estado democrático de direito"
Os sucessivos escândalos de corrupção que caracterizam a nossa história política republicana são a melhor demonstração de que expressiva parcela dos eleitores brasileiros é, lamentavelmente, reincidente no erro de inconscientemente confiar seu voto aos indignos, corruptos e criminosos. Este ano, o Brasil caminha para mais um pleito presidencial e, se a sociedade pretende vencer o desafio de escolher os melhores, precisa aprender a conhecer verdadeiramente as pessoas. “Decifrar” pessoas é conhecer o ser humano cada vez mais e plenamente, algo a que a humanidade tem se empenhado incansavelmente, pelo incomensurável valor que esses conhecimentos representam. Se na atual conjuntura o desafio de “decifrar” pessoas está cada vez mais difícil, destacam-se dois princípios fundamentais que retratam com grande objetividade e fidedignidade um dos principais elementos determinantes do comportamento humano – a personalidade.
“Quer decifrar pessoas?” Então, conheça as suas personalidades. “Quer conhecer a personalidade de alguém?” Então, conheça o seu passado, pois “as pessoas são escravas do próprio passado”. O passado é o “retrato” de cada pessoa e a amostra fiel do “DNA” da sua personalidade, do qual não se pode fugir. Mas conheça-o o mais integralmente possível, atentando para o fato de que, como as pessoas escondem o passado que não lhes agrada, é este lado obscuro o que há de mais revelador sobre as suas personalidades. Merece especial atenção saber que ainda pior que aquele que tem um passado a esconder é aquele que o renega. Estes, em geral, afirmam terem se redimido dos erros anteriormente cometidos e se transformado em novas pessoas, a partir de então. Mentira. Nada mais falso e traiçoeiro. Reconstruir a vida a partir dos próprios erros só é possível, verdadeiro e autêntico assumindo-os e “carregando a cruz” do próprio passado. Querer apagá-lo é renegar-se a si próprio e só faz evidenciar aqueles que na verdade têm vergonha de si mesmos, pois sabem o que realmente são e, indubitavelmente, continuarão a ser.
“Quer conhecer a personalidade de alguém?” Então, conheça o seu exemplo, pois nada é mais verdadeiro sobre uma pessoa que as suas ações e inações. Se, por um lado, também podemos identificar indícios da personalidade humana nas manifestações do comportamento, por meio das palavras, dos gestos, dos desejos, das intenções, das ideias, dos sonhos etc., por outro lado, são as suas ações e inações o que há de mais crível e cabal sobre alguém. O que uma pessoa faz é exatamente o que ela é, e o verdadeiro ser de uma pessoa se revela integralmente no que ela faz, ou deixa de fazer. Nada é tão simples e ao mesmo tempo tão difícil e doloroso de aceitar como esse fato, pois as pessoas preferem se iludir no erro de imaginar que a personalidade do ser humano pode transcender às suas próprias ações. Ledo engano.
Portanto, aos eleitores, muito mais importante do que conhecer programas de governo é decifrar a personalidade e o caráter dos candidatos aos cargos públicos deste país. A verdade sobre eles não se encontrará nos discursos políticos, nas promessas de campanha, nos debates televisivos, muito menos na propaganda eleitoral. Todavia, a realidade da qual os pretendentes a serem nossos governantes não podem fugir é a de seus próprios passados e exemplos pessoais, que devem ser desvelados por toda a sociedade brasileira.
A arte de votar é a arte de “decifrar” pessoas, que requer a coragem de perscrutar a verdade e aceitá-la, pois, para conhecer verdadeiramente o outro, é necessário, antes de tudo, conhecer verdadeiramente a si próprio. Portanto, investigando passado e o exemplo, “decifra-se” toda e qualquer pessoa. Significa dizer também que, sejam lá quais forem o seu passado e o seu exemplo, é exatamente isso o que você é.
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