quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Economia da ecologia

Estado de Minas 26/08/09
José Renato de Castro Cesar - Professor universitário (Face-Fumec), integrante da Academia Mineira de Hagiologia

O modelo minero-industrial e agrossilvopecuário do Brasil é anti-humanista. Os pequenos mineradores, pecuaristas e agricultores, indígenas, seringueiros, trabalhadores rurais sem terra, barranqueiros e afins nunca representaram os fatores e os critérios do desenvolvimento local. Não existe um projeto nacional para o planejamento territorial dos pequenos empresários. Não existe gestão de microbacias, nem fiscalização. O que há é conversa fiada de político corrupto e o mando dos poderosos. Não existe coragem do governante para realizar a reforma agrária.

O que vale na equação absurda do modelo desenvolvimentista nacional é o grande capital e as commodities para exportação. Os ruralistas sabem bem disso e só conseguem aprovar seus projetos e tomar créditos no Banco do Brasil com base na influência e nas relações fiduciárias. As linhas de crédito populares, no Brasil, são um labirinto de suplícios, martírios e humilhações para os pequenos e microprodutores sem estudo básico de primeiro e segundo graus. E, ainda, pagam juros exorbitantes por não oferecerem garantias reais. Esse atraso nas políticas de crédito subsidiado na educação técnica e na saúde das famílias rurais brasileiras está custando à nação o seu salto para o futuro. Os recursos que deveriam ser aplicados aí foram desviados para pagar vereadores, prefeitos, deputados, senadores, ministros e grupos de pseudoempresários que fraudam a nação. Uma infâmia que não termina nunca.

Como dar um basta nisso tudo, senão por via política? É preciso enxergar que a República brasileira nasceu fraudada e, agora, com as falcatruas dos atos secretos do Senado Federal, faliu de vez. Os ruralistas latifundiários, por sua vez, janotas educados, descendentes de barões, não querem (e nunca quiseram) fiscalização, leis ambientais e, tampouco, ações de planejamento em suas terras. Não querem leis que os coíbam ecologicamente. Não entendem de lavoura e não ouvem os técnicos – são imediatistas. Querem o fluxo desordenado de turistas e de capital entrando e o êxodo rural saindo de seus pretensos “arranjos produtivos locais” (verdadeiros feudos). Não respeitam a terra e desprezam os frutos nativos, suas árvores e nascentes. Do outro lado, o governo federal, com suas agências e seus parceiros privados, ganha poder e dinheiro à custa dos pequenos e pobres trabalhadores assalariados e de empreendedores que, escravos da burocracia, lutam pelo sucesso, mas têm contra o governo, cada vez mais imóvel e corporativista – um absurdo inominável. Eis a desordem socialista: a anarquia inconsequente, que deixa ao deus-dará a política, a economia e a indústria.

A economia da ecologia mede as ações das empresas, do homem e da comunidade, em valores econômicos, sociais e ambientais, para avaliar o bem-estar e a qualidade de vida dos seus empreendimentos. Dá uma visão do impacto dessas atitudes e ações. O exemplo que o Brasil passa ao mundo, ao ocupar seu espaço natural, se torna um desafio antropológico, permeado de contradições históricas. A matriz do pensamento que engendra a economia nacional é europeia. É uma matriz alienada diante do consumo e do vale-tudo institucional (Popper & Condry, 1993). Tem na TV o seu fator de alienação implacável, iludindo crianças e jovens e formando adultos frágeis, descrentes e desesperançados; cansados e sem vontade de pensar e de lutar pelas mudanças que constroem um país livre e vitorioso.

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