Correio Braziliense 02/09/09
Cada vez mais a tecnologia é utilizada como aliada na prevenção, treinamento e ação de forças policiais. Equipamentos que permitem ver através de paredes e simuladores ultramodernos são alguns dos recursos que estão por vir
Fernando Braga
Foi-se o tempo em que o único produto tecnológico usado pelos serviços de segurança pública (ou privada) eram os espalhafatosos e nada discretos rádios de comunicação. Hoje, é cada vez mais comum ver a polícia utilizando as mais avançadas ferramentas de proteção para lidar com situações em que, em outros tempos, o uso da força, pura e simples, era tida como a única saída para contornar determinados conflitos. De modernas táticas de treinamento até as mais novas armas disponíveis para serem usadas contra o crime, a tecnologia ganhou terreno no segmento de segurança e, aos poucos, começa a fazer parte do cotidiano dos responsáveis por zelar pela tranquilidade da população.
Algumas dessas novidades foram lançadas na Interneg, maior feira do setor, realizada na última semana em Brasília e que apresentou diversas soluções — algumas delas, inclusive, que só poderiam ser vistas, até então, em filmes de Hollywood. Um dos destaques do evento foi um equipamento desenvolvido por uma empresa israelense e distribuído pela Motorola que permite identificar a presença de pessoas através de paredes. Tido como o aparelho de raios X do futuro, o produto, que pesa 15kg e pode ser carregado em uma maleta, possibilita que as forças policias e militares ganhem uma vantagem operacional para confirmar a segurança de uma área e reduzir, assim, surpresas em operações de resgate de reféns, assaltos, entrada com explosivos e capturas de alto risco.
“O equipamento projeta um feixe eletromagnético através de paredes com até 50 centímetros de espessura e capta, por meio de ondas de rádio, a presença de quem estiver do outro lado do cômodo”, diz o diretor de estratégia da Motorola, Bruno Nowak. O aparelho, que tem um alcance de 20m, reproduz num receptor portátil as imagens em 3D. Nowak afirma que o equipamento já está sendo utilizado em 16 países e só pode ser vendido para forças militares e policiais.
Olhos do céu
Para ações que envolvam a entrada de homens de segurança em áreas hostis, uma solução que vem ganhando espaço são os sistemas de veículos aéreos não tripulados. A ferramenta, que muitas vezes pode ser confundida com os tradicionais aeromodelos, é bastante utilizada no exterior e, aos poucos, ganha espaço no país. A Aeroeletrônica trouxe o Mini Vant Skylark 1 LE, um modelo que tem milhares de horas de voos e é utilizado em diversos campos de combate pelo Batalhão de Forças Terrestres Israelenses. Pesando 5kg, o aviãzinho pode ser transportado por apenas duas pessoas e é colocado em operação em menos de 10 minutos. Ele opera num raio de 15km e tem autonomia de 3 horas.
A Berkana, empresa brasileira que atua no segmento de telecomunicações, também apresentou um pequeno helicóptero capaz de ser guiado por controle remoto ou programado para ir até um determinado ponto informando as coordenadas via GPS. “Ele é equipado com quatro motores elétricos, que são mais silenciosos e emitem menos tremores. Assim, a qualidade das fotos tiradas da região acaba sendo melhor”, explica o gerente de contas da empresa, Tiago Teixeira.
Já quando a aproximação é necessária, o uso de armas menos letais acaba sendo a melhor saída para minimizar os riscos e não envolver a participação de inocentes numa ação. Nesse cenário, uma aposta criativa e para lá de original é o spray grudento. Desenvolvido pela Poly Defensor, o produto, em vez de usar o antigo sistema de aerossol de pimenta, utiliza uma substância adesiva que prega nos suspeitos e provoca uma ardência que o impossibilita fazer qualquer outra coisa. “A primeira sensação é efervescência. Depois, a substância gruda e é muito difícil de sair”, conta Fábio Gonçalves, representante da empresa.
O produto, batizado de ACDC (adesivo para controle de distúrbios civis), é indicado para situações de manifestações que fogem do controle. “Ele é composto de resinas vegetais não tóxicas e biodegradável. Não causa mal algum se atingir os olhos, por exemplo”, afirma Gonçalves. O spray já foi testado e aprovado por órgãos como o Departamento de Segurança Institucional da Presidência da República e a Força Nacional.
Para presidente da GLBR/Fagga, organizadora da Interseg, Arthur Repsold, a feira tem se tornado, a cada ano, um evento voltado para novas tecnologias. “Existe uma consciência de que só com a inteligência aliada ao uso da tecnologia é que se pode conquistar avanços importantes na área de segurança pública”, diz.
Preparação de tropas
A utilização de equipamentos avançados vai além do uso específico em ações do dia a dia dos policiais. A tecnologia está sendo utilizada intensamente na capacitação de forças militares, com a intenção de garantir uma melhor preparação das tropas e aproximar, ao máximo, os cenários dos treinamentos aos vividos em situações reais. Um exemplo disso é o IVR 4G, um simulador virtual de 360° desenvolvido pela norte-americana Virtra System, que conta com telas de 2,8m de altura e 3m de largura, formando um hexágono, onde são reproduzidas imagens em alta definição. O aparelho permite que o policial interaja nas mais diversas situações. Totalmente envolvidos numa área de 100m², os alunos utilizam diferentes tipos de armas que, equipadas com sensores, permitem agir em 30 situações previamente gravadas. “A proposta é aperfeiçoar a preparação de equipes que fazem atendimentos onde o estresse é muito grande”, conta Julio Bedim, gerente de vendas diretas da Agora, empresa que comercializa a solução no país.
As cenas, reproduzidas por projetores de alta definição e acompanhadas de seis caixas de som, são gravadas por atores e envolvem abordagens que vão desde situações de trânsito até momentos que simulam a atuação de bandidos armados. Um oficial superior fica do lado de fora coordenando tudo o que acontece enquanto os policiais fazem o treinamento. Ele pode, por exemplo, escolher a próxima ação que os alunos terão que enfrentar a cada minuto. Tudo muito próximo do real. Para aumentar ainda mais a adrenalidade e o clima de apreensão, cada participante é obrigado a usar um cinto que emite descargas elétricas, acionado no momento em que a pessoa recebe um tiro virtual.
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