sexta-feira, 21 de agosto de 2009

GUERRA AO TERROR

Estado de Minas 21/08/09
Mais escândalos da Era Bush revelados
Jornal diz que CIA contratou agentes da empresa privada Blackwater para assassinar líderes da Al-Qaeda, em 2004

Washington – Duas novas denúncias envolvendo o governo do ex-presidente George W. Bush vieram à tona ontem. Ambas, é claro, se referem à guerra ao terror e a práticas secretas adotadas no combate a integrantes da Al-Qaeda ou do Talibã. A primeira delas foi a publicação no jornal The New York Times de uma reportagem sobre um contrato entra a Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) e a agência privada de segurança Blackwater para supostamente prender ou assassinar integrantes da Al-Qaeda, em 2004. A segunda, feita por Tom Ridge, ex-chefe do Departamento de Segurança Nacional, em um livro. Ridge escreve que altos funcionários do governo Bush o pressionaram para elevar o nível de "alerta contra o terror" para beneficiar o candidato republicano nas eleições de 2004.

A ligação entre a Blackwater e o governo Bush é notória e frequentemente alvo de críticas por deslocar a responsabilidade legal de ações no combate ao terrorismo das autoridades americanas para uma empresa privada. As atividades geraram no Iraque e nos EUA, entre outros países, várias e graves acusações de assassinatos rotineiros e brutalidades, assim como de excessos de uso de armas.

De acordo com o New York Times, o programa não teria entrado em fase operacional e nunca resultou no assassinato ou na captura de nenhum suspeito de terrorismo, apesar dos gastos de milhões de dólares. O jornal inglês The Times, de Londres, informou ontem, citando funcionários da atual administração americana e da precedente, que executivos da Blackwater ajudaram no planejamento, treinamento e supervisão do projeto.
Segundo o New York Times, o governo Bush ocultou do Congresso americano o programa. Para a cúpula do governo, o assassinato de membros da Al-Qaeda era a mesma coisa que matar soldados inimigos. Dessa maneira, a CIA não enfrentava a limitação do decreto de 1976, assinado pelo ex-presidente Gerald Ford, que proibia os assassinatos à CIA.

Em um artigo publicado ontem no site da revista The Nation, o autor do livro Blackwater – A ascensão do exército mercenário mais poderoso do mundo, Jeremy Scahill entrevista Jack Rice, ex-operador de campo da CIA. “O que a agência (CIA) estava fazendo com a Blackwater me enche de medo”, diz Rice. “Quando uma agência cede de fato toda a supervisão e poder para uma organização privada, como a Blackwater, o mais importante é que eles perdem o controle e não sabem o que se passa”, explica Rice no texto, reafirmando que ainda pior são as negativas e a irresponsabilidade. Ele afirma que é como se o governo se livrasse da culpa, podendo dizer: “Não somos nós, não tomamos as decisões”.

O livro do ex-chefe do Departamento de Segurança Nacional Tom Ridge também expõe os excessos do governo Bush e a manipulação da administração em casos de informação. O livro – The test of our times: America under siege and how we can be safe again (O teste de nossa época: os Estados Unidos sob cerco e como podemos nos tornar seguros de novo, numa tradução livre) – afirma que o então secretário da Defesa Donald Rumsfeld e o procurador-geral John Ashcroft pediram que ele elevasse a escala de cores estabelecida para medir a gravidade de ameaças terroristas, mas Ridge se recusou.

No livro, Ridge também fala de sua frustração depois que a Casa Branca rejeitou sua sugestão de estabelecer escritórios do departamento de Segurança Nacional nas principais cidades americanas, como Nova York, Los Angeles, Chicago, Washington e – bem antes do furacão Katrina – Nova Orleans. Além disso, ele afirma ter sido deliberadamente excluído durante as reuniões matinais com Bush, porque o FBI (polícia federal dos EUA) estava escondendo informações dele, e diz jamais ter sido convidado para as reuniões do Conselho de Segurança Nacional.

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