Hércules Rodrigues de Oliveira – Professor universitário, mestre em administração
Musas na mitologia greco-romana são as nove filhas de Zeus e Mnemosine, a deusa da Memória, filha de Gaia, a deusa da Terra. Às musas, todas sempre belas, são atribuídas a capacidade de inspirar tanto a criação artística quanto a científica. O templo delas, em grego antigo, chamava-se mouseion, termo que deu origem a palavra museu, entendido como “o refúgio das Musas”. Pitágoras transformou o culto às Musas em estudos científicos. Ptolomeu II, amante da filosofia e inebriado pelo conhecimento, construiu o Museu de Alexandria – que mais tarde se transformaria na famosa Biblioteca do oriente – que funcionava como uma universidade onde professores dedicavam-se à pesquisa. Durante séculos, magistrados, filósofos, políticos e cientistas de todo mundo antigo por lá passaram contando e escrevendo a história da poesia, da matemática, da medicina, da astronomia entre tantas outras ciências. Hipátia aluna, professora e diretora estudou, trabalhou e dirigiu o refúgio das musas onde dedicou-se em desvendar os enigmas que tinham desafiado Euclides e Arquimedes. Nem parece mulher, diziam os machistas de então, querendo elogiar sua inteligência. A intolerância religiosa à época, não só matou Hipátia como destruiu o museu, pois como um centro de irradiação do conhecimento tinha como mote o ensino politeísta, o que era inadmissível para o progresso do Cristianismo. Dezoito de maio é o Dia Internacional dos Museus, efeméride de expressiva tradição universal, proposto em 1977 pelo Conselho Internacional de Museus (em inglês: International Council Of Museums, ICOM), com sede em Paris/França. Nas Gerais 73 instituições abrem as portas para mostrar rico acervo historiográfico, marcas indeléveis de nosso povo, nossa gente, expostos com arte e graça para despertar no homem a curiosidade e o respeito por aqueles que nos antecederam e que construíram nossos valores, nossa cultura. Nos museus encontramos os vestígios do passado que Galeano bem o disse: “Nasceram há milhares de milhares de anos, mas nascem de novo cada vez que alguém as vê”. O tema deste ano no 4ª Fórum Nacional de Museus é o Direito a Memória, que de tão significativa para os filhos de Prometeu tem a sua deidade, Mnemosine, que nos protege do esquecimento. Platão ao escrever Fedro, relata a fala do faraó Thamus com o deus egípcio do conhecimento Thot que lhe apresentava a invenção da escrita, sob o argumento que seria o melhor remédio para curar a memória ruim e a pouca sabedoria, mas ele o recusou dizendo que aquele invento produziria o esquecimento. Por certo que aquele monarca não deseja nada esquecer, pois segundo ele: “não se pode recordar com memória alheia”. Para alguns especialistas temos três tipos de memória: a orgânica que é feita de carne e de sangue e que é administrada pelo cérebro. A mineral, escrita pela humanidade em tijolos de argila e em obeliscos e que num salto gigante se faz presente nos computadores com o silício e por fim a vegetal, primeiro em papiros para depois se eternizar em livros. Mas o que a Atividade de Inteligência tem a ver com isso? Tudo. Museus são instituições de caráter permanente que guardam nossos símbolos e valorizam a nossa identidade. Museus preservam a história de um povo, de uma nação, de uma organização, como exemplo o Memorial de Inteligência da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), ou a Memória do Judiciário Mineiro (Mejud), criado em 1988, dos Correios e Telégrafos e tantos outros. Museus representam em essência as várias formas das sociedades humanas, o seu passado e o seu presente, as maneiras de como dispomos nossa cultura material. O museu desnuda nossas forças e nossas fraquezas, por isso nossa memória tem de ser protegida e não escondida. Museus mostram ameaças e oportunidades, só não as vê quem não quer. As informações que são traduzidas em seu rico acervo sejam cultural, ambiental, artístico, histórico, científico, técnico, transformam-se em conhecimentos e como tal necessitam e precisam ser protegidas. Olhando o passado distante e construindo a história de cada povo podemos vaticinar até onde poderá chegar o seu desenvolvimento econômico. Um povo que inova tem condições de salvar a aventura humana na terra. Museus carregam esta história. Se quiseres conhecer o grau de desenvolvimento de uma nação, visite seus museus que a resposta estará cristalina. Museus materializam experiências não vividas pela práxis daqueles que fizeram e como um passe de mágica nos transporta em emoções e a certeza de que tudo é possível. Façamos do museu o nosso lugar de encontro. Passado presente e futuro, pois a vida sem memória é vivida sozinha.
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