Jornal do Brasil 25/08/09
A divulgação de mais um poço supostamente seco no pré-sal da Bacia de Santos levanta dúvidas em parte do governo quanto à neutralidade das petroleiras privadas nas avaliações da região.
Governo questiona poço seco
Sabrina Lorenzi, Jornal do Brasil
RIO - A divulgação, segunda-feira, da existência de mais um poço aparentemente seco no pré-sal da bacia de Santos levanta dúvidas em parte do governo quanto à neutralidade das petroleiras privadas nas avaliações da região. Por outro lado, o fato reforça o discurso contrário das multinacionais ao novo marco regulatório – de que o pré-sal não é uma Arábia Saudita para ser gerido por modelo de partilha, em vez das atuais concessões.
Um ministro contou ao Jornal do Brasil que a Petrobras, sendo sócia de uma área onde não foi encontrado óleo, não teria concordado com a escolha do lugar a ser perfurado pela sua parceira.
– Pode ter sido má fé ou incompetência. É mais uma prova de que a Petrobras está mais preparada para trabalhar no pré-sal, com a experiência que tem – avalia o ministro.
Antes de perfurar uma área, as empresas realizam um minucioso trabalho de sísmica, estudos geólogicos que mostram onde há mais chances de se encontrar petróleo. A Petrobras não confirma a informação de que houve divergências com qualquer uma das empresas em sociedade. O fato é que a estatal informou êxito em 87% das perfurações que realizou no pré-sal de Santos. As duas operadoras privadas que operam na região – ExxonMobil e BG Group – fracassaram em duas tentativas das três tentativas.
Estrangeiras
A BG informou segunda-feira que não encontrou indícios de hidrocarbonetos no segundo poço que perfurou na área batizada de Corcovado, ao nordeste da primeira descoberta. No primeiro poço, entretanto, há sinais de que as reservas sejam maiores do que se pensava anteriormente. O presidente da holding, Frank Chapman, disse que o resultado da segunda perfuração Corcovado, campo de Santos, ainda não é definitivo. A empresa disse que há, contudo, registro de gás.
– Após Corcovado 2 nós retornaremos a Corcovado 1, revestiremos o buraco e testaremos o poço. Obviamente não estaríamos fazendo tudo isso se não tivéssemos uma boa razão para fazê-lo – afirmou, por meio da assessoria de imprensa situada em Londres.
A Exxon Mobil também constatou um poço seco no bloco BM-S-22, batizado de Azulão. O presidente da Exxon Mobil no Brasil, John Knapp, disse a este jornal que não falará sobre a área enquanto a operação não for concluída e negou a existência de conclusões.
Representantes do setor privado defendem junto ao governo que o risco zero no pré-sal não existe. Com esse argumento, tentam demover o governo de instaurar o modelo de partilha, pelo qual empresas não podem ser donas do petróleo. O Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), bem como outros executivos do setor, defendem publicamente a manutenção do atual modelo de concessão, pois alegam que investimentos bilionários no setor estão sendo feitos, com o pagamento de royalties para estados, municípios e União.
O presidente Lula e integrantes do governo, por sua vez, avaliam que a redução inquestionável do risco exploratório exigem novas regras.
Especialistas do setor privado ouvidos por este jornal avaliam que o poço seco informado segunda-feira reforça o pleito das multinacionais.
A BG. A companhia detém participação em vários blocos na camada pré-sal, e o sucesso nas perfurações até recentemente ajudou a impulsionar suas ações.
Além dos dois poços secos na região, a Petrobras também suspendeu em julho o TLD (Teste de Longa Duração) de Tupi, campo avaliado com 5 a 8 bilhões de barris de petróleo, após problemas no equipamento chamado árvore de natal molhada, que será substituído. O teste ainda não foi retomado.
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