domingo, 23 de agosto de 2009

O fim do vestibular

Estado de Minas 23/08/09

É preciso aceitar que o exame já cumpriu seu ciclo
Ben Sangari - Físico, empresário


Se sobreviver às mudanças, o vestibular completará 100 anos em 2011. Não é de admirar que ainda gere defesa por parte de interesses ligados a sua subsistência. Mas não deveria ser assim. O vestibular é o último gargalo que impede o desenvolvimento da qualidade na educação brasileira, entre várias razões, porque simboliza tudo o que agora é considerado obsoleto na era do conhecimento. O Ministério da Educação (MEC) parece estar atento às necessidades dos novos tempos e dá provas disso ao reformular o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e propor que o exame sirva também como forma de seleção unificada nos processos seletivos das universidades públicas federais, ou seja, no lugar do tradicional vestibular.

Eliminado o gargalo do vestibular, haveria maior estímulo à reestruturação dos currículos do ensino médio. É preciso abandonar a visão ultrapassada do processo de ensino e aprendizagem e adotar nova abordagem, mais coerente com a atualidade. A esse respeito, vale a pena consultar a matriz de referência do novo Enem, organizada nas quatro áreas que comporão o novo exame: linguagem, matemática, ciências da natureza e ciências humanas. Ele exigirá os mesmos conteúdos cobrados nos vestibulares, mas agora os estudantes precisarão empregar mais a capacidade de raciocínio e de compreensão do que a de memorização.

Tome-se como exemplo a formação em ciências – área em que o Brasil tem experimentado sucessivos fracassos nas avaliações internacionais. A matriz do novo Enem tem cinco eixos cognitivos: dominar linguagens, compreender fenômenos, enfrentar situações-problema, construir argumentação e elaborar propostas. Sua mensagem veio ao encontro da expectativa de expressiva parcela da comunidade de educadores que já vem desenvolvendo recursos pedagógicos mais adequados à realidade atual, como a “metodologia da investigação” – a construção de conhecimentos gerados pela necessidade de resolver problemas e capazes de mobilizar ações mentais que permitam o surgimento de uma visão mais ampla da realidade.

A adoção de metodologias como a da investigação só reforçaria as expectativas do MEC de reformar o currículo do ensino médio. Com uma educação fundamental de qualidade, compatível com as demandas do mundo contemporâneo, o estudante estará mais bem preparado, não apenas para cursar um ensino médio inovador e ter bom desempenho no Enem, como também para seguir com êxito os cursos universitários.

Todo o processo está articulado. A reformulação do Enem pode gerar novas demandas aos anos escolares que o antecedem. As vantagens de se adotar o novo Enem, inclusive como forma de seleção para os cursos superiores, parecem superar as desvantagens. É preciso aceitar que o vestibular já cumpriu seu ciclo. Não há por que completar um século.

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