O "diletantismo irresponsável" da Inteligência no Brasil
“O
melhor que se pode dizer sobre o que acontece aqui é um diletantismo
irresponsável” é história proibida da Inteligência de Estado de um
importante e promissor país emergente; mas que se divorciou das sábias
palavras do coronel Walther Nicolai, chefe do serviço de inteligência do
chanceler Bismarck, que profetizou: “A Inteligência é um apanágio dos nobres. Confiada a outros, desmorona".
Pois,
essas palavras foram proferidas numa tensa e ríspida reunião sigilosa à
principal autoridade do órgão central do sistema de inteligência
daquele país, em razão das graves irregularidades cometidas pela cúpula
do seu principal serviço secreto. Contudo, visceralmente comprometido,
esse dirigente máximo não hesitou em retaliar clandestinamente o seu
interlocutor, que evidentemente caiu em desgraça. Todavia, numa
reviravolta surpreendente, aconteceu o inimaginável num serviço de
inteligência de um estado democrático de direito. Pois, numa reunião
secreta, urgentíssima, estava o referido dirigente máximo da
inteligência nacional, cabisbaixo, nervoso e visivelmente abalado,
pedindo solenes desculpas oficiais, em nome da principal agência de
inteligência nacional, pelos referidos desvirtuamentos cometidos, cujas
escusas foram apresentadas subservientemente à pessoa daquele mesmo
protagonista que hostilizara.
Na
verdade, esse inadmissível capítulo da inteligência daquele país
constituiu um desesperado estratagema governamental para evitar a todo
custo que o "diletantismo irresponsável" de seus serviços de
inteligência fosse revelado. Porém, o seu resultado final foi desastroso
porque o referido protagonista reagiu veementemente contra a
subseqüente e inescrupulosa tentativa de sua cooptação. Destarte, o que
se seguiu naquele gabinete ultrassigiloso reflete a gravidade do caso em
testilha porque “quem deve, teme - e treme”. Assim, temeroso da sua
inevitável responsabilização, o dirigente máximo de inteligência
descontrolou-se em ingentes ameaças ao referido protagonista que, sendo
provenientes da direção-geral do principal serviço secreto de um país,
trata-se da mais tácita e fatal condenação que uma pessoa pode receber
em vida.
“Não
imaginei que havia criado um monstro” foram as célebres palavras de
arrependimento proferidas pelo General Golbery do Couto e Silva, ante à
degenerescência do Serviço Nacional de Informações (SNI), criado em
1964, do qual foi um dos principais idealizadores, e que culminou com
sua extinção no governo Fernando Collor de Melo. Como o presidente
Fernando Henrique Cardoso (FHC) não se afastou dos erros passados
ressuscitou no Brasil o espírito do antigo SNI, sob a denominação de
Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), criada como órgão central do
Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), pela Lei 9883, de 07 de
dezembro de 1999. Com pouco mais de uma década de existência, a história
da ABIN se
caracteriza por sua escandalosa e generalizada ineficiência,
contaminando o SISBIN e por uma sucessão de escândalos e crises
institucionais de âmbitos nacional e internacional, cujas danosas
conseqüências implicaram a exoneração de vários diretores-gerais, ao
longo dos governos FHC e Lula.
Na
atual conjuntura, o Brasil sofre a maior e pior crise institucional de
inteligência sem precedentes na sua história, incipientemente desvelada à
sociedade, em 2008, no festival de clandestinidades da Operação
Satiagraha, criminosamente patrocinadas pela direção-geral e toda a
cúpula da ABIN. Em pleno governo Dilma Rousseff,
nada efetivamente foi realizado contra esse intolerável estado de
coisas. E, no epicentro desse caos que vive a Inteligência de Estado no
Brasil, a ABIN e o SISBIN continuam
uma "caixa preta" invencível, sem controle, em flagrante atentado
contra o estado democrático de direito vigente, obscuramente protegida
pela impunidade, inação e rápido esquecimento de nossos governantes
sobre seus crimes praticados contra o estado brasileiro, cujos culpados
nunca foram responsabilizados; e sob a cumplicidade dos órgãos de
controle, dos poderes executivo, legislativo, judiciário e do ministério
público.
No
momento em que aquele protagonista saiu do gabinete da presidência da
república, após o derradeiro e fatídico desfecho sobre o “diletantismo
irresponsável” que impera na inteligência nacional daquele país sem
história, ele sabia sobejamente sobre o terrível destino que o
aguardava, e que as piores contingências acometeriam os desígnios do seu
país e da sua vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Dê sua opinião, livremente, respeitando os limites da legalidade e da ética.