quinta-feira, 11 de junho de 2009

Proteção ao conhecimento

Hércules Rodrigues de Oliveira - Professor universitário, mestre em administração
(Publicado no jornal Estado de Minas, em 04/05/09)

Na visão criacionista da origem da vida encontramos importante passagem – no Livro de Gênesis – que deu início ao processo da humanização do planeta. A questão emblemática da árvore do conhecimento do bem e do mal – oleiro tudo já sabia, pois é onipresente e onisciente. Pelo viés da mitologia greco-romana - que também procura contar nossa história -, encontramos a figura do titã Prometeu, que concebeu os homens e, depois de refletir, percebeu que nele faltava o conhecimento, razão pela qual acessa o Olimpo e rouba de Zeus o fogo, símbolo do conhecimento, e o entrega aos homens. Como castigo, Prometeu é acorrentado no Cáucaso onde por 30 anos um abutre lhe come o fígado durante o dia, pois à noite ele se regenera, até que Hércules o liberta. Mas o conhecimento sempre foi perseguido desde os tempos primevos. As sociedades que se organizaram em grupos o valorizaram, protegendo-o primeiro em rituais com aspectos místicos - a mitologia que o diga - e depois na atualidade em ações mais concretas envolvendo mecanismos de proteção como bem o faz a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) por meio do seu Programa Nacional de Proteção ao Conhecimento Sensível. Mas, retornando às antigas civilizações, verificamos que, na mitologia nórdica, Odin, o deus dos deuses, trocou um olho para obter conhecimento. Para os sumérios, o príncipe Adapa abriu mão da imortalidade para ter conhecimento. Ulisses, depois da guerra de Tróia, de volta a Ítaca, diz a seus homens: “Não nascemos para ser brutos, mas para perseguir virtudes e conhecimentos”. E após estas palavras - citadas por Dante Alighieri -, se lança ao desconhecido, atravessando as Colunas de Hércules (Gibraltar), entretanto, Netuno, deus do mar, por não permitir a busca do conhecimento, destrói toda a frota, levando Ulisses e seus comandados para os abissais. proibida de se conhecer – plantada no meio do Jardim do Éden, que, depois do acesso não autorizado feito por Eva (a primeira mulher), teve como consequência a expulsão do paraíso, a dor de parto e na necessidade da prática do trabalho para o sustento dos homens. Longe de mim a heresia, mas tivesse o todo-poderoso protegido aquela árvore, não haveria espaço para a estultice da serpente em persuadir Eva a invadir terreno proibido, à procura do dado negado. Mas o Deus Verifica-se que, na busca do conhecimento, o homem sempre pagou um preço. O rei idealizador dos Jardins Suspensos da Babilônia, Nabucodonosor, personificava a vitória do conhecimento, pois seu nome se traduzia como “Nabu triunfa”. Nabu, o deus do conhecimento. No Egito antigo, aqueles que protegiam o conhecimento do Faraó com ele eram enterrados nas células mortuárias, depois do rito da sua passagem. A casa da verdade, a confraria do Faraó, citada pelo egiptólogo Christian Jacq, eram compostas pelos guardiões da luz do conhecimento, que a protegiam com a própria vida. É no estudo das etapas da evolução humana que vemos os aspectos que nortearam a proteção do conhecimento. Nossos ancestrais trouxeram técnicas diferenciadas que os protegeram inclusive dos glaciais. Enquanto o processo civilizatório se deu calçado em conhecimento compartilhado, o de conquistas ocorreu pelo conhecimento compartimentado. Foi assim na idade dos metais, quando os povos que dominavam o bronze, o cobre e o ferro sucumbiram ao aço, às armas e aos germes, como bem demonstrou Jarred Diamond. Portugal se tornou senhor dos mares por 160 anos, graças a sua inventiva náutica – cartas e instrumentos – protegidas pela Escola de Sagres, fundada pelo infante Affonso Henriques. Hoje o serviço de inteligência do moderno Estado português – Serviço de Informações e Segurança (SIS) – protege as empresas lusas contra a espionagem industrial ou econômica. A indústria farmacêutica estadunidense é tida como de segurança nacional e seu conhecimento gerado é protegido com o emprego da inteligência econômica pelos analistas da Agência Central de Inteligência (CIA). Em todas as nações, há preocupação pelo desenvolvimento de instrumentos para a proteção do conhecimento. No Brasil, de dimensões continentais, não pode ser diferente. Relembremos o fato ocorrido em 2000, quando o mundo assistiu perplexo ao drama vivido pelos 118 marinheiros russos que morreram no submarino nuclear Kursk, nas águas geladas do Mar de Barents. A Marinha britânica e o governo norueguês detinham, à época, tecnologia para resgatar o submarino que se encontrava há mais de 100 metros de profundidade. Mas o governo russo só autorizou o resgate depois da certeza de que o conhecimento ali custodiado estivesse definitivamente destruído, pois destruir também é proteger.

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