O Globo 23/07/09
SÃO LUÍS - Interceptações telefônicas realizadas pela Polícia Federal, com autorização judicial, mostram que o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), mantinha uma rede de informantes que lhe garantiram saber da movimentação da polícia na quebra de seu sigilo bancário, entre outras coisas. Um telefonema ocorrido no dia 17 de abril do ano passado, às 12h16m, entre Fernando e o pai, evidencia que o próprio senador buscava notícias sobre as investigações envolvendo seu filho. Também queria saber sobre o juiz que cuidava do processo.
Uma das fontes do grupo, como deixa transparecer a gravação, seria a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Outra seria alguém do Banco da Amazônia. Em 2008, quando os diálogos foram captados, o atual vice-governador do Maranhão, João Alberto de Souza, era diretor do banco. Fernando pergunta ao pai se tinha novidade "sobre aquele meu negócio", ao que o senador responde que, até aquele momento, "não me deram nada". Mas Fernando diz que já obtivera notícias:
Fernando Sarney: - Olha aqui, e aquele meu negócio? Alguma novidade?
José Sarney: - Não, até agora ainda não me deram nada.
Fernando: - Muito bem, mas eu aqui já tive notícia do Banco do Amazonas.
Sarney: - Da Abin?
Fernando: - Também.
Sarney: - Tá bom.
O filho do senador, então, diz ao pai que o banco já havia sido notificado pelo juiz da 1ª Vara Federal de São Luís, Neiam Milhomem Cruz. O processo corria em segredo de Justiça.
Fernando: - Formal, semana passada chegou. É um sinal de que estão mexendo, mas o daqui eu sei a origem.
Sarney: - Do Banco Central?
Fernando: - Não, daqui é o juiz da 1ª Vara.
O senador orienta o filho a mandar ver o processo e Fernando responde que já providenciou isso. E diz ao pai que obteve a informação sobre a quebra de seu sigilo bancário "em off", isto é, alguém lhe disse em segredo.
Fernando: - Isto é em off, né. Mas eu mandei ver agora o documento normal para que eu possa ver na internet do que se trata.
E reafirma:
- Foi em off, foi hoje de manhã que chegou a informação e eu estou concluindo ela.
Sarney: Mas o menino me disse ontem ...
No decorrer da Operação Boi Barrica, que investiga suposta arrecadação ilegal para a campanha de Roseana Sarney (PMDB) ao governo do Maranhão, em 2006, e que acabou descobrindo um eventual esquema de lavagem de dinheiro e tráfico de influência, a PF identificou que um agente da instituição, Aluizio Guimarães Mendes Filho, repassava informações privilegiadas ao grupo.
Aluizio trabalhava como segurança de Sarney e reaparece nas conversas em que Fernando pede ao pai para ajudar na nomeação do namorado da filha. Atualmente, é chefe do Serviço de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do governo de Roseana. A assessoria de Sarney informou que ele estava incomunicável.
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2009/07/23/fernando-sarney-tinha-informantes-na-abin-756937812.asp
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