Hércules Rodrigues de Oliveira - Mestre em administração, professor da UNI-BH
Fala-se muito da morosidade da Justiça e da falta contumaz de decoro do Legislativo, mas, verdade seja dita, bem ou mal, eles trabalham, e muito, caso contrário, haveria um colapso no processo institucional democrático nacional, e a ideia de que Deus é brasileiro há muito que já não existiria. Conforme a Lei 12.011/09, de iniciativa do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e aprovada pelo Congresso Nacional, o Conselho de Justiça Federal (CJF), por intermédio da Resolução 102/10, determinou a criação de 230 varas federais até 2014, entre estas estão as chamadas Varas de Juizados Especiais, neste caso particularmente, a Vara Ambiental, necessidade recorrente tanto dos ambientalistas quanto daqueles que tratam da inteligência estratégica de Estado, precipuamente representada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
O presidente do STJ, ministro César Rocha, disse que “as questões ambientais requerem, com frequência, extrema rapidez para que os danos não se tornem irreversíveis, inclusive com o risco de perda, para sempre, de elementos da flora e da fauna ameaçados de extinção” e, bem ao estilo jurídico, conclui: “In dubio pro natureza” (na dúvida, a favor da natureza). As questões ambientalistas fazem parte do portfólio de atuação de todos os serviços secretos estrangeiros. Com um país de dimensões continentais como o Brasil, a Abin não poderia furtar-se a essa missão, daí a importância de existir um Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) – em que atuam em conjunto o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia e os ministérios da Justiça, da Defesa, da Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente, entre outras instituições que o Estado brasileiro julgar necessário participar.
Mas meio ambiente não é tão somente a Amazônia, considerada a maior floresta tropical do mundo, é também a biodiversidade presente diuturnamente em nossas vidas, pois respiramos o ar que vem do mar e das florestas, nos alimentamos de frutas polinizadas por abelhas. A água, fonte de vida, é insumo do processo produtivo na agricultura, na pecuária e na indústria. A perda de espécies é uma ameaça à própria sobrevivência do homem na Terra. Daí a importância de a Abin, por meio das ações especializadas e da contrainteligência, proteger os biomas brasileiros, também representados pela zona costeira, a caatinga, o cerrado, a mata atlântica, os Pampas e o Pantanal, cada qual com espécies endêmicas, contra as intrusões da biopirataria e da hidropirataria.
A nossa rica biodiversidade chama a atenção dos atores internacionais, ávidos em busca do lucro fácil. A biopirataria não se restringe ao contrabando de espécies vivas, mas também se faz presente pela apropriação indevida de conhecimentos adquiridos pelas gerações das populações tradicionais, que buscaram o uso de recursos espalhados na natureza. A hidropiratria tem chamado a atenção, pois navios estrangeiros que navegam na Amazônia estão lavando seus tanques de lastro em nossos rios, poluindo-os e introduzindo espécies exóticas que podem, como já ocorreu em alguns casos, destruir a fauna e flora nativa, entretanto, quando fecham as comportas, acabam também por levar a água doce dos rios, ricos em biodiversidade.
O tráfico de animais silvestres é o outro lado perverso da biopirataria. Segundo dados da Polícia Federal, o comércio ilegal de animais é a terceira atividade ilegal mais lucrativa, depois do tráfico de drogas e de armas. Cabe à inteligência estratégica brasileira fortalecer a sua missão institucional, como o centro do Sisbin, ajudando as novas Varas Ambientais no sentido de produzir conhecimentos necessários para ajudar a desvendar quais são os atores nacionais e internacionais que ocupam sorrateiramente regiões ricas em biodiversidade, utilizando-se de organizações não governamentais disfarçadas de assistencialistas, para roubar a nossa terra e a nossa gente.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Quem ama não mata
Artigo de André Soares - 12/07/2010
“Quem ama não mata” lembra o título de uma antiga minissérie escrita por Euclydes Marinho e protagonizada por Cláudio Marzo e Marília Pêra, sobre a degenerescência de um amor romântico, com trágico final de crime e morte. A despeito da louvável exaltação à vida que esse título sugere, o seu enredo retrata a realidade que “quem ama, também, mata”. Aliás, pura ingenuidade imaginar que o amor é apenas propósito de benemerências; pois, no mundo em que vivemos, mata-se muito em nome dele, principalmente por amor a deus e amor à pátria.
