Visão do Correio Braziliense 22/08/09
Quando eclodiu a crise no Senado, há muitos meses, os mais esperançosos acreditaram que seria possível remover do comando da Casa o grupo político responsável pela montanha de absurdos com o dinheiro público. Já os menos otimistas supunham que, mesmo não havendo massa crítica, força necessária para essa mudança, o establishment senatorial seria ao menos obrigado a promover reforma radical de costumes administrativos.
O que se vê, porém, é um resultado abaixo de qualquer expectativa. Escorados no apoio incondicional do presidente da República, os que transformaram o Senado em propriedade particular perceberam que não precisam mudar nada para valer. O exemplo mais evidente são os tais atos secretos. Eles eram secretos? Ora, então trata-se apenas de formalizá-los. Quem tem padrinho, como diz o ditado, não morre pagão. Para que fazer sacrifícios, por que baixar medidas verdadeiramente moralizadoras se se pode sacar no cheque especial da popularidade do presidente da República?
Mas há a desmoralização do Senado, em níveis nunca vistos, e inimagináveis tempos atrás. Ora, como a eleição está longe, até lá o eleitor já deverá ter se esquecido. E o que restar de reprovação popular poderá ser bem compensada por dinheiro orçamentário liberado pelo Planalto para que os fiéis escudeiros executem bondades locais que possam resultar em votos. Tudo pelo projeto de se agarrar ao poder a qualquer custo.
São os piores hábitos nacionais, perenizados e justificados em nome da “governabilidade”. Que pode ser traduzida assim: à maioria tudo é permitido, e a minoria que não chie se não quiser sofrer represálias ferozes. Os parlamentares da oposição que se cuidem, pois se insistirem demais nas denúncias poderão ter seus mandatos cassados por uma base governista que, quanto mais lhe faltem argumentos, mais apreço exibe pela violência política sem disfarces.
E há o escárnio. O mesmo PMDB que representou contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), votou no Conselho de Ética pelo arquivamento sumário da representação. Provou assim que se tratava apenas de chantagem. Foi um recado, aparentemente bem compreendido pelos próceres oposicionistas, cujo ímpeto foi arrefecendo conforme se mostrava serem eles também sócios — ainda que minoritários — das alegres festividades senatoriais promovidas com o dinheiro dos impostos.
Difícil saber o que é mais deprimente nisso tudo: se a propensão governista a usar o poder sem qualquer limite ou escrúpulo, ou se a vulnerabilidade autoimposta pela oposição. E, no meio do tiroteio, o cidadão que trabalha e está em dia com suas obrigações simplesmente constata a ausência de quem possa defendê-lo, verdadeiramente.
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