Artigo de André Soares - 24/03/2018
O mundo vive um paradoxo terrível.
Enquanto a produção do conhecimento e a tecnologia avançam
exponencialmente, facilitando a vida de todos; contrariamente e na mesma
proporção a humanidade está cada vez mais doente. Não do corpo, mas da
mente. Nesse sentido, embora a maioria desconheça, estamos vivendo na
atualidade a "crise do século XXI", ou "mal do século", que é a pandemia
de doenças e transtornos mentais, cuja projeção da Organização Mundial
de Saúde (OMS) prevê se tornar até 2030 a patologia mais prevalente no
planeta, à frente do câncer e algumas doenças infecciosas. Estresse,
ansiedade, fobias, bipolaridade, depressão, assédio moral, “bullying”,
síndrome do pânico, dentre outros, fazem parte do inevitável coquetel de
problemas psicológicos da vida moderna, que estão lotando os
consultórios psicológicos e psiquiátricos, cada vez mais repletos de
homens, mulheres e crianças, fragilizados e doentes da psique. E a
epidemia da futilidade é mais uma das manifestações do "mal do século".
Mas, o que é futilidade? É a
fraqueza pessoal de cultuar e dar importância exatamente ao que não é
importante ou essencial. É valorizar o que é superficial, acessório,
irrelevante, efêmero, insignificante, inútil. Pessoas fúteis são banais,
frívolas, triviais, vulgares, medíocres, desprezíveis e levianas. E são
assim porque são egoístas, querendo viver às expensas dos outros e do
mundo. Nesse sentido, pensando única e exclusivamente em si mesmas,
sobrevivem como especialistas no ardil de enganar a todos, priorizando a
atividade-meio em detrimento da atividade-fim, invertendo assim a
lógica da vida. Consequentemente, por serem mentalmente doentes, com
falhas de caráter e improdutivas, constituem-se em pária da sociedade,
representando elevado ônus social, sob todos os aspectos.
Evidentemente que pessoas fúteis
somente encontram terreno fértil em sociedades igualmente doentes e
naturalmente fadadas ao naufrágio pátrio. Esse é o contexto em que a
epidemia da futilidade vem se alastrando e contaminando especialmente o
mundo ocidental, no qual o Brasil já está na UTI, há tempos. E o grave
colapso nacional de corrupção generalizada é a prova mais cabal de como a
sociedade brasileira está cada vez mais fútil e doente.
Verdade seja dita, lembremos que
historicamente o Brasil foi alcunhado internacionalmente, desde a II
guerra mundial, por “não ser um país sério”; ressaltando-se que a
pusilânime sociedade brasileira ainda se regozija da sua abjeta
subcultura do “jeitinho brasileiro”; que certamente pode ser consagrado
como o melhor “slogan” para a “epidemia da futilidade” que acomete e
destrói o país.
Nesse momento, cabe aqui registrar o
magnânimo reconhecimento ao notável cantor e compositor Zé Rodrix; que,
com magistral maestria, diagnosticou com inigualável talento e
bom-humor, em sua memorável canção “soy latino americano”, a “epidemia
da futilidade” da qual se orgulha a inepta sociedade brasileira, que
inescapavelmente demandará a desgraça nacional, ao dizer:
“...Meu caminho pro trabalho é
um pouco mais comprido. Eu vou sempre pela praia, que é muito mais
divertido. Chego sempre atrasado, mas eu não corro perigo. Quem devia
dar o exemplo, chega atrasado comigo...”
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