Artigo de André Soares – 21/12/2010
A Inteligência de Estado deve reger-se rigorosamente sob a égide da “Tríade da Inteligência”, formada pelo Sigilo, Legalidade e Ética, sem as quais se degenera perigosamente. Contudo, os três esteios que a legitimam possuem o mesmo grau de importância?
A resposta a esta incômoda pergunta pode ser encontrada na obra “A Tríade da Inteligência”, de André Soares, e está retratada no livro “Op Center”, que se transformou em filme. O seu enredo ficcional transcorre no âmbito da atuação de serviços de inteligência, envolvidos na eclosão de uma grave crise internacional, com a iminência da deflagração de uma guerra atômica de grandes proporções entre várias potências nucleares, com conseqüências catastróficas para o mundo.
Numa tensa reunião de emergência da cúpula do órgão máximo de inteligência nacional, envolvendo a presença das maiores autoridades do país, o dirigente máximo da organização, diante daquela situação de caos e sem ter em mente qualquer alternativa para aquela crise, pede a todos os participantes que apresentem sugestões. Após alguns segundos intermináveis de silêncio absoluto, o assessor jurídico se manifesta, sugerindo uma alternativa ainda não cogitada, porém extremante eficiente. Contudo, havia um senão – à luz do ordenamento jurídico vigente, a alternativa sugerida pelo assessor jurídico era, tecnicamente, ilegal.
O dirigente máximo respondeu veementemente ao assessor jurídico, posicionando-se contrariamente à alternativa sugerida e dizendo-se espantado e surpreso de tê-la recebido exatamente de um profissional do direito que, ao contrário, em nome do estado, deveria ser um incansável defensor da legalidade.
O assessor jurídico levantou-se, dirigiu-se pessoalmente ao dirigente máximo, e com maior veemência lhe disse estar ainda mais estupefato em presenciar as maiores autoridades do país, ali reunidas, decidindo a salvação do destino da nação e da humanidade e, diante dessas circunstâncias catastróficas, aquele dirigente estava preocupado com leis?
Todas as respostas a essas dramáticas questões estão abordadas na doutrina da Tríade da Inteligência, que podem ser resumidas nas sábias palavras do coronel Walther Nicolai, chefe do serviço de inteligência do chanceler Bismarck, que declarou: "A Inteligência é um apanágio dos nobres; confiada a outros, desmorona".
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