Artigo de André Soares - 27/11/2010
A primeira verdade sobre agentes secretos é que eles existem de fato, conquanto sejam desconhecidos. A segunda é que são pessoas especialíssimas, em todos os sentidos. E a terceira verdade é que o Brasil não possui agentes secretos em seus serviços de inteligência. Destacada atenção e especial admiração pelos agentes secretos tinha Sun Tzu, renomado estrategista militar chinês, que ressaltava aos reis da antiguidade a sabedoria de lidar com eles e a importância de tê-los muito próximos de si. Pois, Sun Tzu conhecia como poucos a vida heróica dos agentes secretos. Todavia, particularmente no Brasil, a sociedade é vítima da desinformação produzida pelos serviços de inteligência sobre essa realidade, criada para encobrir a verdade inconveniente sobre a ineficiência desses organismos.
Assim, a primeira mentira sobre agentes secretos é a afirmação de que eles não correspondem à figura espetacular do “007 - James Bond”, o agente secreto mais conhecido dos filmes de espionagem. Desta forma, serviços de inteligência vendem a falsa idéia de que o perfil dos melhores agentes operacionais é o de pessoas comuns, desprovidos de dotes e atributos excepcionais, cuja mediocridade os fazem passar despercebidamente, sendo estes os aspectos a serem cultuados e praticados como sendo a expertise do emprego operacional de inteligência. Ledo engano acreditar nisso, pois o perfil do verdadeiro e autêntico agente secreto incorpora integralmente todos os atributos e qualidades do personagem “007- James Bond”, bem como de suas parceiras agentes secretas; pois vale lembrar que as mulheres estão incluídas nesse seleto universo e, embora desconhecidas, também são esplendorosas. O que esta insídia na verdade encobre é a confissão velada da subcultura deturpada e da real inoperância dos serviços que a professam. Portanto, ao contrário do discurso oficial, o perfil profissiográfico do verdadeiro e autêntico agente secreto é aquele que confere ao seu detentor plenas condições de atuar sozinho, infiltrado, sendo sua proteção por vezes unicamente seu próprio adestramento. Deverá ser capaz de se relacionar com todo o tipo de pessoas, manipulá-las, cumprir sua missão e não deixar vestígios. Para isso, deverá ser resistente, forte, rápido, ágil, suportar a fadiga, o cansaço físico e mental, o estresse, percorrer grandes distâncias, vigiar, se esconder, fugir, operar por longos e ininterruptos períodos, suportar restrições de sono e alimentação, defender-se, lutar, e se necessário combater. Verifica-se, assim, que a realidade adversa e hostil da atuação dos agentes secretos lhes impõe dificuldades e desafios de toda ordem, exigindo-lhes uma capacidade de atuação em situações-limite; nas quais, se destituídos dos padrões de desempenho operacional elevados, certamente sucumbirão.
A segunda mentira sobre agentes secretos é a de que eles são forjados nos serviços de inteligência. Essa perfídia plantada no seio da sociedade tem enganado e iludido muitos jovens brasileiros, homens e mulheres, incitados ao concurso público para ingresso na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), esperançosos de que irão construir e viver uma carreira profissional de agentes secretos. Ledo engano acreditar nisso também porque, pasmem, o Brasil não possui agentes secretos em seus serviços de inteligência. Porém, infelizmente, o que há no país é uma legião de arapongas e agentes clandestinos, os quais são muitas vezes forjados nessas organizações. Esse diletantismo irresponsável que impera na atividade de inteligência contamina a mentalidade de muitos integrantes desses serviços, que se julgam especiais, secretos, mais nobres que a sociedade em geral, inclusive considerando-se como sendo agentes secretos pelo simples fato de integrarem essas organizações. Esse é outro terrível e perigoso engano, visto que dirigentes e integrantes de serviços de Inteligência não são agentes secretos – são apenas servidores públicos, exatamente iguais a todos os demais honrados servidores públicos do estado brasileiro. Nesse mister, vale ressaltar que mesmo o trato de assuntos sigilosos de estado nunca foi prerrogativa de serviços de inteligência, como sempre esteve claramente explícito na nossa legislação, em vigor. Ressalta-se ainda que, na atual conjuntura nacional, há insignes instituições que lidam com temas muito mais sigilosos e sensíveis ao estado brasileiro que os que são tratados internamente nos serviços de inteligência. Com raríssimas exceções, a realidade intestina dos nossos serviços de inteligência é de ineficiência, a exemplo da degenerescência dos seus congêneres internacionais, vitimados pela corrupção e pela entropia burocrática. Portanto, o exercício da denominada atividade de inteligência é apenas mais uma dentre tantas outras atividades de estado, igualmente importantes, e aqueles que a exercem integram o universo dos dignos servidores públicos do estado. E nessa condição, nunca serão agentes secretos.
Onde estão os agentes secretos? Essa é a resposta que serviços de inteligência buscam encontrar; porque como essas organizações não os forjam, tentam desesperadamente recrutá-los. Todavia, como são especialíssimos, agentes secretos são pessoas livres, independentes, autônomas, e não servem a dirigentes, presidentes, ou a poderosos quaisquer. Agentes secretos têm vida própria, pensam e agem por si, atuam sozinhos e quando servem ao seu país o fazem incondicionalmente, lutando contra seus inimigos, os quais muitas vezes estão nos próprios serviços de inteligência, pois estes são organismos extremamente vulneráveis à ação de governantes e dirigentes corruptos.
Portanto, a melhor garantia que há em integrar os quadros de serviços de inteligência é a de se tornar um excelente servidor público burocrata. Porque agentes secretos existem; mas, estes, “desacontecem”.
Ainda é necessário uma evolução nas formas de atuação de serviços de inteligência no Brasil, atribuições, recrutamento, capacitação e formas de atuação. O país encontra-se muito vulnerável com relação à contra-espionagem, proteção de informações e de seus recursos naturais. Por outro lado, ainda é necessária uma reformulação no serviço de informações que tem atribuição de atender a Presidência da República. Para comprovar isso, basta observarmos alguns acontecimentos ao longo dos últimos anos, os quais poderiam ter sido mais bem enfrentados com uma maior eficiência e precisão de seu serviço de inteligência.
ResponderExcluirNo entanto é importante ressaltar que a atividade de inteligência é ingrata, pois as ações exitosas, em sua maioria não chegam a conhecimento público.
Bem, isso confirma o que sempre pensei: Esse país nunca teve um órgão que pudesse ser chamado de serviço de inteligência... e um país sem inteligência não tem como ir para frente.
ResponderExcluirEu me arrisco a dizer que nem mesmo polícia existe nesse país... inteligência, então...
Mais uma vez parabéns pela coragem dos textos!