Estado de Minas 28/07/09
A simples elevação do colesterol, independentemente de outros fatores, significa, no mínimo, risco 30% mais alto de morte por infarto
Raul Dias dos Santos
Diretor científico do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)
As doenças cardiovasculares, infartos e derrames cerebrais são responsáveis por cerca de um terço das mortes nos adultos brasileiros de ambos os sexos. Em 95% dos casos, esses são decorrentes da obstrução da passagem de sangue para o coração e para o cérebro por placas de gorduras, o que denominamos de aterosclerose. A aterosclerose é velha conhecida dos médicos e, em mais de 80% dos casos, é causada por pressão alta, diabetes, tabagismo, obesidade abdominal (barriga de chope), sedentarismo e colesterol elevado no sangue. Dados recentemente publicados na revista The Lancet, de estudos que avaliaram mais de 900 mil indivíduos, mostram claramente a relação entre a elevação do colesterol do sangue com o risco de morte por infarto do miocárdio. A elevação de apenas 40mg/dl no colesterol do sangue de um indivíduo para outro nas faixas etárias dos 40-50 anos, dos 50-59 anos e dos 60-69 anos significa um risco aumentado de morte por doença isquêmica do coração (a consequência do infarto) de respectivamente 56%, 42% e 28%. Ou seja, uma simples elevação do colesterol, independentemente da presença dos outros fatores de risco, que, aliás, podem piorar a coisa, significa, no mínimo, um risco 30% mais alto de morte por infarto. A boa notícia é que um estudo realizado por pesquisadores internacionais e publicado em junho na revista British Medical Journal, com mais de 70 mil indivíduos (1/3 mulheres), mostra que reduções moderadas do colesterol (em média 30%), em pessoas sem história prévia de doença cardiovascular, reduz o risco de infarto em 30%, o risco de derrames em 29% e a mortalidade em 12%! Esse estudo confirmou os benefícios da redução do colesterol em indivíduos que já haviam sofrido previamente um problema cardiovascular. O benefício será tanto maior quanto maior for o risco, ou seja, colesterol alto associado à pressão alta, diabetes, tabagismo ou naqueles indivíduos que já sofreram infartos ou derrames, e quanto maior for o tempo de tratamento (pelo menos quatro anos). Um dos grandes problemas para implementação do controle do colesterol no Brasil e em outros países do mundo é que colesterol alto não dói! Oras, se não dói, se a gente não vai atrás para saber se ele está elevado, não vai encontrar o problema. Dessa forma, é necessário medir o colesterol pelo menos a cada cinco anos para saber se ele está alto. Uma vez elevado, é necessário controlá-lo com alimentação saudável ou medicação (estatinas) conforme a necessidade e o risco de problemas do coração. Uma pergunta interessante, já que há tanto benefício da redução do colesterol: como anda o controle do colesterol no Brasil e no mundo? Não muito bem infelizmente. Em estudo recente, que coordenei com quase 10 mil pessoas de nove países, publicado na mais importante revista de cardiologia do mundo, a americana Circulation, apenas 30% dos pacientes de altíssimo risco para doença cardiovascular estava com o colesterol controlado! Ou seja, 70% persistiam com o colesterol alto mesmo em uso de medicações. Como estava o Brasil nessa classificação? Dos nove países avaliados, controlamos o colesterol melhor apenas do que a França e a Espanha e perdemos para os EUA, Holanda, México, Taiwan, Coreia e Canadá. Como melhorar? Uma coisa seria termos remédios para colesterol na rede pública para beneficiarmos as pessoas menos privilegiadas – felizmente isso já ocorre e estamos melhorando: há anos o governo federal, o governo do estado de São Paulo e muitas prefeituras no Brasil disponibilizam medicamentos como a sinvastatina e a atorvastatina gratuitamente para os brasileiros. Mas só isso não adianta, é necessário ter conscientização sobre o problema para detecção do colesterol elevado rotineiramente e adesão ao tratamento. O tempo médio de uso de estatinas no Brasil é de apenas dois meses quando o tratamento deveria ser contínuo para o resto da vida! Temos que melhorar a educação sobre o problema. Reduzir o colesterol é como previdência privada: investimento aos poucos e em longo prazo com benefício lá na frente após muitos anos! O dia do colesterol serve para lembrar os brasileiros desse problema. Derrubem o colesterol e viva a saúde!
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