Artigo de André Soares - 02/06/2011
Se você tem interesse pela denominada atividade de inteligência e pensa em exercê-la, certamente encontrará dificuldades intransponíveis em obter informações fidedignas sobre esse ofício. Particularmente no Brasil, você será alvo da desinformação dos órgãos oficiais, o que significa que tudo aquilo que ouvir não será exatamente o que irá encontrar. Essa é a razão pela qual os jovens brasileiros precisam conhecer a verdade sobre a realidade da atividade de inteligência, a fim de não comprometerem seriamente o futuro de suas vidas investindo em algo obscuro e que, inadvertidamente, pode ser muito perigoso.“Não imaginei que havia criado um monstro” foram palavras proferidas pelo arrependido General Goubery do Couto e Silva, referindo-se ao extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), criado em 1967, do qual foi um dos principais idealizadores. Sobre a história da Inteligência de Estado no Brasil, o SNI foi o único e breve suspiro auspicioso dessa atividade no país. Até degenerar-se e sucumbir. Sua sucedânea, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), foi criada em 1999 predestinada aos mesmos desígnios do SNI. Assim, seu destino inevitável conduziu o Brasil à maior e pior crise institucional de inteligência que vivenciamos na atualidade, desvelada em 2008 no festival de clandestinidades protagonizadas pela ABIN na Operação Satiagraha.A conjuntura atual é ainda mais alarmante porque como a ABIN é o órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) sua ascendência e influência sobre as demais estruturas de inteligência nacionais são inescapáveis, generalizando a ineficiência institucional dessa atividade no país. Ressalta-se o total descontrole do estado brasileiro sobre a atuação dos órgãos de inteligência nacionais, os quais constituem uma “caixa-preta” invencível, cuja fúria nossos governantes temem desafiar. Todavia, o cenário vindouro é por demais pessimista porque o Brasil não possui há décadas uma Política Nacional de Inteligência e as autoridades nacionais demonstram sobejamente a incapacidade de salvar o país desse lamentável estado de coisas a que chegou a Inteligência de Estado nacional.Você ainda tem interesse pela atividade de inteligência no Brasil?Tem certeza?Porque, se tiver, é importante saber mais.E a primeira pergunta a responder é:“O que você quer?”Pois, se você quiser ganhar dinheiro, desista. A atividade de inteligência não é lucrativa, em nenhum lugar do mundo. Muito menos no setor privado.Você tem notícia de alguma empresa ou empresário milionário da atividade de inteligência? Se tiver, certamente está enganado porque, nesse ramo, “nada é o que parece”.Por outro lado, se o que você quer é integrar serviços de inteligência no Brasil, então poderá fazê-lo ingressando na ABIN, por concurso público; ou nas instituições públicas mais tradicionais, por indicação política. Nesse segundo caso, é importante saber que há algumas raras estruturas de inteligência no país eficientes e, inclusive, de excelência. E as melhores estão nas forças armadas.Agora, se você pretende ser agente secreto o caminho é completamente diferente. Porque (que ninguém nos ouça), mas a verdade proibida de ser revelada e que ninguém sabe (mas ninguém mesmo, nem os governantes sabem) é que o Brasil não possui agentes secretos em seus serviços de inteligência (esse segredo fica só entre nós...qualquer problema, eu nego tudo...).Portanto, na realidade, a melhor garantia que há em integrar os quadros de serviços de inteligência no país é a de se tornar um excelente servidor público burocrata.Por que?Porque agentes secretos existem; mas, estes, “desacontecem”.Você ainda tem certeza que quer ser agente secreto?Porque, apesar do que possa parecer, isso é plenamente possível no Brasil, como em qualquer lugar do mundo.Porque se tiver vontade, a próxima pergunta a responder é:“Quem você é?”Porque qualquer pessoa pode ser funcionário público, mas não agente secreto. Estes são pessoas especialíssimas e raras, em todos os sentidos. Desta forma, há apenas dois únicos requisitos para ser agente secreto, que evidentemente não é passar em concurso público, ou ser indicado politicamente. Esses requisitos na verdade são uma excelente notícia para aqueles que têm essa pretensão porque ser agente secreto depende única e exclusivamente de si mesmo. Nada mais.Quais são eles?O primeiro requisito é possuir o devido perfil. E o perfil do verdadeiro e autêntico agente secreto incorpora integralmente todos os atributos e qualidades do personagem “007- James Bond”, bem como de suas parceiras agentes secretas; pois vale lembrar que as mulheres estão incluídas nesse seleto universo e também são esplendorosas.Contudo, essa é outra verdade proibida porque serviços de inteligência, especialmente no Brasil, vendem a falsa idéia de que o perfil dos agentes secretos é o de pessoas comuns, desprovidas de dotes e atributos excepcionais, cuja mediocridade os fazem passar despercebidamente. Essa é desinformação produzida para mascarar a inoperância desses órgãos.Outra mentira ardilosa sobre agentes secretos é a de que eles são forjados nos serviços de inteligência. Tal perfídia, plantada no seio da sociedade, tem enganado e iludido muitos jovens brasileiros, homens e mulheres, incitados ao concurso público para ingresso na ABIN, esperançosos de que irão construir e viver uma carreira profissional de agentes secretos. Porém, infelizmente, o que há no país é uma legião de arapongas e agentes clandestinos, os quais são muitas vezes forjados nessas organizações, pelo diletantismo irresponsável que nelas impera.Contudo, lembremos que além do perfil ainda há o último requisito para ser agente secreto.Porém, antes de conhecê-lo, é muito importante reaprender com a própria história nacional a verdade inconteste conhecida desde Sun Tzu, que serviços de inteligência são verdadeiros monstros, na pior acepção da palavra. Só havendo uma única excepcionalidade. Essa é outra verdade proibida de ser dita no Brasil, mas que já foi escancarada ao mundo pelo Coronel Walther Nicolai - 1873/1934 - Chefe do Serviço de Inteligência do Chanceler Bismarck, que disse:“A Inteligência é um apanágio dos nobres. Confiada a outros, desmorona".Sempre desmorona. Nunca se esqueça disso. Não, se quiser ser agente secreto.Isso porque serviços de inteligência que se esquecem disso se tornam monstruosidades de corrupção. E a maioria é assim. Por isso, na atividade de inteligência só há dois tipos de profissionais: os corruptos e os que “vão prá guerra”. E a maioria não “vai prá guerra”Também, nunca se esqueça disso. Porque será mera questão de tempo para serviços de inteligência corruptos te vitimarem. E nada, nem ninguém, fará qualquer coisa por você, que será abandonado, cairá em desgraça, ou morrerá.Portanto, ainda tem certeza que você quer ser agente secreto?Porque, se tiver, o último requisito é ter que tomar uma decisão de vida muito difícil e dolorosa, com um ônus altíssimo para você e para os seus entes queridos.E é nesse ponto de inflexão que a maioria das pouquíssimas pessoas que possuem o perfil para agente secreto desiste.Agentes secretos têm de tomar a decisão de viver, por toda a vida, completamente só, sem família, sem amigos, e em local desconhecido.Evidentemente, que todo esse sacrifício tem uma contrapartida mais que compensadora. Pelo menos, assim pensam os agentes secretos.Mas, você não precisa ser um deles.Afinal, a esmagadora maioria dos que atuam na atividade de inteligência prefere a mediocridade de ser no máximo um excelente servidor público burocrata.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Mensagem aos jovens – Mitos e verdades sobre a atividade de inteligência
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