Artigo de André Soares - 28/05/2018
Como estruturar um sistema de inteligência é uma das mais cruciais, estratégicas e prioritárias questões de estado, em todo o mundo; que, no Brasil, tem conduzido o país ao suicídio. Isso porque, tomados por estado de completa ignorância nesse mister, presidentes da república, parlamentares, comandantes, diretores e gestores institucionais, em todo o país, vem cometendo o suicídio pátrio de replicar nas instituições nacionais as mesmas práticas deletérias da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), que é o órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN); desconsiderando porém que a agência é escabrosamente ineficiente e disfuncional. Evidentemente que o resultado final no âmbito estatal é igualmente desastroso; e por vezes igualmente criminoso.
Como frisei nos artigos anteriores, são inúmeras as heresias de Inteligência de Estado perpetuadas no país pela ABIN/SISBIN, a começar pelo próprio marco legal de sua criação (lei 9883, de 07/12/1999) e sua esquizofrênica doutrina de inteligência. Nesse mister, importa ressaltar que “...na ABIN/SISBIN nada se cria. Tudo se copia”. Isso porque a sua denominada doutrina de inteligência nada mais é que cópia integral da originalmente esquizofrênica doutrina do famigerado Serviço Nacional de Informações (SNI), extinto em 1990, no governo Fernando Collor de Melo; que, por sua vez, também é cópia literal e muitíssimo mal feita da pré-histórica doutrina de inteligência norte-americana da década de 50 do século passado, por meio da qual se propagou pelo mundo a desinformação logomáquica que desvelei no artigo anterior e da qual o Brasil continua a ser vítima fatal.
Destarte, outra das sandices doutrinárias da ABIN/SISBIN é a sua classificação oficial da Inteligência em dois “Ramos”, a saber: Ramo Inteligência e Ramo Contrainteligência. Ora, antes mesmo de qualquer outra consideração, já está inicialmente evidente, a qualquer pessoa minimamente racional, a escabrosa incoerência dessa doutrina. Afinal, como um todo pode ser dividido em si mesmo e outra parte? Porque isso é absolutamente impossível.
Para esclarecer melhor o absurdo teratológico dessa máxima doutrinária que a ABIN/SISBIN instituiu no Brasil, façamos então uma analogia absolutamente perfeita com o mesmo absurdo doutrinário que alguns conservatórios e escolas de música ainda disseminam no país, ao ensinarem a sandice de que a música se constitui de dois elementos: música e letra. Ora, assim como na doutrina da ABIN/SISBIN, isso é totalmente impossível.
Só um tolo idiota não perceberia isso.
Mas, como no meio musical predomina a racionalidade entre seus profissionais, essa assombrosa heresia doutrinária vem sendo abandonada; e atualmente já se evoluiu para a doutrina musical correta que desvelou que é um grave equívoco professar que os elementos constitutivos da música são: música e letra. Porque, na verdade, seus elementos constitutivos são: melodia e letra. E essa crucial correção doutrinária não é mera questão semântica. Porque ela é de todo significativa, não apenas na exata compreensão científica da fenomenologia musical, mas também na sua operacionalização.
Contudo, infelizmente o exercício da racionalidade não é apanágio dos dirigentes da inteligência nacional. Assim, essa escabrosa e gravíssima heresia doutrinária da ABIN/SISBIN, que vem sendo copiada e recopiada no Brasil há mais de meio século, e que tem profundas e nefastas consequências na operacionalização e efetividade da Inteligência de Estado; é apenas uma das inúmeras heresias que são consideradas cláusulas pétreas na ABIN/SISBIN, idolatradas por seus ineptos dirigentes, e que são responsáveis pelo caos irreversível que impera nos serviços secretos nacionais; as quais explico minuciosamente em meu livro “SERVIÇOS SECRETOS - Aspectos do emprego das operações sigilosas no estado democrático de direito".
Portanto, é por demais óbvio e cristalino que é simplesmente impossível operacionalizar eficientemente a Inteligência de Estado, seja no Brasil, ou em qualquer país do mundo, a partir de uma base doutrinária tão inepta, incoerente e absurda como a da ABIN/SISBIN. Todavia, o aprofundamento de suas heresias doutrinárias é ainda mais dramático. Porque, dentre outras de suas absurdidades, a sua esquizofrenia também não considera as “Operações de Inteligência” (que são as ações sigilosas realizadas pelos serviços secretos, e que são efetivamente sua atividade-fim, e o que há de mais importante nesses organismos) como sendo sequer um “Ramo” da Inteligência no Brasil. E outra verdade estarrecedora sobre a ABIN/SISBIN é que, diferentemente dos principais serviços secretos do mundo, as “Operações de Inteligência” inexistem completamente de sua doutrina.
Querem mais um “pequeno” detalhe sobre a esquizofrenia doutrinária da ABIN/SISBIN?
Todos acreditam que ela é oficial, não é mesmo?
Mas, não é.
Porque a denominada doutrina de inteligência da ABIN/SISBIN no Brasil é oficiosa.
Durma-se com um barulho desses!