segunda-feira, 20 de julho de 2009

Divergências na tortura

O Globo 20/07/09
EUA podem criar unidade para interrogatórios
Joby Warrick e Peter Finn

WASHINGTON. Em abril de 2002, enquanto Abu Zubaida, suspeito de terrorismo detido no Paquistão, ocupava um leito num hospital em Bangcoc, altos funcionários de contraterrorismo se reuniam na sede da CIA (a agência central de inteligência americana) em Langley, na Virgínia, para tratar de algo urgente: como fazer ele falar.
Colocar o suspeito numa cela cheia com cadáveres foi uma das sugestões. Outras opções levantadas foram deixar o prisioneiro cercado de mulheres nuas e a aplicação de choques elétricos nos dentes.
Agora que o comitê de inteligência do Senado analisa o programa de interrogatório da CIA, a investigação está centrada, em parte, em James Mitchell e John "Bruce" Jessen, ex-funcionários da CIA que ajudaram a planejar e supervisionar o interrogatório Zubaida. Eles foram classificados como ávidos defensores da coerção, mas também rejeitaram ordens de Langley para exercer mais pressão sobre o detido. Os depoimentos ajudam a saber sobre os acontecimentos na prisão secreta da CIA na Tailândia.
Entrevistas com quase duas dezenas de atuais e antigos agentes fornecem novas evidências de que as ordens para torturas provocaram divergências entre os funcionários.
George Little, um porta-voz da CIA, disse que os duros interrogatórios sempre foram "uma pequena fração da missão da agência". Agora, acrescentou, "a CIA está concentrada não no passado, mas em analisar as atuais ameaças terroristas e frustrar conspirações."
Em dezembro de 2001, a CIA pediu a Mitchell para analisar o "Manual de Manchester", um documento apreendido no Reino Unido que descreve as técnicas de resistência da al-Qaeda. E ele pediu a Jessen - graduado psicólogo do programa Sere (Sobrevivência, Evasão, Resistência e Escape) - para ajudar na avaliação. Um memorando, distribuído na CIA, discutia a eficácia de técnicas como a privação do sono e o bombardeio de sons altos, mas sem incentivar a simulação de afogamento.
Zubaida passou por tudo isso, com autorização do escritório central da CIA. Só simulações de afogamento foram 83 em cinco dias. Agora o Governo Obama estuda a possibilidade de criar uma unidade especial de interrogadores para evitar que essas duras técnicas sejam aplicadas. A ideia é se concentrar mais em informações do que conseguir provas para incriminar. A proposta deverá ser enviada à Casa Branca amanhã.

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