sábado, 22 de agosto de 2009

Em telefonema, Lula cobra Obama sobre bases e Honduras

Folha de São Paulo 22/08/09

Presidente pede garantias jurídicas de que EUA restringirão sua atuação à Colômbia, mas americano só promete novas explicações

Obama também não aceita de imediato sugestão de se reunir com presidentes da América do Sul em setembro, na ONU, para discutir tema

ELIANE CANTANHÊDE

COLUNISTA DA FOLHA

SIMONE IGLESIAS

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em telefonema ontem para o presidente Barack Obama, Luiz Inácio Lula da Silva pediu garantias jurídicas de que a ampliação do acordo militar entre EUA e Colômbia não vá extrapolar o combate exclusivo ao narcotráfico nem significar a instalação de bases americanas em território colombiano -ou seja, sul-americano.

O mesmo pedido já fora feito por Lula ao presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, durante sua recente vinda a Brasília para explicar a extensão do acordo com os EUA, sem que ele tivesse respondido sim ou não.

Lula também recebeu ontem o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que irá ao Equador na próxima segunda-feira e à Colômbia na terça, para conversas com ministros de sua área sobre o acordo militar EUA-Colômbia e também para tentar fazer uma ponte entre os dois países. Quito e Bogotá estão com as relações diplomáticas suspensas desde o ano passado.

Nos 30 minutos de conversa com Obama, Lula também formalizou o convite para que ele se reúna com os 12 presidentes da América do Sul aproveitando a abertura da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York, de 23 a 30 de setembro, para discutir a questão das bases colombianas.

"O presidente Lula mostrou [a Obama] que há uma sensibilidade muito grande na região, de outros países e nossa também, com a instalação das bases por conta da proximidade com a Amazônia", disse ontem o chanceler Celso Amorim.

"O presidente insistiu que haja garantias formais, juridicamente válidas, de que o equipamento e o pessoal não serão usados fora do estrito propósito declarado [no acordo], que é o combate ao narcotráfico, às Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia] e ao terrorismo", completou Amorim.

Apesar do pedido feito pelo presidente brasileiro, Obama não acenou com a possibilidade de dar garantias jurídicas e apenas disse que enviará ao Brasil um funcionário do Departamento de Estado para dar mais explicações sobre as bases militares, além das já fornecidas por outros enviados de segundo escalão do governo dos EUA.

Obama também não confirmou a reunião com os presidentes sul-americanos, alegando que estará sobrecarregado recebendo centenas de delegações de outros países para a reunião da ONU. Mas disse que vai pensar sobre o assunto.



Honduras

Lula, cumprindo o que prometera ao presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, durante visita deste a Brasília na semana passada, pediu a Obama que os EUA aumentem a pressão sobre o regime golpista hondurenho. Obama fez um relato de medidas adotadas pelos EUA e informou que será enviada uma missão de chanceleres da OEA (Organização dos Estados Americanos) a Tegucigalpa na segunda-feira para discutir com o presidente golpista, Roberto Micheletti, a volta de Zelaya.

Nota divulgada pela Casa Branca sobre a conversa diz que os presidentes conversaram para discutir questões de interesse e preocupação mútua nos EUA e na América Latina.

"O presidente [Obama] reafirmou seu compromisso com relações de longa data dos Estados Unidos na região e seu desejo de trabalhar em parceria construtiva com o Brasil e outros em todo o continente para ajudar a promover a democracia, a segurança e a prosperidade dos povos das Américas", afirma a nota.

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