domingo, 21 de março de 2010

Informação, conhecimento e poder

Artigo de André Soares - 21/03/2010.

Informação e conhecimento não constituem poder. A rigor, informação e conhecimento não representam poder algum. Evidentemente que arriscar tal afirmação, especialmente na atual “era da informação e do conhecimento” em que vivemos, pode demandar risos, impropérios, parecer um despropósito, ou receber total desconsideração. Mas, nada disso muda o fato do poder ser um fenômeno que se manifesta autonomamente em relação à informação e ao conhecimento.

Para compreender melhor isto, olhe para você mesmo!
“Que poder você tem?”
O poder que eventualmente você tiver certamente não decorre do seu nível de informação, conhecimento, e nem mesmo de sua experiência.

Se informação e conhecimento demandassem poder, os intelectuais, por exemplo, seriam muito poderosos. Todavia, em geral, os intelectuais situam-se no extremo oposto em relação às pessoas com real expressão de poder. Nesse contexto, a capacidade humana de aquisição de informação e conhecimento encontra sua plenitude na sabedoria, condição esta atribuída somente a pouquíssimas personalidades da humanidade – os sábios. Porém, da mesma forma, se informação, conhecimento e experiência demandassem poder, os sábios então seriam poderosíssimos. Entretanto, vale destacar que uma evidente característica comum aos sábios é a sua inexpressividade em termos de poder.

Se informação e conhecimento demandassem poder, as escolas, academias, bibliotecas, universidades, centros de estudos e pesquisas, laboratórios, serviços de inteligência, bem como todos aqueles que operam nesses centros de excelência do saber como alunos, professores, pesquisadores, estudiosos, analistas, dirigentes de serviços de inteligência e cientistas, seriam os donos do poder. Mas, não são.

A verdade é que o poder não está nas mãos dos que sabem, porque “saber não é poder”. Basta estudar as personalidades realmente poderosas para constatar que o poder está nas mãos dos que fazem, porque “fazer é poder”. É exatamente por isso que alunos, professores, pesquisadores, estudiosos, intelectuais, analistas, dirigentes de serviços de inteligência, cientistas e sábios, enquanto nessa condição, não possuem poder algum, pois eles apenas “sabem”.

Extrapolando ao limite, significa dizer que entre a inação de um “sabedor” e a ignorância de um “fazedor”, este tem muito maior poder, pois um “sabedor” que nada faz, apenas “sabe”; enquanto que um ignorante “fazedor” tem o grande poder de fazer o que não deveria – o que geralmente ocorre.

Exemplos reais não faltam para ilustrar essa realidade, que vão do hilário ao trágico. O estereótipo da “loura burra”, a despeito de ser objeto de piadas generalizadas, representa a mulher que se enquadra no padrão do(a) ignorante “fazedor(a)”, caracterizando-se por ser, de um lado, uma mulher de pouca ou nenhuma cultura; mas, por outro, uma mulher que incorpora o esplendor da beleza estética. A resultante de tudo isso, que incomoda profundamente as outras mulheres (muito mais inteligentes, porém não tão “belas”), é que a “loura burra”, apesar de “burra”, consegue tudo o que quer, pois sendo extremamente bem-sucedida na maximização da sua beleza, se torna “poderosíssima”, como malgrado reconhecem as próprias mulheres.

Outro exemplo, mundialmente trágico, é o terrorismo – maior ameaça difusa da atualidade. Terroristas são “fazedores” por excelência e, “fazendo” ao máximo, constituem o maior temor da comunidade internacional; pois, indubitavelmente e infelizmente, terroristas têm muito poder.

Na verdade, informação e conhecimento podem representar valor inestimável em termos de poder como “potencial de poder”. Significa dizer que maior será o poder daquele que aplicar o seu saber em benefício da maximização de suas ações, sem o que toda informação e conhecimento são inúteis.

Portanto, o poder é privilégio e exclusividade dos que têm a coragem de agir com efetividade. Quando pessoas dessa natureza também são contempladas com as expertises da inteligência e do saber seu poder é digno, legitimo e absoluto.

Um comentário:

  1. Francisco J. S. da Silva24 de março de 2010 às 22:04

    Saudações Brasileiras!!

    Mais uma vez o Sr. nos brinda com um texto soberbo. Sua constatação já foi tema de longas conversas entre amigos na caserna. Talvez o Sr. conheça o texto abaixo, que trata do mesmo tema. Caso não conheça, leia agora, é bem interessante (recebi por correio eletrônico de um amigo):

    O MEDO CAUSADO PELA INTELIGÊNCIA
    Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas.
    O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal: “Meu jovem, você cometeu um grande erro.
    Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável !
    Devia ter começado um pouco mais na sombra.
    Devia ter gaguejado um pouco.
    Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. "O talento assusta".
    Ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pôde dar ao pupilo que se iniciava n'uma carreira difícil.
    Isso, na Inglaterra. Imaginem aqui, no Brasil.
    Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa:
    “Há tantos burros mandando em homens de inteligência,que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma Ciência”.
    A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um indisfarçável medo da inteligência.
    Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de posições.
    Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes que não revelam o apetite do poder.
    Mas, é preciso considerar que esses medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com verdadeiras muralhas de granito por onde talentosos não conseguem passar.
    Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas, as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos.
    Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão do "Elogio da Loucura", de Erasmo de Roterdan, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa fingir de burra se quiser vencer na vida.
    É pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social.
    Assim como um grupo de senhoras burguesas bem casadas boicota, automaticamente, a entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência,por medo de perder seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham como ostras, à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar.
    Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com uma perna nas costas...
    Enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender.
    É um paradoxo angustiante !
    Infelizmente, temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida.
    Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues...
    "Finge-te de idiota, e terás o céu e a terra".
    O problema é que os inteligentes gostam de brilhar!
    Que Deus os proteja, então, dos medíocres!...
    por José Alberto Gueiros

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