Deixando o mérito das exacerbações do patriotismo e fé para uma próxima discussão, a verdade é que o denominado amor romântico, além de prazeroso, é também muito perigoso – porque mata. Essa verdade inconteste é admirada na conhecida história de “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, conquanto os amores na vida real sejam menos românticos, pois se “Romeu e Julieta” “morreram de amor”, os apaixonados da vida real “matam por amor”.
O pano de fundo por trás de tudo isso? – “amor e sexo”, combinação explosiva e instável. Conseqüentemente, amantes apaixonados invadem terreno perigoso e imprevisível, especialmente para as mulheres, as potenciais vítimas. Isto está escancarado nos estudos sobre a motivação dos crimes passionais entre parceiros e cônjuges; pois, no limite do desespero emocional da perda, resultante da separação litigiosa entre amantes apaixonados - mulheres choram e homens matam. Mulheres não matam por amor. Homens, sim.
Entender essa genealogia requer mergulhar fundo no universo da natureza humana. Entretanto, a sua síntese pode ser resumida numa palavra – testosterona. Obviamente, esse hormônio não é o culpado, mas é a causa do comportamento masculino agressivo, não apenas dos homens, mas dos machos no mundo animal. É exatamente isso que o ilustre Dr. Elsimar Coutinho, uma das maiores autoridades mundiais em reprodução humana, explica com sobeja propriedade, ao enfatizar que, em relação à mulher, o homem é um ser “testosterona-dependente”. Portanto, a agressividade masculina exacerba-se quando associada ao impulso sexual, sendo ambos fortemente influenciados pela ação hormonal da testosterona.
De outra parte, merece assinalar que as mulheres, embora vítimas potenciais, geralmente têm parcela significativa de responsabilidade nesses infortúnios, dada à imaturidade com a qual conduzem seus relacionamentos amorosos.
Inicialmente, o espírito romanesco das mulheres lhes é inerente e essencial à sua feminilidade, tão apreciada pelos homens. Porém, mesmo sabendo que príncipes encantados e romances de Cinderela só existem na ficção, insistem no erro de imaginar que os homens vivenciam a perda no amor exatamente como elas – chorando. Com isso, se escondem na falsa ingenuidade de acreditar que a natureza masculina aceitará o rompimento, ou pior, a rejeição em uma forte relação amorosa, apenas com lágrimas. Mulheres assim, se esquecem também que amor e ódio são sentimentos de mesma natureza, diferindo apenas quanto à posse do objeto de desejo. Como é próprio da natureza feminina sempre investir num novo e mais promissor relacionamento amoroso, as mulheres acabam por criar o ambiente propício para a eclosão de episódios de fúria masculina, regada à testosterona de seus ex-amantes que, preteridos, podem protagonizar finais trágicos.
Também é notório que muitas mulheres, objetivando conseguir a sua “segurança financeira”, buscam comprometer o provedor-alvo engravidando-se por meio de relacionamento sexualmente consensual, sob o falso pretexto de terem sido induzidas, ou seduzidas. Essa estratégia remonta aos primórdios de Adão e Eva e vem conquistando cada vez mais adeptas, especialmente pela certeza de vitória em processos judiciais, pois a jurisprudência invariavelmente corrobora os resultados infalíveis de testes de DNA. O êxito crescente dessa “estratégia” tem estimulado a busca de uma vida fácil, por via da gravidez de um “testosterona-dependente”, idiota qualquer, desde que abastado. Verdade seja dita, algumas dessas mulheres foram tão “bem-sucedidas” que são consagradas e reverenciadas como verdadeiras celebridades. Todavia, essa é mais uma perigosa estratégia feminina, que proporciona ambiente conflituoso em relação aos seus amantes incautos, ou enganados, que pode ensejar também a eclosão de graves conseqüências e crimes passionais.
Por derradeiro, o fator determinante da saúde das relações interpessoais é a índole das pessoas, pois personalidade e caráter honrados e dignos conduzem o convívio social e as relações humanas aos melhores auspícios. Isto significa que a vida e os relacionamentos que se tem, sejam eles quais forem, representam exatamente a personalidade e o caráter de seus protagonistas. Portanto, no fim das contas, todos os casais se merecem; pois, confirmando o antigo ditado, “diga-me com quem andas e dir-te-ei quem és”.
