A questão da morte de Mahmud al-Mabhuh, membro do Hamas, em Dubai, mexe com a opinião pública mundial e atrai as atenções para Israel
Hércules Rodrigues de Oliveira - Professor universitário, mestre em administração
Considerado por muitos especialistas internacionais como o melhor serviço secreto do mundo, o Mossad (instituto em hebraico) é o Instituto para Inteligência e Operações Especiais. Fundado em 13 de dezembro de 1949, é um serviço civil diretamente ligado ao primeiro-ministro em que todos os operadores de inteligência já prestaram serviço militar nas unidades das Forças de Defesa de Israel (FDI). Em uma comparação bem ao gosto do presidente Lula sobre assuntos futebolísticos, o Mossad está para a inteligência assim como a Seleção da Espanha está para Fifa (a primeira no ranking).
Não obstante, a indústria hollywoodiana que em sua gênese teve forte presença sionista não deixa ano após ano sem exibir película sobre o povo judeu. Filmes com forte apelo emocional mostraram ao mundo a capacidade operacional do Mossad como se viu em Resgate em Entebbe (1977); A garota do tambor (1984); O homem que capturou Eichmann (1996) e Munique, indicado a cinco Oscars, em 2005. Se de um lado somos conduzidos pela emoção na telona, por outro, somos concitados a reflexão ao lermos sobre a “indústria do Holocausto”, termo cunhado por Norman G. Finkestein, professor judeu norte-americano, filho de judeus egressos do Gueto de Varsóvia e sobreviventes de Auschwitz, que “exibe como vítimas o grupo étnico mais bem-sucedido dos Estados Unidos e apresenta como indefeso um país como Israel, uma das maiores potências militares do mundo, que oprime os não judeus em seu território e em áreas de influência".
Pelo lado da atividade de inteligência, o ex-agente do Mossad Victor Ostrovsky descreve sua passagem nas operações especiais como se fossem “marcas da decepção”, talvez as mesmas que vem sendo noticiada pela mídia, sobre o assassinato em um hotel de Dubai, capital dos Emirados Árabes, do líder do Hamas (acrônimo que se traduz Movimento de Resistência Islâmica), Mahmud al-Mabhuh, membro fundador do braço militar conhecido como Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, suspeito de contrabandear armas para os insurgentes palestinos. O Hamas é visto como organização terrorista pelo moderno Estado de Israel, enquanto que para o mundo árabe um partido político e uma instituição com fins filantrópicos. Shakespere disse que “sempre existem, pelo menos, dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências”. Então existem heróis dos dois lados. Mahmud talvez seja um deles. Malgrado vejamos o caso do congressista estadunidense Charlie Wilson, que ajudou a CIA com bilhões de dólares de seu governo treinando e armando os mujaheddins liderados por Osama bin Laden, contra os soviéticos no Afeganistão, que depois lutaram contra os próprios norte-americanos no 11 de setembro.
A questão da morte de Mahmud começa a despertar a opinião pública mundial e a atrair as atenções para Israel, que não tira os olhos do Irã. Também pudera, Israel é como se fosse uma ilha com 7 milhões de judeus, cercado por um mar de mais de 200 milhões de árabes. O ministro de Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, disse que “não há provas de que o Mossad esteja por trás do assassinato de um comandante do Hamas”. Verdade ou não, a tecnologia a serviço da polícia de Dubai, provavelmente made in Telavive, foi reveladora no que diz respeito ao modus operandi identificando toda a equipe (israelense ou não) que atuou naquela operação. Não é novidade que Israel não respeita o jus gentium ou “direito dos povos”, norma de direito romano aplicado aos estrangeiros que modernamente incorporou o direito internacional privado, se assim o fizesse não teriam sequestrado entre tantos outros, em Roma, o seu patrício Mordechai Vanunu, que revelou detalhes do programa nuclear de Israel para a imprensa britânica em 1986. De bom alvitre o registro de que Israel é uma democracia parlamentar com sufrágio universal, e o que se vê é que, a segurança do Estado de Israel está acima dos interesses do governo, pois o Estado é perene e o governo pode ser dissolvido pela maioria do parlamento pela simples falta de confiança. O Cone Sul já vivenciou, de algum modo, questões como esta, haja vista a Operação Condor, conduzida pelos governos ditatoriais, cuja função era neutralizar os grupos de oposição, como os tupamaros no Uruguai, os montoneros na Argentina e o Movimento de Esquerda Revolucionário, no Chile.
Mutatis mutandis o que importa é que o êxito ou fracasso de um órgão de inteligência passa inexoravelmente pela performance de sua unidade de operações especiais que precisa estar em sintonia com as necessidades do Estado democrático de direito e não atrelada às vontades de governo que são, em sua essência, transitórios. Lembre-se de que Moisés mandou espias para a terra de Canaã e Josué, para Jericó. Nenhum deles disse: ide reconhecer, sequestrar ou assassinar.
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