Hércules Rodrigues de Oliveira – Professor Universitário Mestre em Administração
Diógenes Laércio foi um historiador grego que se preocupou em levar o conhecimento ao povo helênico de forma clara e acessível, inclusive escrevendo uma obra sobre a vida e as doutrinas filosóficas de seus mais ilustres conterrâneos. Certa feita Diógenes encontrou-se com Platão, o fundador da Academia, quando dize-lhe: “Posso ver uma mesa e uma xícara; mas não isto a que você se refere, a mesidade e a xicaridade”. Platão replicou: “para ver uma mesa e uma xícara você precisa de olhos, e você os tem. Para ver a mesidade e a xicaridade precisa de inteligência, e você não a tem”. Certamente que o diálogo não foi um “puxão de orelhas” às antigas, mas, brincadeira de amigos chegados, pois por mais capazes que somos ainda assim precisamos no dia a dia, exercer o “ver e o perceber”, pois devemos necessariamente saber separar fato, opinião e ideologia, com a sutileza do raciocínio, dádiva a poucos concedida pelo deus Argus, para bem operar a prática da inteligência. Em um país onde se proliferam os sem-terra, sem-teto, sem-praia, sem-trabalho e sem-vergonha (dinheiro na meia, cueca e adereços), entre tantos outros, não podemos nos acomodar com os sem-inteligência. Etimologicamente a palavra inteligência, do verbo latino intellegere ou intelligere, compreende os vocábulos inter (entre) e legere (escolher), ou seja, é a capacidade cognitiva de escolher entre uma coisa e outra, isto porque a palavra, na sua gênese, veio do meio rural onde para o camponês significava o ato de colher, juntar, armazenar alimentos de boa qualidade, imprescindível para a sua sobrevivência na época das “vacas magras”. O conceito não exclui, mas agrega outro sentido, qual seja o emprego de verbos transitivos direto: compreender, conhecer, perceber, discernir, saber. Interessante é que o exercício do pensamento (cognição) é transportado para a prática da atividade de inteligência de Estado (ou inteligência “clássica”), outrora denominada Serviços de Informações, também conhecido hodiernamente como Serviços Secretos, que no caso brasileiro, está sob a guarda silente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A atividade presente em todos os Estados nacionais passou a significar grosso modo uma natureza consultiva para atender um processo decisório, que necessariamente diante de uma massa de informações, o analista deverá reduzir as incertezas para escolher (legere) a melhor opção. Entretanto, existe outro aspecto a ser trabalhado, mas que aqui não haverá espaço para nele se aprofundar e que se pode considerar como o “calcanhar de Aquiles” desta atividade, que trata das operações de inteligência, onde a produção de determinado conhecimento se faz sobre determinado alvo (Estado, Empresa, Grupo, Pessoa), sem sua consciência, cooperação nem consentimento, pois se trata de “dado negado”, necessário para descortinar o fato, dispensar a opinião e evitar a ideologia para não contaminar a verdade. Isto é ética e não estética. Em terra brasilis a noção de inteligência é para todos, porque passou a ser aplicada além dos órgãos públicos em geral, que vem adequando-a a suas especificidades no âmbito da segurança pública em todos os níveis do Executivo, bem como na saúde, fiscalização, ciência e tecnologia, relações exteriores, entre outros, todos presentes no Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin). Não obstante, segue a reboque, a inteligência competitiva desenvolvida em grande parte pelas instituições privadas que fornece fonte de consulta para compreender a atividade de inteligência no cotidiano, onde se verifica a sua presença nas questões mais comezinhas. Neste mundo de generosidades temos também principalmente, a mídia, a sociedade civil e os centros de ensino e pesquisa que já promovem questionamentos a respeito da atividade, eliminando o “secretismo” quando desnecessário e questionando diuturnamente aos operadores de inteligência sobre questões afetas a eficiência e a legalidade da atividade, que não pode sobremaneira arranhar os direitos fundamentais do cidadão, protegidos que o são pela manto constitucional. Mas brincando também se aprende, não diz velho brocardo? Presente no Brasil há mais de 35 anos, o jogo de estratégia War (baseado no jogo estadunidense Risck) com faixa etária acima de 10 anos, trouxe em sua versão moderna uma nova peça intitulada: Centro de Informações e Espionagem, onde o detentor poderá se utilizar de informações privilegiadas, o que segundo o fabricante veio para que o jogo “fique mais ágil e emocionante”. E foi no ocaso de um despretensioso domingo, saboreando um delicioso café do cerrado, jogando War com meu filho, perguntei a ele: E aí Igor, você já percebeu a xicaridade e a mesaridade. Não pai! Somente o jogo e por sinal, ganhei!
......Mas é uma atividade presente na vida de todos nós, desde muito tempo, inclusive de forma lúdica, como ocorre no jogo de Estratégia War (baseado no jorgo norte-americano Risck) faixa etária acima de 10 (dez) anos de idade que disponibiliza para os participantes (cada um) um Centro de Informações e Espionagem, para que segundo o fabricante: “fique mais ágil e emocionante”...
caro professor, depois de ler "Inteligência em artigos" vi e percebi o sentido real da Abin, da importância do serviço de inteligência e agradeço por me ensinar a exercer o "ver e o perceber", parabéns.
ResponderExcluirAléxis Basílio