terça-feira, 14 de julho de 2009

Pressão para investigar CIA e Cheney


Estado de Minas 14/07/09


Barack Obama pede reabertura de investigação sobre morte de prisioneiros do Talibã. Escândalos da CIA e do ex-vice-presidente podem atrapalhar programas do governo


Brasília – As mais recentes denúncias envolvendo a problemática política externa de George W. Bush mostram que os fantasmas do governo anterior ainda assombrarão, por um bom tempo, o atual presidente. As revelações feitas pela imprensa norte-americana de que a administração Bush ocultou do Congresso um programa de contraterrorismo e esteve envolvida na execução de cerca de 2 mil presos no Afeganistão, em 2001, obrigaram Barack Obama a se comprometer com a investigação dos casos. Para especialistas, no entanto, o novo presidente deve ter cuidado para não se desviar demais de sua agenda política ao tentar "limpar a sujeira" deixada pelo antecessor.
Em entrevista que a rede de televisão CNN exibiu ontem, Obama garantiu que seu governo já foi orientado a investigar a fundo as centenas de mortes de prisioneiros da milícia fundamentalista Talibã. "As indicações de que isso não havia sido propriamente investigado só chegaram a mim recentemente. Então, pedi à minha equipe de segurança nacional que reúna os dados e, provavelmente, vamos tomar uma decisão sobre como proceder", disse o presidente. Segundo o jornal The New York Times, que publicou a denúncia na sexta-feira, altos funcionários do governo Bush frearam os esforços do FBI, do Departamento de Estado e do Pentágono para investigar a morte de mais de 2 mil prisioneiros em uma prisão de Kunduz (Norte). O motivo? O general afegão Abdul Rashid Dostum, responsável pela execução e sepultamento em valas comuns, trabalharia na época com a CIA (agência de inteligência americana).
"Acredito que há responsabilidades que todas as nações têm, mesmo em tempos de guerra. E, se a nossa conduta parece, de alguma maneira, apoiar violações da lei de guerra, então acho que temos de tomar conhecimento disso", afirmou Obama à CNN. O mesmo pode se aplicar a outra denúncia, trazida pelo Wall Street Jornal, de que a CIA tinha um plano secreto para capturar ou matar integrantes da rede terrorista Al-Qaeda. O programa, que foi cancelado pelo atual diretor da agência, Leon Panetta, foi revelado horas depois que a presidente da Comissão de Inteligência do Senado confirmou que o vice de Bush, Dick Cheney, proibiu a CIA de informar o Congresso sobre um programa antiterrorista criado após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Em março, o jornalista investigativo Seymour Hersh declarou, em seminário na Universidade de Minnesota, que trabalhava numa reportagem sobre esquadrões da morte inteiramente desconhecidos do Congresso. Segundo ele, os agentes se reportavam diretamente ao vice-presidente. As operações consistiam em assassinatos seletivos em território estrangeiro.
CONFIANÇA ABALADA A honestidade da CIA em relação ao Legislativo tem sido bastante questionada desde que a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, acusou a agência de não revelar, em um encontro em 2002, que usava o afogamento como tática de tortura em suspeitos de terrorismo. Agora, membros do Partido Democrata cobram a investigação detalhada da administração anterior. "Acredito que o ideal seja uma comissão para investigar denúncias sobre tortura e atividades de contraterrorismo", afirmou o democrata Patrick Leahy, chefe do Comitê de Justiça do Senado, no domingo.
Mas, para que o governo Obama – e o próprio Congresso – se debruce sobre esse tipo de investigação, alguns pontos da agenda política interna, como a reforma do sistema de saúde e a crise econômica, podem ser prejudicados. "Isso certamente atrapalha, principalmente em questão de ritmo de trabalho. Porque, toda vez que ele vai encaminhar um padrão novo, tem de voltar lá atrás, investigar e colocar um ponto final", afirma a professora de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Cristina Pecequilo. Para a professora de ciência política da Universidade de Towson Martha Joynt Kumar, é visível que a Casa Branca quer evitar esse tipo de "distração". "Obama quer dominar o debate e quer que o debate gire em torno de sua agenda doméstica – saúde, energia e educação", disse ao New York Times. Pecequilo, contudo, acredita que ele deve "levar as duas coisas ao mesmo tempo".

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