“A
tropa é o espelho do chefe” é uma das máximas mais verdadeiras sobre a
carreira das armas. Quem souber empregá-la conseguirá avaliar com
precisão e rapidamente o poder militar de qualquer tropa, organização
militar, ou forças armadas, sem necessitar de uma investigação
aprofundada. Porque todos os militares subordinados, sem exceção, ficam
inescapavelmente aprisionados sob a influência da pessoa e valor dos
seus comandantes, em tudo. Nos atos de heroísmo e bravura, mas também na
incompetência e na corrupção. Isto decorre da vida profissional
totalizante a que os militares estão submetidos, sob os rigores
absolutos da hierarquia e disciplina militares. É exatamente por isso
que outra máxima militar nos ensina que “as palavras convencem, mas o
exemplo arrasta”, inclusive o mau exemplo. Portanto, em qualquer
circunstância, seja qual for o efetivo, valor, ou situação de emprego
das forças militares de qualquer natureza, estar-se-á sempre diante do
retrato mais fiel da pessoa do seu comandante.
Exemplo
que representou importante ponto de inflexão a favor do combate ao
terrorismo internacional foi o sucesso da ação de inteligência militar
dos EUA no Paquistão, que culminou com a morte de Bin Laden, líder do
grupo terrorista Al Qaeda. Se o presidente dos EUA, Barack Obama,
recebeu merecidamente os louros desse êxito, o seu mérito é
exclusivamente de natureza política. Porque os principais responsáveis
pela vitória dessa arriscada missão são os combatentes anônimos da tropa
de elite da marinha norte-americana que empreenderam esse perigoso
combate. Pois, não são os reis, presidentes, ou governantes, que lutam e
morrem para vencer as guerras de seus países, mas os seus militares
combatentes, com sua coragem e destemor. Portanto, como a tropa é o
espelho do chefe, esses militares norte-americanos são o reflexo
cristalino de seus comandantes, que certamente os “arrastaram” para o
sucesso dessa missão com seus exemplos pessoais.
Todavia,
esse episódio não é a regra, mas a exceção quando se trata da realidade
das forças militares em geral, principalmente no Brasil, em que nossas
forças armadas são não operacionais. Isso significa que elas são
capazes de lutar, mas não de vencer, porquanto tropas operacionais são
forjadas nas lides do emprego em combate e não dentro dos quartéis.
Nessa conjuntura de ineficiência de emprego militar das forças armadas
brasileiras, chegamos à situação alarmante em que os seus comandantes e
toda a cúpula militar, em suas longas carreiras, nunca vivenciaram
situação real de combate. Os únicos brasileiros da atualidade
possuidores dessa inestimável e insubstituível experiência profissional
militar são os nossos corajosos “pracinhas” da Força Expedicionária
Brasileira (FEB). Estes conhecem o verdadeiro e “bom combate”, no qual
muitos deles morreram na II guerra mundial em defesa do Brasil, mas que
hoje estão completamente esquecidos. Todavia, os nossos comandantes
militares das forças armadas ostentam medalhas, muitas medalhas.
A
verdade é que a ineficiência é o mal que acomete as estruturas
militares quando a carreira das armas se desvirtua e se afasta de sua
atividade-fim que é o combate. Esse é o contexto atual, em que a
carreira das forças armadas brasileiras tornou-se profissão
desprestigiada, porém muito disputada por ter se transformado num
excelente emprego, sendo dominada pelos carreiristas de gabinete,
preterindo os verdadeiramente vocacionados para a vida castrense. Isso é
o que vem ocorrendo há décadas, cuja crescente e grave evasão de jovens
promissores de suas fileiras é hemorragia incontida que os atuais
comandantes militares tentam esconder, mas não conseguem estancar.
Portanto, confirmando a máxima inexorável, nossas forças armadas são
exatamente o retrato mais fiel da pessoa de seus respectivos
comandantes.
Se
qualquer pessoa em são consciência e voluntariamente não habitaria com
sua família uma residência construída por um engenheiro que nunca
construiu, e não submeteria qualquer de seus familiares a uma cirurgia
realizada por um cirurgião que nunca operou, a triste verdade é que a
defesa nacional está entregue a comandantes militares que nunca
combateram. Quando a nação brasileira conclamar nossas forças armadas ao
derradeiro combate em defesa do país, estaremos confiando a esses
comandantes o destino do Brasil e a vida de nossos filhos. Todavia, eles
ostentam medalhas, muitas medalhas.
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