“Quem ama não mata” lembra o título de uma antiga minissérie escrita por Euclydes Marinho e protagonizada por Cláudio Marzo e Marília Pêra, sobre a degenerescência de um amor romântico, com trágico final de crime e morte. A despeito da louvável exaltação à vida que esse título sugere, o seu enredo retrata a realidade que “quem ama, também, mata”. Aliás, pura ingenuidade imaginar que o amor é apenas propósito de benemerências; pois, no mundo em que vivemos, mata-se muito em nome dele, principalmente por amor a deus e amor à pátria.
Deixando o mérito das exacerbações do patriotismo e fé para uma próxima discussão, a verdade é que o denominado amor romântico, além de prazeroso, é também muito perigoso – porque mata. Essa verdade inconteste é admirada na conhecida história de “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare, conquanto os amores na vida real sejam menos românticos, pois se “Romeu e Julieta” “morreram de amor”, os apaixonados da vida real “matam por amor”.
O pano de fundo por trás de tudo isso? – “amor e sexo”, combinação explosiva e instável. Conseqüentemente, amantes apaixonados invadem terreno perigoso e imprevisível, especialmente para as mulheres, as potenciais vítimas. Isto está escancarado nos estudos sobre a motivação dos crimes passionais entre parceiros e cônjuges; pois, no limite do desespero emocional da perda, resultante da separação litigiosa entre amantes apaixonados - mulheres choram e homens matam. Mulheres não matam por amor. Homens, sim.
Entender essa genealogia requer mergulhar fundo no universo da natureza humana. Entretanto, a sua síntese pode ser resumida numa palavra – testosterona. Obviamente, esse hormônio não é o culpado, mas é a causa do comportamento masculino agressivo, não apenas dos homens, mas dos machos no mundo animal. É exatamente isso que o ilustre Dr. Elsimar Coutinho, uma das maiores autoridades mundiais em reprodução humana, explica com sobeja propriedade, ao enfatizar que, em relação à mulher, o homem é um ser “testosterona-dependente”. Portanto, a agressividade masculina exacerba-se quando associada ao impulso sexual, sendo ambos fortemente influenciados pela ação hormonal da testosterona.
De outra parte, merece assinalar que as mulheres, embora vítimas potenciais, geralmente têm parcela significativa de responsabilidade nesses infortúnios, dada à imaturidade com a qual conduzem seus relacionamentos amorosos.
Inicialmente, o espírito romanesco das mulheres lhes é inerente e essencial à sua feminilidade, tão apreciada pelos homens. Porém, mesmo sabendo que príncipes encantados e romances de Cinderela só existem na ficção, insistem no erro de imaginar que os homens vivenciam a perda no amor exatamente como elas – chorando. Com isso, se escondem na falsa ingenuidade de acreditar que a natureza masculina aceitará o rompimento, ou pior, a rejeição em uma forte relação amorosa, apenas com lágrimas. Mulheres assim, se esquecem também que amor e ódio são sentimentos de mesma natureza, diferindo apenas quanto à posse do objeto de desejo. Como é próprio da natureza feminina sempre investir num novo e mais promissor relacionamento amoroso, as mulheres acabam por criar o ambiente propício para a eclosão de episódios de fúria masculina, regada à testosterona de seus ex-amantes que, preteridos, podem protagonizar finais trágicos.
Também é notório que muitas mulheres, objetivando conseguir a sua “segurança financeira”, buscam comprometer o provedor-alvo engravidando-se por meio de relacionamento sexualmente consensual, sob o falso pretexto de terem sido induzidas, ou seduzidas. Essa estratégia remonta aos primórdios de Adão e Eva e vem conquistando cada vez mais adeptas, especialmente pela certeza de vitória em processos judiciais, pois a jurisprudência invariavelmente corrobora os resultados infalíveis de testes de DNA. O êxito crescente dessa “estratégia” tem estimulado a busca de uma vida fácil, por via da gravidez de um “testosterona-dependente”, idiota qualquer, desde que abastado. Verdade seja dita, algumas dessas mulheres foram tão “bem-sucedidas” que são consagradas e reverenciadas como verdadeiras celebridades. Todavia, essa é mais uma perigosa estratégia feminina, que proporciona ambiente conflituoso em relação aos seus amantes incautos, ou enganados, que pode ensejar também a eclosão de graves conseqüências e crimes passionais.
