sábado, 18 de maio de 2013

Abin x Patrocínio de operações ilegais

Estado de Minas (MG) - 07/01/2007
Operações ilegais de espionagem
 "Quatro diretores da Abin e um suposto espião alemão radicado no Brasil são as mais recentes vítimas da disputa interna que se instalou no órgão. Desde o final do ano passado, uma denúncia anônima contendo informações confidenciais da Abin tem sido enviada a um seleto grupo de embaixadas estrangeiras, instituições e personalidades. Não é possível saber se é verdadeiro o conteúdo das informações contidas na denúncia. Uma coisa, porém, é certa: o vazamento de dados sigilosos mostra que a direção do serviço secreto não domina inteiramente seus subordinados.
A denúncia anônima originou-se de um fato concreto. Segundo apurou o Estado de Minas, no ano passado o setor de contra-inteligência da Abin começou a monitorar o alemão Bernhard Jankowsky, suspeito de ser um espião alemão radicado no Brasil. Numa das missões, o agente da Abin encarregado de vigiar Jankowsky viu o alemão se encontrando com o número dois da Abin, o diretor-adjunto da agência, José Milton Campana.
 A princípio, por mais que pareça contraditório, podem ser consideradas missões típicas da Abin tanto o monitoramento de Jankowsky quando o encontro de Campana com o alemão. Afinal, entre as funções da agência estão as de investigar possíveis espiões estrangeiros e, ao mesmo tempo, buscar informações com informantes, mesmo que eles sejam espiões de outros países.
Não é, entretanto, o que diz a denúncia anônima. A mensagem afirma que Jankowsky faz "operação ilegal e clandestina de espionagem no Brasil e em países da América do Sul, patrocinadas pela Abin". As operações, de acordo com a denúncia, seriam financiadas por meio de duas contas correntes do Banco do Brasil, cujos números são citados na mensagem. Ainda de acordo com a denúncia anônima, as supostas operações de espionagem do alemão são conduzidas por quatro diretores da Abin: José Milton Campana, Thélio Braun D"Azevedo, Carlos Cabral Calvano e Ronaldo Martins Belham.
Um fato não deixa dúvidas de que o autor da denúncia é um agente da Abin. Junto a mensagem, foram anexadas as fichas funcionais dos quatro diretores citados. Tratam-se de documentos da Abin que saíram dos arquivos secretos da agência e foram parar na internet.
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão da Presidência da República ao qual a Abin é subordinada, não quis se manifestar sobre o episódio. A reportagem não conseguiu localizar Bernhard Jankowsky.
CULTURA MILITAR O presidente da Associação dos Servidores da Abin (Asbin), Nery Kluwe, afirma que a subordinação da Abin ao GSI é o ponto central do descontentamento de parte dos agentes do órgão. "A Asbin quer a Abin fora do GSI. O GSI (antiga Casa Militar) tem uma cultura militar, e a Abin é um órgão civil. Queremos ficar subordinados diretamente à Presidência da República, à Casa Civil ou mesmo ao Ministério da Justiça", afirma Kluwe.
Segundo ele, a atual direção da Abin vem implantando uma cultura militar à agência. Ele cita como exemplos a instituição de um hino - cantado em eventos internos -, a mudança na nomenclatura dos cargos (o diretor-geral, por exemplo, é chamado de comandante de inteligência) e a adoção do carcará, parente distante dos falcões, como símbolo da agência. "Existem hoje cerca de 300 analistas da Abin contratados por concurso público que estão de saco cheio, não aguentam mais esse negócio de hino e carcará", afirma Kluwe

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