terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Filhos da Revolução


Artigo de Hércules Rodrigues de Oliveira – Mestre em administração, professor do Uni-BH
 
O romancista e dramaturgo Miguel de Cervantes Saavedra deixou para a posteridade em 1615, ao escrever o capítulo IX, da segunda parte de sua obra: O engenhoso cavaleiro dom Quixote de La Mancha, o seguinte pensamento: “A história é êmula do tempo, repositório de fatos, testemunha do passado e aviso do presente, advertência do porvir”.
História é a ciência que estuda o Homem e sua ação no tempo e no espaço, em grego antigo significa testemunho, no sentido daquele que vê, razão pela qual, cada um de nós pode escrever a sua própria história e, diante de nossas escolhas sermos vencedores ou vencidos. Mas como na vida e na política nada é absoluto, o vencido hoje, pode ser o vencedor amanhã e, a história será contada em três versões: a do vencedor, a do vencido e a verdadeira, malgrado o pensamento de Marilena Chauí: “A verdade é, ao mesmo tempo, frágil e poderosa. Frágil porque os poderes estabelecidos podem destruí-la, assim como mudanças teóricas podem substituí-la por outra. Poderosa, porque a exigência do verdadeiro é o que dá sentido à existência humana”.
Vejamos o caso de Lavrenti Pavlovitch Béria, chefe do Comissariado Popular de Assuntos Internos (NKVD), antecessor do temido KGB (Comitê de Segurança do Estado), que após a morte de Josef Vissarionovitch Stalin, foi preso e executado sendo sua biografia retirada da grande enciclopédia soviética e substituída por um artigo sobre o Estreito de Bering. Béria, “desaconteceu”...
A história não interessa a apenas aos historiadores. A nossa história interessa a todos os brasileiros e brasileiras, principalmente daqueles que estão no porvir, mas que já existem no imaginário e nos corações dos futuros pais. Saber a história é a garantia das futuras gerações para que erros e desacertos, após análise criteriosa, não se repitam e para que haja espaço, principalmente para a tolerância.
Discursos sempre reportarão à história e como um círculo vicioso torna-se história na sua própria completude. Assim fizeram, em especial, a presidente da República Dilma Rousseff e o General de Exército José Elito Siqueira, A dignitária maior do Estado brasileiro disse: “Entreguei minha juventude ao sonho de um país justo e democrático. Suportei as adversidades mais extremas infligidas a todos que ousamos enfrentar o arbítrio. Não tenho qualquer arrependimento, tampouco ressentimento ou rancor”. Referia-se ao período da Ditadura Militar e do Golpe de Estado de 1964?
Por sua vez o General Elito em sua posse no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) disse: “Nos temos de ver o 31 de março de 1964 como dado histórico de nação, seja com prós e contras, mas como dado histórico. Da mesma forma, os desaparecidos são história da nação, de que não temos de nos envergonhar ou nos vangloriar”. Referia-se ao período da subversão e da Revolução de 31 de março de 1964?
Interessante é que estes dois sagitarianos tem muito em comum. Não bastassem as questões do próprio signo, ideais elevados e entusiasmo, estiveram em lados antagônicos, durante o Golpe/Revolução de 31 de março de 1964. Ambos na sua mocidade idealizaram um Brasil melhor e quis o destino estar mais próximos do que nunca, pois compete ao GSI a segurança pessoal da presidente Dilma.
Mas a história precisa ser revisitada por profissionais, (Antunes, Cepik, Fico, Numeriano, Zavercuha, etc.), investigando como Heródoto, caso contrário será tendenciosa. Paulo Freire, resgatando princípio marxista, dizia que a cabeça do oprimido tende a hospedar a cabeça do opressor, pois toda fonte histórica está, querendo ou não, sob a influência direta de quem a produziu, diante disso encontramos duas verdades: a Secretaria Especial de Direitos Humanos com o livro “Direito à memória e à verdade” e os outros com o dossiê de codinome “Orvil” (a palavra livro ao contrário) intitulado a verdade sufocada.
No centro encontramos a presidente de todos os brasileiros, sob a égide dos valores republicanos, assim ela disse e mais que: “um governo se alicerça no acúmulo de conquistas realizadas ao longo a história. Ele será, a seu tempo, mudança e continuidade”. Sejamos então, filhos da revolução, para promovermos mudanças constantes em defesa de nosso Brasil, para não deixarmos a nossa historia “desacontecer”.

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