Por derradeiro, o fator determinante da saúde das relações interpessoais é a índole das pessoas, pois personalidade e caráter honrados e dignos conduzem o convívio social e as relações humanas aos melhores auspícios. Isto significa que a vida e os relacionamentos que se tem, sejam eles quais forem, representam exatamente a personalidade e o caráter de seus protagonistas. Portanto, no fim das contas, todos os casais se merecem; pois, confirmando o antigo ditado, “diga-me com quem andas e dir-te-ei quem és”.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
"Me engana, que eu gosto!"
Artigo de André Soares - 08/07/2010.
Auto-engano é a capacidade do ser humano de enganar-se, a si próprio. Esse aparente delírio da imaginação é, na verdade, um complexo e eficiente fenômeno psicológico que viabiliza às pessoas irem além da capacidade de enganarem os outros, alcançando a capacidade de enganarem a si mesmas. Suas manifestações ocorrem não apenas no plano individual, mas também no coletivo, significando que este é um fenômeno psicossocial abrangente que acomete pessoas, grupos e sociedades. Sua gênese é proveniente da fragilidade de auto-afirmação humana, decorrente da incapacidade pessoal de enfrentar dificuldades e vencer desafios, perante a realidade desfavorável, ou adversa. Assim, no limiar da tolerância psicológica ao “lado trágico” da vida, dá-se a fuga para a alternativa fácil da substituição da realidade inconveniente por outra, certamente mais agradável, porém irreal. Nesse mister, vale destacar que Eduardo Gianetti da Fonseca foi quem melhor analisou e explicou esse fenômeno, em sua brilhante obra, intitulada “Auto-engano”.
“Me engana, que eu gosto” é uma expressão muito conhecida no país, que retrata o auto-engano de uma nação que se imagina incólume aos seus efeitos, à semelhança da “mulher de malandro”. É nesse contexto que muitos brasileiros, fugindo da necessidade de “acordar” e encarar as agruras da vida nacional, se auto-enganam, por exemplo, ao verem o Brasil sendo aclamado internacionalmente como a nova potência econômica mundial emergente. Controvérsias e polêmicas econômicas à parte, não há dúvidas de que vivemos num país de excelentes oportunidades para se ganhar dinheiro - muito dinheiro. Todavia, o alvissareiro futuro nacional será auspicioso apenas para poucos – os que não se deixam enganar.
Estes conhecem o “lado trágico” da realidade brasileira, diferentemente da nossa sociedade que prefere se iludir em sua “zona de conforto”, pois a “massa” é o reduto dos auto-enganados, como corajosamente profetizou o incompreendido Nelson Rodrigues, ao nos advertir que “toda a unanimidade é burra!”. Assim, agindo como o “pior cego”, pois este “é aquele não quer ver”, estão milhões de brasileiros, apostando seus destinos em viver acreditando nas mentiras dos discursos e promessas sedutoras dos políticos, religiosos, comandantes, autoridades e governantes; cuja argumentação é incapaz de convencer a mais modesta manifestação de inteligência. Lamentável é o destino inexorável desses auto-enganados: homens, mulheres, profissionais, militares, civis, militantes, etc; porquanto lembra a sabedoria do grande filósofo que “é muito perigoso libertar quem prefere a escravidão”.
Assim é que, “acordando” tardiamente para o mundo real, quando o avançar da vida inviabiliza cada vez mais a possibilidade de recomeço, intensificam-se as sucessivas e inevitáveis crises na vida dessas pessoas, quando se deparam com a mediocridade do que efetivamente se tornaram e com o destino infeliz que deram às suas próprias vidas. Vendo o próprio tempo se esvair na contagem regressiva de suas existências descobrem, então, que perderam o seu principal patrimônio, pois tempo é vida.
Atualmente, nosso país abriga gerações e gerações de pessoas amarguradas, relegadas a uma vida inexpressiva, por vezes indigna e de privações extensivas à própria família, sem qualquer expectativa de um “novo” futuro. Restando-lhes apenas reclamar, atribuindo seus infortúnios ao ardil de terem sido criminosamente enganadas, vale dizer que não se vive enganado, ou auto-enganado, à própria revelia. Assim, sofrimento e arrependimento constituem o legado dos que escolherem viver sob o lema “Me engana, que eu gosto!”, posto que cada pessoa é a única responsável pelo próprio destino.
