quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Teorias da conspiração no Brasil

Artigo de André Soares - 13/08/2011



Teorias da conspiração são idéias paranóicas sobre a existência de ações clandestinas, patrocinadas por agentes adversos, causadoras de grande prejuízo e destruição. Tais concepções são condenadas ao ostracismo e seus defensores expostos ao ridículo, pois teorias da conspiração são produto de mentes doentias e sua única utilidade é na criação de histórias de ficção. O que pouca gente sabe é que as principais potências mundiais dão enorme importância a elas, possuindo estruturas especializadas nesse mister que são seus serviços de inteligência. Significa que teorias da conspiração constituem terreno nebuloso, potencialmente perigoso e duas atitudes representam grande estupidez: desconsiderá-las, ou alardeá-las indiscriminadamente. É justamente por essa razão que não se mencionará aqui nenhuma delas porque, como todos já sabemos, teorias da conspiração não existem, não é mesmo?

Entretanto, algumas sutilezas que sempre passam despercebidas merecem especial atenção. Portanto, deve-se suspeitar da impunidade, pois ela não é apenas mera conseqüência de deficiências institucionais, mas a corrupção dos governantes com o poder. Deve-se suspeitar das autoridades que sempre afirmam estar tudo dentro da normalidade e sob controle, pelo simples fato de que é mentira. Deve-se suspeitar de infiltração por organizações criminosas nos vultosos projetos e empreendimentos de interesse nacional que nunca dão certo. Deve-se suspeitar de ações clandestinas e da atuação de serviços de inteligência estrangeiros, patrocinando crimes de traição à pátria e à soberania nacional, cometidos nos mais elevados escalões governamentais do país, demandando tragédias e graves "acidentes" em setores estratégicos do poder nacional, cujas apurações nunca apontam culpados e são rapidamente esquecidas.

Proteger-nos contra essas ameaças é missão dos serviços de inteligência nacionais, cuja notória e escandalosa ineficiência institucional estranhamente nunca foi investigada no Brasil. Basta relembrarmos algumas das incontáveis contingências nacionais sofridas e decorrentes da total "incompetência" dos nossos serviços de inteligência, como o trágico afundamento da plataforma da Petrobras P-36, em 2001, maior plataforma marítima de exploração de petróleo do mundo, implicando um prejuízo de US$ 354 milhões e a morte de 11 funcionários; a trágica explosão que destruiu o foguete brasileiro VLS-1, no Centro de Lançamento de Alcântara/MA, em 2003, com ingentes prejuízos nunca divulgados e o comprometimento do estratégico projeto aeroespacial brasileiro, matando 21 técnicos civis; o caos da aviação brasileira que comprometeu a segurança dos vôos no país, entre 2006 e 2007; a ocupação da usina hidrelétrica de Tucuruí, que vulnerabilizou o abastecimento nacional de energia; a destruição de centros de pesquisa da Embrapa, que comprometeu o nosso desenvolvimento científico-tecnológico; os ataques terroristas da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que dominou e atemorizou completamente todo estado de São Paulo, em 2006; o grampo ilegal que vitimou o senador Demóstenes Torres e o então Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, em 2008, que ameaçou as instâncias máximas dos poderes da República; e a onda de ataques do crime organizado no Rio de Janeiro, em 2010, que demandou a urgente mobilização e emprego das forças armadas.

Por derradeiro e não por acaso, o Brasil sofre atualmente a maior e pior crise institucional de inteligência sem precedentes na sua história, desvelada no festival de clandestinidades da Operação Satiagraha, em 2008, criminosamente patrocinadas pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), que é o órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN). Contudo, no epicentro desse estado de caos, a ABIN continua uma "caixa preta" invencível, sem controle, em flagrante atentado contra o estado democrático de direito vigente, obscuramente protegida pela impunidade, inação e rápido esquecimento de nossos governantes sobre seus crimes praticados contra o estado brasileiro, cujos culpados nunca foram responsabilizados, sob a cumplicidade dos órgãos de controle, dos poderes executivo, legislativo, judiciário e do ministério público.

O que realmente está acontecendo no Brasil? Certamente, nada. Tudo está rigorosamente dentro da normalidade e sob controle. Afinal, como todos nós já sabemos, teorias da conspiração não existem, principalmente no Brasil. Não é mesmo?

Um comentário:

  1. Francisco J. S. da Silva4 de setembro de 2011 às 23:16

    Essencialmente, os teóricos da conspiração só tem interesse naquilo que nós não entendemos. Teóricos da conspiração são investigadores. Negadores da conspiração são em sua maioria pessoas que têm interesse naquilo que eles entendem. (David Icke)

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