Artigo de André Soares
“Decifrar” pessoas é o desafio de conhecer o ser humano cada vez mais e plenamente, que perpassa os tempos, no qual a humanidade tem se empenhado incansavelmente, pelo incomensurável valor que estes conhecimentos representam. A felicidade e o sucesso são intrínsecos a lidar com pessoas, seja consigo mesmo, na família, no trabalho, na vida social, na política, no amor, no sexo, na paz e na guerra . Do misticismo à bruxaria, da arte à ciência, o “vale tudo” pela expertise de “decifrar” pessoas se justifica tanto nos incontáveis argumentos pela benemerência universal, como nos encobertos propósitos de manipulação humana.
Apesar das várias descobertas e conhecimentos produzidos sobre o comportamento humano a maior dificuldade em desvendá-lo decorre da natural contrapartida de defesa contra esta ação de investigação, que se manifesta na extraordinária capacidade psicossocial do ser humano de enganar e se auto-enganar, induzindo a erro com maestria a todos e inclusive a si mesmo, sobre a verdade da sua própria natureza.
O resultado final mais efetivo no convívio e relacionamento humanos é que as pessoas se tornaram muito mais hábeis em enganar o outro do que em conhecê-lo. Conseqüentemente, as ações propositivas individualmente envidadas no sentido de “decifrar” as pessoas, na sua maioria, resultam muito mais em erros que acertos. Assim, paradoxalmente aos avanços nos estudos da psique, avulta a crescente epidemia de crises e transtornos mentais que vem comprometendo gravemente a saúde das pessoas na atualidade, os quais são decorrentes principalmente das frustrações, insucessos e fracassos nos relacionamentos inter e intrapessoais, que inspiram grande preocupação nos principais fóruns internacionais dedicados a este mister.
Se na atual conjuntura o desafio de “decifrar” pessoas está cada vez mais difícil, merece destacar dois princípios fundamentais que retratam com grande objetividade e fidedignidade um dos principais elementos determinantes do comportamento humano – a personalidade.
“Quer decifrar pessoas?”
Então, conheça as suas personalidades.
“Quer conhecer a personalidade de alguém?”
Então, conheça o seu passado, pois “as pessoas são escravas do próprio passado.”
O passado é o “retrato” de cada pessoa e a amostra fiel do “DNA” da sua personalidade, do qual não se pode fugir. Mas, conheça-o o mais integralmente possível, atentando para o fato de que como as pessoas escondem o passado que não lhes agrada é este lado obscuro o que há de mais revelador sobre as suas personalidades.
Merece especial atenção saber que ainda pior que aquele que tem um passado a esconder é aquele que o renega. Estes, em geral, afirmam terem se redimido dos erros anteriormente cometidos e se transformado em “novas” pessoas, a partir de então. Mentira! Nada mais falso e traiçoeiro! Reconstruir a vida a partir dos próprios erros só é possível, verdadeiro e autêntico assumindo-os e “carregando a cruz” do próprio passado. Querer “apagá-lo” é renegar-se a si próprio, e só faz evidenciar aqueles que na verdade têm vergonha de si mesmos, pois sabem o que realmente são, e indubitavelmente continuarão a ser.
“Quer conhecer a personalidade de alguém?”
Então, conheça o seu exemplo, pois nada é mais verdadeiro sobre uma pessoa que as suas ações e inações.
Se também podemos identificar indícios da personalidade humana nas manifestações do seu comportamento por meio das palavras, dos gestos, dos desejos, das intenções, das idéias, dos sonhos, etc, por outro lado são as suas ações e inações o que há de mais crível e cabal sobre alguém. O que uma pessoa faz é exatamente o que ela é, e o verdadeiro ser de uma pessoa se revela integralmente no que ela faz, ou deixa de fazer. Nada é tão simples e ao mesmo tempo tão difícil e doloroso de aceitar como esse fato, pois as pessoas preferem se iludir no erro de imaginar que a personalidade do ser humano pode transcender às suas próprias ações. Ledo engano!
A arte de “decifrar” pessoas requer a coragem de perscrutar a verdade e aceitá-la, pois para conhecer verdadeiramente o outro é necessário, antes de tudo, conhecer verdadeiramente a si próprio. Portanto, investigando passado e o exemplo, “decifra-se” toda e qualquer pessoa. Significa dizer também que seja lá qual forem o seu passado e o seu exemplo, é exatamente isso o que você é.
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