Se a própria vida é o maior bem que se pode ter, não se deve desperdiçá-la na ilusão das promessas tolas, das idéias tolas, das pessoas tolas. Seja protagonista da própria vida e construa a sua história por você mesmo; pois, na pior hipótese, é ainda preferível errar por suas decisões, que pela influência alheia.
Auto-engano é a capacidade do ser humano de enganar-se, a si próprio. Esse aparente delírio da imaginação é, na verdade, um complexo e eficiente fenômeno psicológico que viabiliza às pessoas irem além da capacidade de enganarem os outros, alcançando a capacidade de enganarem a si mesmas. Suas manifestações ocorrem não apenas no plano individual, mas também no coletivo, significando que este é um fenômeno psicossocial abrangente que acomete pessoas, grupos e sociedades. Sua gênese é proveniente da fragilidade de auto-afirmação humana, decorrente da incapacidade pessoal de enfrentar dificuldades e vencer desafios, perante a realidade desfavorável, ou adversa. Assim, no limiar da tolerância psicológica ao “lado trágico” da vida, dá-se a fuga para a alternativa fácil da substituição da realidade inconveniente por outra, certamente mais agradável, porém irreal. Nesse mister, vale destacar que Eduardo Gianetti da Fonseca foi quem melhor analisou e explicou esse fenômeno, em sua brilhante obra, intitulada “Auto-engano”.
“Me engana, que eu gosto” é uma expressão muito conhecida no país, que retrata o auto-engano de uma nação que se imagina incólume aos seus efeitos, à semelhança da “mulher de malandro”. É nesse contexto que muitos brasileiros, fugindo da necessidade de “acordar” e encarar as agruras da vida nacional, se auto-enganam, por exemplo, ao verem o Brasil sendo aclamado internacionalmente como a nova potência econômica mundial emergente. Controvérsias e polêmicas econômicas à parte, não há dúvidas de que vivemos num país de excelentes oportunidades para se ganhar dinheiro - muito dinheiro. Todavia, o alvissareiro futuro nacional será auspicioso apenas para poucos – os que não se deixam enganar.
Estes conhecem o “lado trágico” da realidade brasileira, diferentemente da nossa sociedade que prefere se iludir em sua “zona de conforto”, pois a “massa” é o reduto dos auto-enganados, como corajosamente profetizou o incompreendido Nelson Rodrigues, ao nos advertir que “toda a unanimidade é burra!”. Assim, agindo como o “pior cego”, pois este “é aquele não quer ver”, estão milhões de brasileiros, apostando seus destinos em viver acreditando nas mentiras dos discursos e promessas sedutoras dos políticos, religiosos, comandantes, autoridades e governantes; cuja argumentação é incapaz de convencer a mais modesta manifestação de inteligência. Lamentável é o destino inexorável desses auto-enganados: homens, mulheres, profissionais, militares, civis, militantes, etc; porquanto lembra a sabedoria do grande filósofo que “é muito perigoso libertar quem prefere a escravidão”.
Assim é que, “acordando” tardiamente para o mundo real, quando o avançar da vida inviabiliza cada vez mais a possibilidade de recomeço, intensificam-se as sucessivas e inevitáveis crises na vida dessas pessoas, quando se deparam com a mediocridade do que efetivamente se tornaram e com o destino infeliz que deram às suas próprias vidas. Vendo o próprio tempo se esvair na contagem regressiva de suas existências descobrem, então, que perderam o seu principal patrimônio, pois tempo é vida.
Atualmente, nosso país abriga gerações e gerações de pessoas amarguradas, relegadas a uma vida inexpressiva, por vezes indigna e de privações extensivas à própria família, sem qualquer expectativa de um “novo” futuro. Restando-lhes apenas reclamar, atribuindo seus infortúnios ao ardil de terem sido criminosamente enganadas, vale dizer que não se vive enganado, ou auto-enganado, à própria revelia. Assim, sofrimento e arrependimento constituem o legado dos que escolherem viver sob o lema “Me engana, que eu gosto!”, posto que cada pessoa é a única responsável pelo próprio destino.
