quarta-feira, 22 de julho de 2009

Ir além da segurança

Estado de Minas EDITORIAL - 22/07/09

Assassinato de jovens no país já é tragédia que exige forte reação

É muito grave o quadro desenhado por uma pesquisa sobre assassinatos de jovens no Brasil, a partir de dados de 2006, coletados em 267 cidades com mais de 100 mil habitantes. Mantidas as atuais condições de abandono e de falta de políticas públicas bem articuladas e persistentes de combate à violência e de oferecimento de alternativas para esse segmento da população, o país vai continuar produzindo a vergonhosa estatística de 13 mortes por dia. Trata-se, sem dúvida, de uma verdadeira carnificina patrocinada pela sociedade contra os adolescentes que ainda sobrevivem nos médios e grandes centros urbanos. A previsão indica que, até 2012, 33,4 mil jovens de 12 a 18 anos terão sido mortos pela violência dessas cidades, sendo que, apenas em Minas, essa macabra contagem pode chegar a 3,298 nos próximos sete anos. O estudo foi realizado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a ONG Observatório de Favelas. No ranking das cidades pesquisadas, Foz do Iguaçu (PR) é a campeã absoluta, com base no Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), que mede o número de mortes de jovens para cada mil habitantes no período. A média nacional é alta, 8,5. Mas aquela cidade da divisa com o Paraguai está muito acima, com 9,74. E o segundo lugar é a mineira Governador Valadares, com 8,74. Minas tem ainda três municípios entre os 20 mais violentos do país para jovens: Contagem, em 13º lugar; Ibirité, 17º; Betim, 19º; e Ribeirão das Neves, em 20º. Os três se localizam na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os pesquisadores constataram que a maioria das mortes são provocadas por disparos de armas de fogo e as principais causas estão associadas ao consumo de drogas, dívidas com traficantes, conflitos envolvendo meninas sexualmente exploradas e brigas de gangues em regiões mais violentas ou disputadas pelo tráfico. Na verdade, essa realidade, embora chocante, não deveria surpreender. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao se referir a esse levantamento, confessou ter seu governo fracassado na formulação e na execução de políticas públicas focadas no combate à violência que vitima de forma letal número tão expressivo de jovens. Mas é fundamental uma reação rápida que ofereça respostas à altura da gravidade da situação. Para começar, será engano resumir a questão ao âmbito policial e atribuir responsabilidade apenas às autoridades de segurança pública. Sem a compreensão de que é preciso oferecer, além da educação, oportunidade, espaço e equipamentos para o lazer, a prática de esportes e o treinamento profissional que justifique uma opção pelo bem, em contraposição à sedução do dinheiro fácil e do poder enganoso do crime. É hora de dar força a programas que vão além da segurança e que já demonstraram eficácia, a ponto de reduzir a criminalidade medida pela pesquisa em 2006, como o Fica Vivo, levados pelo governo do estado aos jovens de famílias fragilizadas pela pobreza e por décadas de abandono pelos governos e pela sociedade. É mais confortável apenas esperar que a polícia prenda os que se marginalizaram. Mas a realidade mostra é que nada vai melhorar sem o envolvimento de todas as pessoas que podem, por conhecimento, disponibilidade de tempo ou de recursos, oferecer alguma contribuição.

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