Estado de Minas 02/09/09
Movimento mobiliza população para colher mais 300 mil assinaturas para projeto de lei no Congresso Nacional que impede candidatura de políticos condenados em primeira instância
Daniela Almeida
A Praça Sete, marco da independência nacional, no Centro de Belo Horizonte, foi cenário ontem para a coleta de assinaturas da Campanha Ficha Limpa, promovida pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), que pretende levar ao Congresso Nacional um projeto de lei de iniciativa popular para impedir a candidatura de políticos condenados em processos judiciais em primeira instância.
A campanha Ficha Limpa foi lançada em abril de 2008, durante a assembleia geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), desenvolvida pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), que reúne 42 entidades. Lideranças de entidades civis, empresários, intelectuais, artistas, representantes de igrejas católicas e evangélicas e integrantes de organizações como a maçonaria tentam até a próxima segunda-feira atingir a marca de 1,3 milhão de assinaturas necessárias para encaminhar ao Congresso Nacional o projeto de lei.
Segundo a organização do evento, foram reunidas ontem mais de 1 mil assinaturas. As barracas para coleta de assinatura continuarão até quinta-feira na Praça Sete. Ainda faltam 300 mil assinaturas para que a proposta de lei siga para o Congresso. Na página www.mcce.org.br é possível imprimir o formulário para coleta de novas assinaturas, que podem ser entregues em qualquer igreja.
Em meio ao grande número de trabalhadores, estudantes e aposentados que passam pela praça diariamente, a sensação geral era de indignação. É o caso de Sérgio Gesteira e Matos, de 50 anos. “Eles fazem as coisas como se a gente fosse imbecil e não tivesse consciência de nada. Do jeito que está, daqui a pouco vai surgir um movimento contra o Senado, que é uma instituição importante para o país. Tenho medo que a gente esqueça o que aconteceu no passado, como a ditadura, e repita tudo”, desabafou.
Desempregado, Sérgio trabalha como autônomo em vendas e diz que, apesar de conseguir “se virar”, faltam oportunidades. “Fui beneficiado pelo seguro-desemprego, que ajudou muito, mas acho que o que deveríamos fomentar no país são a educação e o mercado de trabalho. É aquela história, precisa ensinar a pescar e não só dar o peixe.”
O aposentado Manoel Gomes da Silva, de 70, engrossa o coro de quem resolveu participar da campanha. “Decidi aderir porque a corrupção está demais. Alguém tem de fazer alguma coisa. Quando a gente vê as coisas acontecerem, geralmente não consegue fazer nada. Por meio de uma assinatura, quem sabe a gente consegue?”
Aposentado com cinco salários mínimos, Manoel hoje recebe apenas três. Sobre a crise no Senado, ele desabafa: “O que está acontecendo lá não é de hoje. Agora, surge essa oportunidade. Se a gente não consegue tirar todos, pelo menos tira a metade. Se todo mundo que passa por aqui perdessem um pouco do seu tempo para aderir, já era alguma coisa.”
PASSIVIDADE A auxiliar de enfermagem Célia Lelis, 50 anos, concorda e reclama ainda da passividade com que a população aceita os fatos. “Acredito que essa história do Senado era motivo para irmos para as ruas e exigir a cassação”.
Nem todos se contentaram em apenas engrossar o abaixo-assinado. A estudante Sabrina dos Reis Silva, 21 anos, fez questão de levar alguns formulários em branco para colher assinaturas na escola. “É esse tipo de república que eles construíram para a gente? A minha esperança é de que sejam criadas leis mais rígidas até mesmo contra o Senado, porque contra a população já tem demais. Espero que diminua a corrupção para que o país se desenvolva. Tenho fé que vou conseguir muitas assinaturas.”
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