25/08 - 07:00 - Luís Nassif, colunista do Último Segundo
Um dos grandes desafios da economia será passar incólume por 2010. Para tanto será importante minimizar as fontes de escândalo. Nas últimas eleições, dossiês, armações políticas, caso Lunnus, caso aloprados, comprovaram amplamente o potencial de intranquilidade que essas máquinas de dossiês trazem para a economia.
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Um dos focos de instabilidade e dossiês provavelmente será a ABIN (Agência Brasileira da Inteligência).
Quando o ex-presidente Fernando Collor liquidou o SNI (Serviço Nacional de Investigações), este era um centro de nepotismo. Os melhores quadros acabaram saindo e indo para a iniciativa privada, trabalhar em inteligência competitiva.
Assim como na Polícia Federal, levou um bom tempo para se iniciar a modernização. Melhoria de salários (R$ 10 mil iniciais) e concursos públicos acabaram trazendo para ambos os órgãos uma geração nova, de alto nível, recrutada nas melhores universidades do país, que tiveram que enfrentar vícios e esquemas da velha guarda.
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Em pouco tempo houve um choque com os quadros antigos. Enquanto os concursados dominavam novas ferramentas tecnológicas, os quadros tradicionais tinham dificuldades até para transferir imagens de videocassetes para computadores.
Exemplo maior foram os aposentados da ABIN arregimentados por Protógenes – que, no início, fechava com a velha guarda. Além do baixíssimo nível, chegaram dando “carteirada” e chamando a atenção para a operação.
O segundo aspecto foi a ideologização dos antigos. Enquanto os concursados entendem a inteligência como um fator de avaliação de riscos e oportunidades do país, proteção ao conhecimento e às patentes, a geração SNI trabalham sob o velho conceito da segurança nacional.
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A velha guarda tem um histórico de relacionamento com a barra-pesada do jornalismo brasiliense e uma tendência irrefreável de divulgar dossiês sem muita substância. Como o caso do suposto dinheiro das FARCs colombianas nas eleições de 2006, uma manipulação besta de alguém da velha guarda que ouviu de um amigo, para quem um colega disse que ouviu de um amigo... Bastam duas pontas irresponsáveis – a fonte da velha guarda e o jornalismo barra-pesada – para produzir um escândalo que, antes de se esvaziar como um balão murcho, produz incêndios e estragos.
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Na Polícia Federal, o grupo profissional se impôs graças ao trabalho inicial de Paulo Lacerda, prosseguido pelo delegado Luiz Fernando.
Na ABIN, havia esperança por parte dos concursados de que o profissionalismo iria seguir o mesmo caminho. No início, com Paulo Lacerda, caminhava-se para isso.
A saída de Lacerda desarticulou totalmente o órgão. Sob nova direção, a velha guarda passou a ocupar os cargos comissionados. O órgão deixou de ter visão estratégica. Hoje em dia, a maior parte dos funcionários passa o tempo fuçando a Internet ou então produzindo relatórios insossos sobre sem-terras e movimentos sociais.
Há uma ampla desmotivação da banda mais profissional que esperava que, com Lula, pudesse haver uma profissionalização maior no órgão.
2010 cobrará a conta dessa desatenção para com a ABIN.
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