André Soares é Diretor-presidente Inteligência Operacional www.inteligenciaoperacional.com
O engano é uma das estratégias de manipulação mais eficientemente utilizadas, tanto pela humanidade, como pela natureza, cujos elevados níveis de criatividade, elaboração e principalmente eficiência são tão surpreendentes que não há contexto psicossocial em que o engano não esteja presente.
Evidentemente que, sobre essa afirmação, muitas são as pessoas discordantes, alegando tratar-se de uma insolente mentira, ou de uma alucinação paranóica; valendo destacar que é justamente no universo dessas pessoas que se encontram os manipuladores mais perniciosos e os manipulados mais indefesos.
Entretanto, mais importante que entender a prevalência da realidade do engano na vida de todas as pessoas é compreender o seu caráter inexorável, porquanto o engano é inerente, particularmente, à própria fenomenologia humana.
Despindo-se da conveniência da “hipocrisia social” e do comportamento “politicamente correto” é notório que o engano está fortemente e permanentemente presente no íntimo de cada pessoa, nos relacionamentos interpessoais e sociais, nos ambientes organizacionais e institucionais, nas relações governamentais nacionais e internacionais, porque o engano é próprio da condição humana.
Todos enganam todos. Até os bebês enganam seus pais (e os bebês são bastante eficientes nisso).
Portanto, a principal questão que se coloca não é a eliminação do engano, mas a adoção da melhor proteção contra ele – a sua identificação.
Essa é uma estratégia árdua e difícil, pois a identificação do engano requer – investigação; e investigar verdadeiramente é expertise de poucos, pois exige coragem e Inteligência Operacional.
Nesse mister, o primeiro grande desafio é investigar a si próprio (autoconhecimento), a fim de verificar se não está sendo dominado pela manifestação mais elaborada do engano, o auto-engano.
Auto-engano é a capacidade da pessoa de enganar-se, a si própria. Esse aparente delírio da imaginação é, na verdade, um complexo e eficiente fenômeno psicológico que viabiliza às pessoas, irem além da capacidade de enganarem os outros, alcançando a capacidade de enganarem a si mesmas (e as pessoas são bastante eficientes nisso).
Nesse sentido, a grande “batalha” dessa investigação intrapessoal é salvaguardar do auto-engano a capacidade pessoal de “saber pensar”, sem o que não há mais vitória possível.
Uma vez preservada a “lucidez” pessoal, o segundo grande e perigoso desafio é investigar tudo e todos.
Vale reforçar, todavia, a necessidade do imperioso domínio da Inteligência Operacional pois, nesse contexto, essa investigação indubitavelmente contrariará protagonistas de interesses inconfessáveis.
Chega-se, assim, ao derradeiro momento de inflexão e dilema pessoal, cuja decisão conduzirá à escolha de uma das seguintes alternativas:
“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”
(São João, VIII/32)
ou
“Me engana, que eu gosto”
(dito popular)
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