Os "agentes secretos" do Brasil
A primeira verdade sobre agentes secretos é que eles existem de fato, conquanto sejam desconhecidos. A segunda é que são pessoas especialíssimas, em todos os sentidos. E a terceira verdade é que o Brasil não possui agentes secretos em seus serviços de inteligência. Todavia, a sociedade brasileira é vítima da desinformação produzida pelas agências de inteligência nacionais sobre essa realidade, criada para encobrir a verdade inconveniente sobre a ineficiência desses organismos, especialmente da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN).
Assim, a primeira mentira sobre agentes secretos é a afirmação de que eles não correspondem à figura espetacular do “007 - James Bond”, o agente secreto mais conhecido dos filmes de espionagem. Desta forma, nossas agências de inteligência vendem a falsa ideia de que o perfil dos melhores agentes operacionais é o de pessoas comuns, desprovidas de dotes e atributos excepcionais, cuja mediocridade os fazem passar despercebidamente. Ledo engano acreditar nisso, pois o perfil do verdadeiro e autêntico agente secreto incorpora integralmente todos os atributos do personagem “007- James Bond”, bem como de suas parceiras agentes secretas. Pois, vale lembrar que as mulheres também estão incluídas nesse seleto universo.
Portanto, ao contrário do discurso oficial, o perfil do verdadeiro e autêntico agente secreto é aquele que confere ao seu detentor plenas condições de atuar sozinho, cumprir todo tipo de missão e não deixar vestígios. Para isso, deverá possuir excelente condição física, de tiro e defesa pessoal; suportar o estresse, a fadiga física e mental; operar por longos e ininterruptos períodos; suportar restrições de sono e alimentação; e combater. Verifica-se, assim, que a realidade adversa e hostil de atuação dos agentes secretos exige-lhes capacidade de enfrentamento de situações-limite; nas quais, se destituídos dos padrões de desempenho operacional elevados, certamente sucumbirão.
A segunda mentira sobre agentes secretos é a de que eles são forjados nos serviços de inteligência. Essa perfídia plantada no seio da sociedade tem enganado e iludido milhares de jovens brasileiros, homens e mulheres, incitados ao concurso público para ingresso na ABIN, esperançosos de que irão construir e viver uma carreira profissional de agentes secretos. Ledo engano acreditar nisso também. Porque, pasmem, o Brasil não possui agentes secretos na ABIN, nem nos demais serviços de inteligência. Porém, infelizmente, o que existe no país é uma legião de arapongas e agentes clandestinos, os quais são muitas vezes forjados nessas organizações.
É exatamente por isso que o Brasil é alvo fácil dos serviços secretos estrangeiros e organizações criminosas, inclusive terroristas, que atuam livremente no país; e vítima de seus próprios serviços de inteligência. Nesse mister, vale ressaltar o festival de clandestinidades cometidas pela ABIN na Operação Satiagraha, em 2008, misteriosamente nunca apuradas, e que constitui um dos mais escabrosos atentados contra o estado cometidos por serviços de inteligência da história contemporânea mundial.
Esse diletantismo que impera na ABIN e no Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) contamina a mentalidade dos seus integrantes, que por vezes se consideram agentes secretos pelo simples fato de integrarem essas organizações. Esse é outro terrível e perigoso engano, visto que dirigentes e integrantes de serviços de Inteligência não são agentes secretos. Eles são unicamente servidores públicos, exatamente iguais a todos os demais honrados servidores públicos do estado brasileiro. E nessa condição, nunca serão agentes secretos.
Onde estão os agentes secretos? Essa é a resposta que serviços de inteligência buscam encontrar. Porque, como essas organizações não os forjam, tentam desesperadamente recrutá-los. Todavia, agentes secretos são pessoas especialíssimas, livres, independentes e autônomas. Agentes secretos têm vida própria, pensam e agem por si, atuam sozinhos, e quando servem ao seu país o fazem incondicionalmente, lutando contra os inimigos do estado, muitos dos quais estão em nossas agências de inteligência. Pois, estas são organizações extremamente vulneráveis à corrupção.
Portanto, a melhor garantia que há em integrar os quadros da ABIN e dos serviços de inteligência nacionais é a de se tornar um excelente servidor público burocrata. Porque agentes secretos existem. Mas, estes, “desacontecem”.