sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Quem nunca se corrompeu, que atire a primeira pedra!

Artigo de André Soares
Diretor-presidente Inteligência Operacional


“...A corrupção desse país está no DNA das pessoas...” foram as exatas palavras da deputada estadual Cidinha Campos, em seu recente e veemente pronunciamento na assembléia legislativa do Rio de Janeiro, sobre capítulos da corrupção no país. O fato novo na manifestação da deputada vai além do mérito de suas denúncias e está na sua coragem de falar sobre os 'pecados' da sociedade brasileira. Parafraseando a citação bíblica – “quem nunca pecou, que atire a primeira pedra” - com a qual Jesus conteve os algozes de uma mulher adúltera, a infeliz e óbvia conclusão é que da mesma forma como a referida adúltera deixou de ser apedrejada devido ao comprometimento moral daqueles que também eram pecadores; a corrupção no país não é 'apedrejada' devido à igualmente comprometida moral da 'pecadora' sociedade brasileira.

O comportamento dos brasileiros a respeito da corrupção no país é, além de hipócrita, semelhante ao paciente que insiste em não reconhecer a sua grave doença. Assim, a retórica dos brasileiros é que a corrupção está restrita aos políticos, parlamentares, endinheirados e donos do poder. Estes são os principais culpados e a 'santa' população, inocente e vítima. Quando surpreendidos, em flagrante delito, os brasileiros ainda se justificam, alegando ser a corrupção nacional proveniente das nossas origens, da colonização portuguesa, das capitanias hereditárias, dos índios, do clima tropical, da mata atlântica e, evidentemente, do descobrimento do Brasil; início de tudo, quando nossa corrupção foi oficializada na carta do escritor Pero Vaz de Caminha que aproveita o ensejo das alvíssaras notícias do descobrimento para garantir um “empreginho” para um seu apanigado, junto ao rei de Portugal. Ou seja, os corruptos são sempre os outros.

É notório que a fase mais importante e difícil do tratamento de uma grave doença é o reconhecimento pelo paciente do seu próprio mal, e a sociedade ainda não ultrapassou esse ponto de inflexão porque apesar dos graves sintomas da corrupção social serem por demais evidentes, as sucessivas crises nacionais ainda não foram suficientemente dolorosas. Todavia, essa utópica conscientização social não se dará porquanto nossa infeliz tradição legitimou a subcultura da corrupção, travestida em eufemismo virtuoso e personificada no orgulho nacional do “jeitinho brasileiro”. Portanto, não se comete aqui a ingenuidade de denunciar aos indignos, de regenerar sociedades incorrigíveis, ou de salvar um país de si mesmo, pois como bem diz o ditado - “pau que nasce torto, até a cinza é torta”.

A inação e o silêncio indiscriminados da maioria absoluta dos brasileiros ante a toda e qualquer manifestação de corrupção no país retratam as graves falhas de caráter da maior parcela de nossa população e constituem a autoria e a materialidade de seus próprios crimes. Portanto, nossa sociedade está condenada moralmente, à revelia, por corrupção passiva, como réus confessos, pois "quem se cala consente".

Sobreviver moralmente incólume à uma sociedade corrupta como a nossa é um desafio especialmente perigoso, superado apenas por raros brasileiros, em extinção. De outra parte, somente "quem nunca se corrompeu tem o grande e temido poder de 'apedrejar' corruptos".

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