Jornal do Brasil 28/07/09
Veículo Aéreo Não Tripulado vai monitorar fronteira e Amazônia com imagens em tempo real
Vasconcelo Quadros
A nova arma da Polícia Federal para vigiar e combater o crime na região de fronteira é imperceptível a olho nu, voa com uma autonomia de 37 horas, a uma distância de 10 quilômetros da terra – altura de cruzeiro – e pode acompanhar o alvo em tempo real, ao vivo e a cores. Um voo experimental do primeiro Veículo Aéreo Não Tripulado (Vant) foi mostrado ontem ao ministro da Justiça, Tarso Genro, e ao diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, na primeira base de operações do projeto, em São Miguel do Iguaçú, no Paraná.
O novo avião, de tecnologia militar israelense e com uma envergadura de 10 metros, munido de radares com câmeras fotográficas e de vídeo de alta precisão – que podem ser utilizadas a qualquer hora do dia – pode voar por uma extensão de mil quilômetros ininterruptos, transmitindo imagens nítidas de alvos em movimento, captados via satélite na Terra. Durante o vôo de ontem as autoridades puderam acompanhar, numa base improvisada em São Miguel do Iguaçu, as imagens transmitidas pela aeronave. O governo vai gastar R$ 114 milhões para implantar a primeira fase do projeto, que terá 14 aeronaves e priorizará a região da fronteira do Brasil com Paraguai e Argentina.
Até o fim do ano serão instaladas quatro bases, uma delas em Brasília, que abrigará também um centro de treinamento para operadores do sistema. As outras três estarão funcionando a pleno vapor até março do ano que vem em Manaus, Porto Velho e Foz do Iguaçu. Mas a Polícia Federal vai estender a vigilância aérea a todo o território nacional.
– O Ministério da Justiça tem recursos e vontade política para a implantação do Vant – garantiu Tarso Genro, ao conhecer e se encantar com o projeto. Segundo o ministro, os recursos para a primeira fase já estão assegurados no orçamento do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), a vitrine do Ministério da Justiça para o setor.
O delegado Luiz Fernando Corrêa explicou que a tríplice fronteira foi escolhida como piloto por seu simbolismo estratégico como porta de entrada do contrabando e tráfico de drogas e armas. A PF é a primeira polícia do mundo a utilizar aviões não tripulados e se antecipa até mesmo às Forças Armadas, que também querem a tecnologia, mas por enquanto estão avaliando as propostas. Seu foco é a segurança nacional. Já a PF visa inicialmente o crime organizado e a cooperação internacional. Seu alvo inicial será o monitoramento de movimento estranhos na região de fronteira e, especialmente, na Amazônia. A PF faz testes há 12 dias e já se certificou da eficácia do sistema. É possível, por exemplo, fazer o acompanhamento completo do trajeto de um veículo ou pessoas que cruzem a fronteira.
A PF usará a ferramenta também para auxiliar nas operações em conjunto com os países vizinhos, como o Paraguai, Colômbia, Bolívia e Peru. Até agora apenas o Paraguai tem convênio com a polícia brasileira.
Embora o projeto comece pela tríplice fronteira e seu destino inicial seja o combate ao contrabando, tráfico de drogas e armas ou crimes ambientais, nada impede que os equipamentos sejam usados para rastrear também outros alvos da Polícia Federal ou de órgãos de segurança e informação internacionais com os quais há tratados de cooperação.
A tríplice fronteira é uma área de permanente suspeita internacional por conta do avanço do terrorismo no mundo. As agências de países como os Estados Unidos e Israel – os maiores alvos desses grupos – mandam seguidos informes sobre a movimentação de terroristas ou de transações financeiras entre as organizações e pedem a colaboração brasileira para localizá-los. Até hoje não há casos comprovados.
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