segunda-feira, 5 de março de 2018

Teste de autoengano

Artigo de André Soares - 03/03/2018
 
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As ciências que estudam os fenômenos da “psiché”, como a psicologia e a psicanálise, tem denominações variadas, como “mecanismos de defesa do ego”, “mecanismos de culpas e desculpas”, e “racionalização”, dentre outros, para designar o tradicional comportamento humano de fuga da realidade, ignorando toda verdade desagradável e dolorosa, especialmente quando ela retrata os erros e defeitos do próprio indivíduo. Nesse contexto, quem melhor denominou este fenômeno foi o espetacular Eduardo Gianetti da Fonseca, em sua obra primorosa intitulada “Autoengano”, explicando com singular maestria a elevada capacidade do ser humano em enganar, não apenas as pessoas, mas também e principalmente de enganar-se a si próprio. E, embora seja inexorável e muitas vezes necessário, o autoengano por outro lado é também o principal aspecto psicossocial responsável pelo fracasso e insucesso na vida. Portanto, estamos falando da esmagadora maioria das pessoas desse mundo, cujo retumbante infortúnio existencial é devido exclusivamente a si mesmas.
 
O conhecido ditado “o pior cego é aquele que não quer ver” se aplica muito bem nesses casos. Porquanto significa a covardia em aceitar a verdade conhecida. Analisemos, por exemplo, duas das questões que mais afligem e geram sofrimento à humanidade: amor e felicidade. Onde está o autoengano nesses casos? Resposta: Em acreditar que se sabe o que eles de são de fato. Porque todas as pessoas acreditam que sabem o que ambos significam, mas na verdade absolutamente nada sabem sobre amor e felicidade. É isso mesmo! A humanidade simplesmente não sabe o que é amor e felicidade (dentre outras coisas).
 
E o que é mais dramático em tudo isso é que as pessoas, em toda a história da raça humana, consideram que sabem o que é vivenciar a plenitude do amor e da felicidade (dentre outras coisas),... e até morrem em nome do amor e da felicidade....quando, na verdade, nunca souberam o que verdadeiramente eles são e significam. Tudo isso é mais que estupidez coletiva. É o holocausto do desperdício suicida das vidas humanas.
 
Consequentemente, as pessoas se enraivecem e se tornam hostis contra quem afirma essa verdade inconveniente sobre elas mesmas. Principalmente porque comprovar a verdade que as pessoas não sabem o que é o amor e a felicidade (dentre outras coisas) é extremamente fácil. Quer ver?
 
Faço apenas uma ressalva: Como se trata de revelar um sensibilíssimo autoengano das pessoas para elas mesmas, a consequente e imediata reação emocional será a agressividade. Significa que fazer essa comprovação é realmente perigoso. Portanto, está feito o alerta.
 
Vamos, então, ao facílimo porém perigoso teste do autoengano.
Basta perguntar às pessoas o seguinte (dentre outras coisas):
  • O que é o amor?
  • O que é a felicidade?
Mas, com uma imposição: não é para as pessoas responderem suas respectivas opiniões, o que pensam, ou acham sobre o que supostamente imaginam o que venha a ser o amor e a felicidade (dentre outras coisas). É para que elas respondam qual é a verdade (verdadeira) sobre o objeto da pergunta.
 
Nesse momento, é importante não perder o controle da situação. Porque, evidentemente, as discussões serão intermináveis e infrutíferas. Afinal, a humanidade vem tentando descobrir o que é o amor e a felicidade (dentre outras coisas) desde que o mundo é mundo.
 
Consequentemente, as discussões cairão no baixo nível de sempre, afirmando-se que a verdade é relativa, que cada um tem a sua verdade, que a verdade é múltipla ... blá-blá-blá.... e até mesmo afirmando-se que a verdade não existe.
Toda essa pseudo argumentação, na verdade, nada mais é que autoengano para fugir da verdade.
 
Portanto, nesse momento, é importante fazer uma consideração lógica, porém muito perigosa (aliás, quando se trata de autoengano, tudo é perigoso): que a verdade verdadeira existe.
 
E para não se perder tempo com justificativas e abstrações inócuas, nada melhor que a verdade verdadeira para provar a verdade.
 
Pergunte, então, a quem se opuser:
Você existe?
 
A pessoa obrigatoriamente responderá que sim.
Todavia, apesar de improbabilíssimo, pode ser que a pessoa responda que não existe.
 
Tanto faz.

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