sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mensagem aos jovens – Mitos e verdades sobre a atividade de inteligência


Artigo de André Soares - 02/06/2011


Se você tem interesse pela denominada atividade de inteligência e pensa em exercê-la, certamente encontrará dificuldades intransponíveis em obter informações fidedignas sobre esse ofício. Particularmente no Brasil, você será alvo da desinformação dos órgãos oficiais, o que significa que tudo aquilo que ouvir não será exatamente o que irá encontrar. Essa é a razão pela qual os jovens brasileiros precisam conhecer a verdade sobre a realidade da atividade de inteligência, a fim de não comprometerem seriamente o futuro de suas vidas investindo em algo obscuro e que, inadvertidamente, pode ser muito perigoso.
“Não imaginei que havia criado um monstro” foram palavras proferidas pelo arrependido General Goubery do Couto e Silva, referindo-se ao extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), criado em 1967, do qual foi um dos principais idealizadores. Sobre a história da Inteligência de Estado no Brasil, o SNI foi o único e breve suspiro auspicioso dessa atividade no país. Até degenerar-se e sucumbir. Sua sucedânea, a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), foi criada em 1999 predestinada aos mesmos desígnios do SNI. Assim, seu destino inevitável conduziu o Brasil à maior e pior crise institucional de inteligência que vivenciamos na atualidade, desvelada em 2008 no festival de clandestinidades protagonizadas pela ABIN na Operação Satiagraha.
A conjuntura atual é ainda mais alarmante porque como a ABIN é o órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) sua ascendência e influência sobre as demais estruturas de inteligência nacionais são inescapáveis, generalizando a ineficiência institucional dessa atividade no país. Ressalta-se o total descontrole do estado brasileiro sobre a atuação dos órgãos de inteligência nacionais, os quais constituem uma “caixa-preta” invencível, cuja fúria nossos governantes temem desafiar. Todavia, o cenário vindouro é por demais pessimista porque o Brasil não possui há décadas uma Política Nacional de Inteligência e as autoridades nacionais demonstram sobejamente a incapacidade de salvar o país desse lamentável estado de coisas a que chegou a Inteligência de Estado nacional.
Você ainda tem interesse pela atividade de inteligência no Brasil?
Tem certeza?
Porque, se tiver, é importante saber mais.
E a primeira pergunta a responder é:
 “O que você quer?”
Pois, se você quiser ganhar dinheiro, desista. A atividade de inteligência não é lucrativa, em nenhum lugar do mundo. Muito menos no setor privado.
Você tem notícia de alguma empresa ou empresário milionário da atividade de inteligência? Se tiver, certamente está enganado porque, nesse ramo, “nada é o que parece”.
Por outro lado, se o que você quer é integrar serviços de inteligência no Brasil, então poderá fazê-lo ingressando na ABIN, por concurso público; ou nas instituições públicas mais tradicionais, por indicação política. Nesse segundo caso, é importante saber que há algumas raras estruturas de inteligência no país eficientes e, inclusive, de excelência. E as melhores estão nas forças armadas.
Agora, se você pretende ser agente secreto o caminho é completamente diferente. Porque (que ninguém nos ouça), mas a verdade proibida de ser revelada e que ninguém sabe (mas ninguém mesmo, nem os governantes sabem) é que o Brasil não possui agentes secretos em seus serviços de inteligência (esse segredo fica só entre nós...qualquer problema, eu nego tudo...).
Portanto, na realidade, a melhor garantia que há em integrar os quadros de serviços de inteligência no país é a de se tornar um excelente servidor público burocrata.
Por que?
Porque agentes secretos existem; mas, estes, “desacontecem”.
Você ainda tem certeza que quer ser agente secreto?
Porque, apesar do que possa parecer, isso é plenamente possível no Brasil, como em qualquer lugar do mundo.
Porque se tiver vontade, a próxima pergunta a responder é:
 “Quem você é?”
Porque qualquer pessoa pode ser funcionário público, mas não agente secreto. Estes são pessoas especialíssimas e raras, em todos os sentidos. Desta forma, há apenas dois únicos requisitos para ser agente secreto, que evidentemente não é passar em concurso público, ou ser indicado politicamente. Esses requisitos na verdade são uma excelente notícia para aqueles que têm essa pretensão porque ser agente secreto depende única e exclusivamente de si mesmo. Nada mais.
Quais são eles?
O primeiro requisito é possuir o devido perfil. E o perfil do verdadeiro e autêntico agente secreto incorpora integralmente todos os atributos e qualidades do personagem “007- James Bond”, bem como de suas parceiras agentes secretas; pois vale lembrar que as mulheres estão incluídas nesse seleto universo e também são esplendorosas.
Contudo, essa é outra verdade proibida porque serviços de inteligência, especialmente no Brasil, vendem a falsa idéia de que o perfil dos agentes secretos é o de pessoas comuns, desprovidas de dotes e atributos excepcionais, cuja mediocridade os fazem passar despercebidamente. Essa é desinformação produzida para mascarar a inoperância desses órgãos.
Outra mentira ardilosa sobre agentes secretos é a de que eles são forjados nos serviços de inteligência. Tal perfídia, plantada no seio da sociedade, tem enganado e iludido muitos jovens brasileiros, homens e mulheres, incitados ao concurso público para ingresso na ABIN, esperançosos de que irão construir e viver uma carreira profissional de agentes secretos. Porém, infelizmente, o que há no país é uma legião de arapongas e agentes clandestinos, os quais são muitas vezes forjados nessas organizações, pelo diletantismo irresponsável que nelas impera.
Contudo, lembremos que além do perfil ainda há o último requisito para ser agente secreto.
Porém, antes de conhecê-lo, é muito importante reaprender com a própria história nacional a verdade inconteste conhecida desde Sun Tzu, que serviços de inteligência são verdadeiros monstros, na pior acepção da palavra. Só havendo uma única excepcionalidade. Essa é outra verdade proibida de ser dita no Brasil, mas que já foi escancarada ao mundo pelo Coronel Walther Nicolai - 1873/1934 - Chefe do Serviço de Inteligência do Chanceler Bismarck, que disse:
“A Inteligência é um apanágio dos nobres. Confiada a outros, desmorona".
Sempre desmorona. Nunca se esqueça disso. Não, se quiser ser agente secreto.
Isso porque serviços de inteligência que se esquecem disso se tornam monstruosidades de corrupção. E a maioria é assim. Por isso, na atividade de inteligência só há dois tipos de profissionais: os corruptos e os que “vão prá guerra”. E a maioria não “vai prá guerra”
Também, nunca se esqueça disso. Porque será mera questão de tempo para serviços de inteligência corruptos te vitimarem. E nada, nem ninguém, fará qualquer coisa por você, que será abandonado, cairá em desgraça, ou morrerá.
Portanto, ainda tem certeza que você quer ser agente secreto?
Porque, se tiver, o último requisito é ter que tomar uma decisão de vida muito difícil e dolorosa, com um ônus altíssimo para você e para os seus entes queridos.
E é nesse ponto de inflexão que a maioria das pouquíssimas pessoas que possuem o perfil para agente secreto desiste.
Agentes secretos têm de tomar a decisão de viver, por toda a vida, completamente só, sem família, sem amigos, e em local desconhecido.
Evidentemente, que todo esse sacrifício tem uma contrapartida mais que compensadora. Pelo menos, assim pensam os agentes secretos.
Mas, você não precisa ser um deles.
Afinal, a esmagadora maioria dos que atuam na atividade de inteligência prefere a mediocridade de ser no máximo um excelente servidor público burocrata.

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