A sina presidencial de LULA: "O que fazer com a caixa-preta da ABIN?"
Artigo de André Soares - 01/01/2023
A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) foi criada no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, pela Lei 9.883, de 7 de dezembro de 1999, como órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), cujo comando e poder avassalador foram usurpados do estado brasileiro e entregues ao antidemocrático projeto de poder dos militares. Ressuscitou-se assim no Brasil a “monstruosidade” do famigerado Serviço Nacional de Informações (SNI), criado pela lei 4.341, de 13 de junho de 1964; e extinto pelo presidente Fernando Collor de Mello, 26 anos depois, em 1990; e cuja atual reencarnação, diretamente subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR), tornou-se o fatídico legado que o presidente Luíz Inácio Lula da Silva recebeu de FHC, quando de seu primeiro mandato presidencial. Na atual conjuntura, contando com 23 anos de desvirtuamento institucional, a agência constitui a maldita sina presidencial de Lula: o que fazer com a caixa-preta da ABIN?
Porque foi principalmente durante a gestão dos mandatos presidenciais petistas de Lula (2003/2011) e Dilma Rousseff (2011/2016) que a caixa-preta da ABIN perpetrou seus crimes mais hediondos contra o estado e a sociedade brasileira. Nesse sentido, lembremos que logo no início do primeiro mandato presidencial de Lula, o Brasil foi vítima de uma tragédia que se constitui no maior atentado à soberania nacional: a explosão do foguete brasileiro VLS-1, no Centro de Lançamento de Alcântara/MA, em 22/08/2003, que além dos incalculáveis prejuízos e do sério comprometimento do estratégico projeto aeroespacial nacional, assassinou impunemente 21 cidadãos brasileiros. A versão oficial do governo Lula classificou essa hecatombe nacional como um infeliz “acidente”, decorrente de deficiências técnicas; tudo isso para encobrir a escabrosa irresponsabilidade, ineficiência e inação da caixa-preta da ABIN, ante à agressiva espionagem internacional que já operava há anos em território brasileiro, na localidade de Alcântara/MA, visando a não menos que a sabotagem do projeto VLS.
Em 2004, o Tenente-Coronel do Exército Brasileiro André Soares, Oficial de Inteligência da Presidência da República, como analista da Coordenação-Geral de Contraespionagem e Análise do Terrorismo da ABIN, denunciou pessoalmente e documentalmente ao presidente Lula, no Palácio do Planalto, por intermédio do General Ministro-Chefe do GSI, um festival de crimes hediondos perpetrados pela ABIN na “Operação Mídia”. Decorridos mais de dezoito anos, temos hoje que a irresponsabilidade criminosa do primeiro governo Lula, por não ter apurado rigorosamente as denúncias do Tenente-Coronel André Soares contra a ABIN na “Operação Mídia”, demandou no segundo mandato presidencial de Lula, mais teratológicos crimes da agência contra o país, na Operação Satiagraha (2008); cujos principais responsáveis foram exatamente os mesmos dirigentes da ABIN denunciados pelo Tenente-Coronel, quatro anos antes.
O recrudescimento do caos da caixa-preta da ABIN vitimou também os mandatos presidenciais de Dilma Rousseff, ao extremo limite da ex-presidente ter expedido nota oficial, em 06/01/2019, intitulada “A inteligência na qual não se deve acreditar”, destacando várias situações de manifesta ineficácia do GSI e da ABIN/SISBIN durante seus mandatos presidenciais, como a gravíssima espionagem em seu gabinete, no avião presidencial e na Petrobras, realizada em 2013, pela National Security Agency (NSA), dos Estados Unidos da América (EUA).
Em 22 de abril de 2020, na histórica reunião do presidente Jair Bolsonaro com seus ministros de estado, a qual foi tornada pública pela sábia decisão monocrática do então ministro Celso de Melo, do Supremo Tribunal Federal (STF); a mais grave das irregularidades que ali foram desveladas foram as veementes revelações proferidas a plenos pulmões pelo presidente Bolsonaro sobre o caos da inteligência nacional, manifestadas em suas seguintes palavras:
"Eu não posso ser surpreendido com notícias"
"A gente não pode viver sem informações"
"Eu tenho a inteligência das Forças Armadas, que não têm informações"
"A ABIN tem seus problemas, aparelhamento, etc..."
"A gente não pode ficar sem informações"
"O serviço de informações nosso, todos, é uma vergonha!, é uma vergonha!...eu não sou informado"
"Sistema de informações, o meu funciona, o meu particular funciona,.... os que tem oficialmente desinforma,.....eu prefiro não ter informações do que ser desinformado pelo sistema de informações que eu tenho..."
Portanto, dentre os inúmeros desafios do presidente Lula, inaugurando seu terceiro mandato presidencial, ante ao colapso da atual conjuntura nacional, a sua missão presidencial mais importante e difícil será a destruição da caixa-preta dos serviços secretos. Pois eles constituem a mais poderosa organização criminosa do país, absolutamente acima da lei, vilipendiando os princípios constitucionais e o estado democrático de direito vigentes; e que, se não forem destruídos urgentemente, conduzirão o Brasil ao seu inexorável óbito.
Ademais, é imperativo ao presidente Lula a antevisão de que a não solução de sua sina presidencial poderá transformar-se em sua maldição. E que Lula tenha a clarividência de não menosprezar a evidência de significativos “sinais” históricos. Afinal, será precisamente no terceiro mandato presidencial de Lula que a caixa-preta da ABIN comemorará seus 26 anos de desvirtuamento institucional no país; exatamente a mesma idade com que o desvirtuado SNI foi extinto pelo presidente Fernando Collor de Mello. Assim, se Fernando Collor de Mello foi o presidente-exorcista dos 26 anos de “monstruosidade” do SNI, Lula estaria predestinado a ser o presidente-exorcista dos 26 anos de “monstruosidade” da caixa-preta da ABIN?
Predestinações históricas à parte, importa que a nação brasileira auspicia que Lula, como Presidente da República em exercício, esteja imbuído da coragem moral, patriotismo e altivez dignos de um verdadeiro estadista, para corrigir erros passados e honrar o cumprimento da mais urgente e precípua missão presidencial: a completa extinção da caixa-preta da ABIN; condição “sine qua non” para a edificação de uma nova e eficiente Inteligência de Estado e de um próspero Brasil.
“A Inteligência é um apanágio dos nobres. Confiada a outros, desmorona".
(Coronel Walther Nicolai - 1873/1934 - Chefe do Serviço de Inteligência do Chanceler Bismarck)
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