Se a própria vida é o maior bem que se pode ter, não se deve desperdiçá-la na ilusão das promessas tolas, das idéias tolas, das pessoas tolas. Seja protagonista da própria vida e construa a sua história por você mesmo; pois, na pior hipótese, é ainda preferível errar por suas decisões, que pela influência alheia.
terça-feira, 6 de julho de 2010
Inteligência versus inteligência
Por Hércules Rodrigues de Oliveira*
Os meandros que regem as questões afetas ao emprego da atividade de inteligência enquanto ferramenta de proteção do Estado Nacional transcende questões do coração, mas que, pedindo vênia ao filósofo Blaise Pascal, a própria razão bem as conhece, isto porque não se pode ser ingênuo no mundo de segredos dos serviços secretos.
Visões romanescas se permitem somente nos cinemas e nos bons livros de espionagem, John Le Carré que o diga. Na verdade, a práxis é bem outra e muitas vezes em nada glamorosa. O recente episódio que está sendo divulgado pela mídia revelando esquema de uma rede de espionagem da Federação da Rússia nos Estados Unidos da América (EUA), lembra-nos antigo brocardo: “Amigos, amigos, negócios à parte”.
Por certo que o mundo assiste com prazer as boas relações que, teoricamente, se fortalecem entre a Casa Branca e o Kremlin, haja vista as imagens dos dois governantes Barak Obama e Dimitri Medvedev, em Arlington/Washington, saboreando hambúrguer e dividindo uma porção de batatas fritas.
Com o fim da Guerra Fria (1945-1991) os serviços secretos de ambos os países, a Central de Inteligência Americana (CIA) e o Serviço de Inteligência Exterior (SVR), que veio a substituir o Comitê de Segurança do Estado (KGB), foram reorientados em suas atividades institucionais, passando a atuar sobre o Terrorismo Internacional, as Organizações Criminosas Transnacionais, a proliferação de arsenais de Armas de Destruição em Massa (ADM), Questões Ambientais, emprego de Tecnologias de Uso Dual, Inteligência e Espionagem econômicas.
Ledo engano acreditar que a reorientação veio para inibir os interesses geoestratégicos destes atores internacionais. Apesar do abraço fraterno entre ambos, existem divergências sérias envolvendo não só a Geórgia e a Ucrânia, que estão sendo cooptados a se integrarem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), sob a regência dos EUA, mas também o Afeganistão e o Iraque, haja vista o desejo estadunidense em ter livre acesso aos recursos energéticos seja por gasoduto ou oleoduto, sem a interferência da Rússia.
Junte-se a isso a questão recorrente da Polônia, como base interceptora e a República Checa, como estação de radar, para a instalação do Sistema Antimíssil Balístico (BMD – Balistic Missile Defense) para proteção do território norte-americano e do continente Europeu, contra ataques de mísseis intercontinentais originados do Irã, o que os russos julgam pouco prováveis, pois um ataque desta magnitude aos EUA promoveria um contra-ataque fulminante aos iranianos.
Interessante é que os russos ofereceram aos norte-americanos a possibilidade de instalação de interceptadores e de radares em Gabala, no Azerbeijão, que poderia monitorar não só o Irã, mas a China, a Índia, o Paquistão e a Turquia, o que não foi aceito, deixando os russos em dúvida sobre as reais intenções dos EUA no que diz respeito ao “escudo” antimíssil. Diante deste fato encontraram razões suficientes para desvendar informações outras sobre o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (START – Strategic Arms Reduction Treaty) recentemente assinado.
No mundo globalizado onde o conhecimento é o ativo mais importante, casos de espionagem serão sempre recorrentes. Lembremo-nos que em 2006, o Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia, instituição similar a nossa Polícia Federal (PF), identificou quatro agentes britânicos fazendo espionagem em Moscou. Em abril deste ano, hackers chineses fizeram espionagem cibernética na Índia se fazendo passar por pesquisadores, roubando documentos do Ministério da Defesa e e-mails do gabinete do Dalai Lama.
Na América do Sul, apesar do rompimento das relações diplomáticas entre Equador e Colômbia em 2008, o governo equatoriano está atualmente investigando denúncia de espionagem telefônica contra o presidente Rafael Correa por agentes do Departamento Administrativo de Segurança (DAS) da Colômbia. Nosso país caminha a passos seguros para se tornar mais um player global.
