sexta-feira, 7 de maio de 2010

INTELIGÊNCIA E CINEMA

Hércules Rodrigues de Oliveira – Professor universitário, mestre em administração


Aristóteles dizia que o espírito nunca pensa sem imagens. Talvez por isso seja tão prazeiroso vivenciarmos o jogo da ficção onde a tratativa poética contrapõe a questão histórica, transportando para o reino do possível, aquilo que sem ser real é credível, ou que tenha ou possa ter acontecido. Assim é a arte cinematográfica que se explica em parte, por antigo provérbio: “Aquilo que os olhos não vêem o coração não sente”. A obra fílmica tem o poder de abrir sempre novas perspectivas para a arte além, é claro, de chegar ao público de maneira direta e em massa. Neste aspecto estréia em circuito nacional de cinema no dia 7 de maio, a película “Segurança Nacional” que, de forma inédita, aborda o trabalho de um agente de Ações Especializadas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), de nome Marcos Rocha, interpretado pelo não menos famoso Thiago Lacerda. No filme podemos ver entre outros aspectos, a importância do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), atuando como Inteligência de Estado, em parceria com as Forças Armadas e órgãos de Segurança Pública contra um inimigo externo. Coincidências a parte, dia 7 é dia do silêncio. É cediço que desde os tempos primevos, o silêncio carrega consigo importante elemento cultural que impõe severamente aos homens, a necessidade de salvaguardar seus segredos. O silêncio é tão importante que existe uma deidade que o protege: Harpócrates. Reparem que o som do silêncio é poderoso e seu grito ensurdecedor. É no silêncio sepulcral da Atividade de Inteligência que os seus operadores, homens e mulheres da Abin, trabalham na assessoria do processo decisório da ação governamental. Para muitos o silêncio de seus operadores pode ser sinônimo de fraqueza, mas é nele, no silêncio, que repousa a sua maior força. Wilhiam James filósofo inglês, dizia que: “O exercício do silêncio é tão importante quanto à prática da palavra”. Segurança Nacional vem a reboque de instigantes temas abordados pelo cinema brasileiro, haja vista o sucesso inequívoco de Cidade de Deus e Tropa de Elite, ambos no contexto de se pensar melhor as questões da segurança pública e da fragilidade do homem diante de questões inelutáveis. De boa lembrança que a primeira investida da dramaturgia nacional sobre o tema Informação/Inteligência, ocorreu com Tarcísio Meira que representava o agente bem “trapalhão” Aristênio Catanduva, que se utiliza de um codinome “Araponga”, parodiando o eterno 007 James Bond que na verdade estigmatizou uma nobre atividade de proteção de todo estado nacional moderno, como bem disse Dan Raviv: “Todo espião é um príncipe”. Do substantivo Araponga derivou-se o adjetivo funesto “arapongagem” para designar Atividade de Inteligência. Lembremo-nos que o jornalismo investigativo de profunda contribuição para os aspectos da transparência Brasil, também procura pelo dado negado. Segurança Nacional do diretor Roberto Carminati, foi escolhido para abrir a 2ª edição do Hollywood Brazilian Film Festival, que aconteceu nos dias 04 a 07 de fevereiro desde ano, no Egyptian Theatre, em Hollywood Boulevard, estrategicamente localizado junto à calçada da fama. Roberto Carminati estudou cinema nos Estados Unidos e como dissertação de mestrado produziu o filme “A fronteira” que fala sobre as agruras dos imigrantes brasileiros procurando o “sonho americano” nas terras do Tio Sam. Com baixo orçamento quando comparado as grandes produções cinematográficas da franquia “007”, o filme não precisou ser “Democrata” para eleger o primeiro presidente negro do país, personificado pelo brilhante Milton Gonçalves. Na película não faltam políticos corruptos e a Diretora da Abin, Angela Vieira, faz inveja a todas “Bond Girl”. Como vilão a altura do mocinho, Carminati buscou o mesmo ator de “007 Quantum of Solace”, o veterano mexicano Joaquim Cóseo. Cinema, Inteligência e Espionagem formam uma tríade exitosa, nela a vida imita a arte e a arte imita a vida. Vejamos o exemplo do extinto e temido serviço de inteligência soviético – KGB, acrônimo em russo para Komitet Gosudarstveno Bezopasnosti (Comitê de Segurança do Estado), que determinava aos seus agentes operacionais do ocidente que assistissem a todos os filmes de James Bond, o agente secreto britânico fictício, criado pelo escritor Ian Fleming em 1953, mas que só foi levado às telas a partir de 1962, no auge da Guerra Fria. Das trevas da ignorância a respeito da Atividade de Inteligência ao Trezza da esperança, tenhamos todos a certeza de que haverá sempre ética, legalidade e controle sobre a Inteligência brasileira pelos Poderes Públicos constituídos, para que a sociedade enfim diga: Araponga, uma ova! Meu nome é Rocha, Marcos Rocha.

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