Artigo de André Soares - 30/03/2018
Uma
das finalidades gramaticais do emprego das “aspas” no idioma português
é destacar uma expressão que deve ser compreendida em sentido figurado,
ou metafórico. É por isso que pessoas instruídas, assim como você,
quando se referem especialmente ao relacionamento sexual entre homens e
mulheres, fazem questão de colocar entre aspas a expressão: guerra dos
sexos. Afinal, todos entendem que a palavra – guerra – inserida nessa
expressão, corresponde à figura de linguagem conhecida como hipérbole,
que nada mais é que uma exacerbação irreal e proposital em um
determinado conceito para defini-lo por dramaticidade, não é mesmo? Mas,
observe agora e mais atentamente que, diferentemente de você e do
consenso geral, tenho todo o cuidado em escrever sem aspas a famosa
expressão - guerra dos sexos. Por que? Porque a verdade verdadeira sobre
a guerra dos sexos, em qualquer situação ou circunstância, inclusive no
casamento, é de uma eterna guerra real e sistemática entre homens e
mulheres.
Quer
dizer então que na guerra dos sexos homens e mulheres podem ser
considerados inimigos? A bem da verdade e guardadas as devidas
proporções, sim. E que fique bem claro: inimigos, sem aspas. Porque a
inexorabilidade dessa guerra ocorre entre machos e fêmeas, em todo reino
animal; e não há exceção. Ou será que você ainda acha que o fator
determinante da atração sexual entre os gêneros é o amor? A não ser que
esse “amor” seja escrito entre aspas, para designar o seu verdadeiro
significado: testosterona. Porque, goste-se ou não, o único elemento
determinante do real interesse de homens por mulheres e de machos por
fêmeas é o sexo, o qual é determinado exclusivamente por este hormônio.
Assim,
a cópula sexual entre homens e mulheres não é uma união de corpos
demandada pela magnanimidade do romantismo, ou por uma suposta comunhão
de auspiciosos propósitos dos casais. Porque, no “jogo” sexual, homens e
mulheres não são aliados em prol de um bem maior. Ao contrário, a
guerra dos sexos é um contexto evolucionista em que ambos os gêneros
empregam estratagemas insidiosos, sub-reptícios e mesquinhos,
objetivando o seu máximo benefício, em detrimento da outra parte. Pois a
natureza do sexo, em todo o reino animal, é preponderantemente
individualista e egoísta, no qual cada parceiro(a) utiliza o seu
contraposto apenas como meio para a obtenção exclusiva do seu próprio
prazer, bem como de outros interesses inconfessáveis.
Exatamente
por isso, somente excepcionalmente no mundo animal o sexo é consensual.
Pois, nesse contexto, o sexo majoritariamente corresponde ao que nosso
ordenamento jurídico tipifica como crime de estupro, com o concurso de
lesões corporais para a fêmea, em muitas das vezes. Nesse mister, é
importante destacar também que, na fraticida guerra dos sexos, em muitas
espécies a fêmea mata impiedosamente seu parceiro, imediatamente após
alcançar seus objetivos no ato sexual. E esse fenômeno estupratório e
homicida, que é inerente à guerra dos sexos, só não ocorre nessas mesmas
proporções no universo dos seres humanos, por conta do contexto
sócio-politico-jurídico-punitivo no qual ele está inserido; que consegue
reprimi-lo, embora não completamente.
Vale
ressaltar que a guerra dos sexos é ainda mais perversa no âmbito
conjugal, notadamente quanto ao sexo prazeroso. Porque, se em toda
guerra inescapavelmente há vencedores e vencidos, na guerra dos sexos
matrimonial em busca do prazer é pior: porque ambos os cônjuges sempre
perdem. É por isso que, comparativamente com a vida extraconjugal, o
sexo no casamento é absolutamente uma tragédia, sem exceções. E os
cônjuges que alardearem publicamente o contrário, estarão mentindo
raivosamente sobre sua infelicidade sexual conjugal, ou para encobrir o
seu velado adultério.
Mas
as contingências sofridas por homens e mulheres na interminável guerra
dos sexos extrapolam o contexto sexual, alcançando outras searas
conflituosas dessa inter-relação, que abordarei em outras oportunidades.
Até porque, verdade seja dita, o que caracteriza a relação entre homens
e mulheres são suas inúmeras diferenças, não suas raras afinidades.
Portanto, por mais terrível que possa parecer, a inexorável guerra dos
sexos predestina os interesses de homens e mulheres ao conflito, não à
paz e à harmonia. E por mais estranho e irracional que também possa
parecer, a guerra dos sexos consiste na maior sabedoria da natureza.
Porque essa é a lógica da vida. Louvemos, então, a guerra dos sexos. E
que essa guerra nunca tenha paz. Viva! Viva! Viva!