Camada de pré-sal, biodiversidade, agronegócio, energia nuclear, Nióbio, indústria aeronáutica, biocombustível, água e tantas riquezas atraem interesses internacionais às vezes nada edificantes, por isso, precisamos efetivamente de um excelente serviço de inteligência para lutar em defesa do Brasil.
*Hércules Rodrigues de Oliveira é Professor Universitário e Mestre em Administração. É também autor do livro "Breve história do conhecimento e de sua proteção - Aspectos da Inteligência e Propriedade Intelectual", Ed. FUNDAC, 2009.
Os meandros que regem as questões afetas ao emprego da atividade de inteligência enquanto ferramenta de proteção do Estado Nacional transcende questões do coração, mas que, pedindo vênia ao filósofo Blaise Pascal, a própria razão bem as conhece, isto porque não se pode ser ingênuo no mundo de segredos dos serviços secretos.
Visões romanescas se permitem somente nos cinemas e nos bons livros de espionagem, John Le Carré que o diga. Na verdade, a práxis é bem outra e muitas vezes em nada glamorosa. O recente episódio que está sendo divulgado pela mídia revelando esquema de uma rede de espionagem da Federação da Rússia nos Estados Unidos da América (EUA), lembra-nos antigo brocardo: “Amigos, amigos, negócios à parte”.
Por certo que o mundo assiste com prazer as boas relações que, teoricamente, se fortalecem entre a Casa Branca e o Kremlin, haja vista as imagens dos dois governantes Barak Obama e Dimitri Medvedev, em Arlington/Washington, saboreando hambúrguer e dividindo uma porção de batatas fritas.
Com o fim da Guerra Fria (1945-1991) os serviços secretos de ambos os países, a Central de Inteligência Americana (CIA) e o Serviço de Inteligência Exterior (SVR), que veio a substituir o Comitê de Segurança do Estado (KGB), foram reorientados em suas atividades institucionais, passando a atuar sobre o Terrorismo Internacional, as Organizações Criminosas Transnacionais, a proliferação de arsenais de Armas de Destruição em Massa (ADM), Questões Ambientais, emprego de Tecnologias de Uso Dual, Inteligência e Espionagem econômicas.
Ledo engano acreditar que a reorientação veio para inibir os interesses geoestratégicos destes atores internacionais. Apesar do abraço fraterno entre ambos, existem divergências sérias envolvendo não só a Geórgia e a Ucrânia, que estão sendo cooptados a se integrarem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), sob a regência dos EUA, mas também o Afeganistão e o Iraque, haja vista o desejo estadunidense em ter livre acesso aos recursos energéticos seja por gasoduto ou oleoduto, sem a interferência da Rússia.
Junte-se a isso a questão recorrente da Polônia, como base interceptora e a República Checa, como estação de radar, para a instalação do Sistema Antimíssil Balístico (BMD – Balistic Missile Defense) para proteção do território norte-americano e do continente Europeu, contra ataques de mísseis intercontinentais originados do Irã, o que os russos julgam pouco prováveis, pois um ataque desta magnitude aos EUA promoveria um contra-ataque fulminante aos iranianos.
Interessante é que os russos ofereceram aos norte-americanos a possibilidade de instalação de interceptadores e de radares em Gabala, no Azerbeijão, que poderia monitorar não só o Irã, mas a China, a Índia, o Paquistão e a Turquia, o que não foi aceito, deixando os russos em dúvida sobre as reais intenções dos EUA no que diz respeito ao “escudo” antimíssil. Diante deste fato encontraram razões suficientes para desvendar informações outras sobre o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (START – Strategic Arms Reduction Treaty) recentemente assinado.
No mundo globalizado onde o conhecimento é o ativo mais importante, casos de espionagem serão sempre recorrentes. Lembremo-nos que em 2006, o Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia, instituição similar a nossa Polícia Federal (PF), identificou quatro agentes britânicos fazendo espionagem em Moscou. Em abril deste ano, hackers chineses fizeram espionagem cibernética na Índia se fazendo passar por pesquisadores, roubando documentos do Ministério da Defesa e e-mails do gabinete do Dalai Lama.
