Jornal do Brasil 29/07/09
É bem-vinda a incorporação do veículo aéreo não tripulado – batizado de Vant – ao arsenal da Polícia Federal a ser utilizado nas regiões de fronteira. Munido de radares com câmeras fotográficas e de vídeo de alta precisão que podem ser utilizadas a qualquer hora do dia, o novo avião, fabricado em Israel, fez seu voo inaugural em céu brasileiro na segunda-feira, em cerimônia que contou com a presença do ministro da Justiça, Tarso Genro, e autoridades da área de segurança nacional. Embora cara (o governo vai gastar R$ 114 milhões para implantar a primeira fase do projeto, que contará com 14 aeronaves), a tecnologia já se mostrou excelente aliada no combate à criminalidade em diversos países, e tende a diluir seu custo diante dos benefícios que traz consigo.
A nova arma da PF é imperceptível a olho nu, voa com autonomia de 37 horas, a 10 quilômetros de altura, e pode acompanhar o alvo em tempo real, ao vivo e em cores. O voo experimental do Vant foi realizado na primeira base de operações do projeto, em São Miguel do Iguaçu, no Paraná. Ali, representantes do governo puderam acompanhar imagens nítidas de alvos em movimento, transmitidas via satélite. O local da base não foi escolhido à toa. Trata-se da tríplice fronteira Brasil–Paraguai–Argentina, por onde transitam anualmente milhões de pessoas e quantidade igualmente enorme de contrabando.
Conforme revelou levantamento da própria Polícia Federal, entre julho e setembro do ano passado, só do Paraguai, chegou ao país o equivalente a R$ 9 milhões em cigarros contrabandeados através da fronteira de quase mil quilômetros. De acordo com a Associação Brasileira de Combate à Pirataria, já são 50 as fábricas de cigarro no Paraguai, produzindo 47 bilhões de unidades por ano.
A pirataria da indústria tabageira, no entanto, é apenas um dos problemas naquela região, junto ao tráfico de drogas e de armas. A tríplice fronteira é uma área sob permanente suspeita internacional também por conta do avanço do terrorismo no mundo. Agências de países como os Estados Unidos e Israel – os maiores alvos desses grupos – enviam seguidos informes sobre a movimentação de terroristas ou de transações financeiras entre as organizações e pedem a colaboração brasileira para localizá-los. Até hoje, não há casos comprovados, mas a vigilância nunca é demasiada.
Até o fim do ano serão instaladas quatro bases, uma delas em Brasília, que abrigará também um centro de treinamento para operadores do sistema. As outras três estarão funcionando a pleno vapor até março do ano que vem em Manaus, Porto Velho e Foz do Iguaçu. Mas a Polícia Federal promete estender a vigilância aérea a todo o território nacional. Os recursos para a primeira fase já estão assegurados no orçamento do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci).
Cabe ressaltar que a PF será a primeira polícia do mundo a utilizar aviões não tripulados, antecipando-se até mesmo às Forças Armadas, que também querem a tecnologia, mas por enquanto só avaliam as propostas. Policiais federais fizeram testes há 12 dias e já se certificaram da eficácia do sistema. De posse da nova ferramenta, espera-se o uso racional e pró-ativo da tecnologia a serviço do cidadão.
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