Na América do Sul, apesar do rompimento das relações diplomáticas entre Equador e Colômbia em 2008, o governo equatoriano está atualmente investigando denúncia de espionagem telefônica contra o presidente Rafael Correa por agentes do Departamento Administrativo de Segurança (DAS) da Colômbia. Nosso país caminha a passos seguros para se tornar mais um player global.
Camada de pré-sal, biodiversidade, agronegócio, energia nuclear, Nióbio, indústria aeronáutica, biocombustível, água e tantas riquezas atraem interesses internacionais às vezes nada edificantes, por isso, precisamos efetivamente de um excelente serviço de inteligência para lutar em defesa do Brasil.
*Hércules Rodrigues de Oliveira é Professor Universitário e Mestre em Administração. É também autor do livro "Breve história do conhecimento e de sua proteção - Aspectos da Inteligência e Propriedade Intelectual", Ed. FUNDAC, 2009.
Quem você é?
Artigo de André Soares - 05/07/2010
Uma passagem filosófica relata a história de um sábio que passeava por um bosque e, cansado, recostou-se ao pé de uma árvore. E adormeceu. E, dormindo, sonhou que era uma libélula que passeava por um bosque e, cansada, recostou-se ao pé de uma árvore. E adormeceu. E, dormindo, sonhou que era um sábio que passeava por um bosque e, cansado, recostou-se ao pé de uma árvore. E adormeceu. E, enfim, acordou. A partir de então, ele nunca mais soube dizer se estava acordado, ou sonhando; e se era um sábio que havia sonhado que era uma libélula, ou se era uma libélula que havia sonhado que era um sábio.
Nem semântica, nem brincadeira, nem charada. Simplesmente, a essência do raciocínio. Se o homem se vangloria de ser um animal racional, o que lhe garante que você é quem você pensa que é? Você pode ser, sim, uma libélula, ou qualquer outra coisa, que está sonhando que você é quem pensa que é.
Confuso, não?
Mas, é interessante (até impressionante) como todos entendem isso!
Sabe por que?
Porque todos sabemos que sonhamos e, por isso, conhecemos pelo menos três fenômenos dos quais somos vítimas; pois há momentos em que estamos sonhando e sabemos que estamos sonhando; há momentos em que só sabemos que estávamos sonhando porque “acordamos” (caso contrário, não saberíamos); e há outros em que não sabemos se o que imaginamos é sonho, ou realidade.
Aliás, qual a diferença “real” entre sonho e realidade?
Seja lá o que você for, resta-lhe investigar a resposta, ou estar condenado à eterna dúvida de não saber se está sonhando que está vivendo, ou se a sua vida não passa de um grande sonho, ou pesadelo.
Uma passagem filosófica relata a história de um sábio que passeava por um bosque e, cansado, recostou-se ao pé de uma árvore. E adormeceu. E, dormindo, sonhou que era uma libélula que passeava por um bosque e, cansada, recostou-se ao pé de uma árvore. E adormeceu. E, dormindo, sonhou que era um sábio que passeava por um bosque e, cansado, recostou-se ao pé de uma árvore. E adormeceu. E, enfim, acordou. A partir de então, ele nunca mais soube dizer se estava acordado, ou sonhando; e se era um sábio que havia sonhado que era uma libélula, ou se era uma libélula que havia sonhado que era um sábio.
Nem semântica, nem brincadeira, nem charada. Simplesmente, a essência do raciocínio. Se o homem se vangloria de ser um animal racional, o que lhe garante que você é quem você pensa que é? Você pode ser, sim, uma libélula, ou qualquer outra coisa, que está sonhando que você é quem pensa que é.
Confuso, não?
Mas, é interessante (até impressionante) como todos entendem isso!
Sabe por que?
Porque todos sabemos que sonhamos e, por isso, conhecemos pelo menos três fenômenos dos quais somos vítimas; pois há momentos em que estamos sonhando e sabemos que estamos sonhando; há momentos em que só sabemos que estávamos sonhando porque “acordamos” (caso contrário, não saberíamos); e há outros em que não sabemos se o que imaginamos é sonho, ou realidade.
Aliás, qual a diferença “real” entre sonho e realidade?
Seja lá o que você for, resta-lhe investigar a resposta, ou estar condenado à eterna dúvida de não saber se está sonhando que está vivendo, ou se a sua vida não passa de um grande sonho, ou pesadelo.
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