Estado de Minas 18/08/09
Teme-se que a democracia seja gravemente ferida
Paulo Vieira - Professor das Faculdades Novos Horizontes
É tênue a fronteira que separa o dinheiro do poder. Aliás, dinheiro e poder sempre andaram de mãos dadas, a ponto de se confundirem e confundirem estudiosos, analistas e interlocutores. Mas a verdade é que, por toda a história, o chamado vil metal sempre flertou com o mundo do poder, e vice-versa. Num ambiente capitalista – sejamos justos e jamais hipócritas ao querer cultivar e defender um purismo que não existe –, tudo gira em torno do dinheiro.
O poder é uma palavra que, há séculos, fascina o homem. Por ele, se mata e se morre. E o poder se manifesta das mais distintas formas, mas, ao ostentá-lo, o ser humano se coloca num patamar superior aos demais componentes de seu grupo de convivência ou da comunidade de sua influência. E, ao conquistar uma posição de destaque, satisfaz o seu ego. É algo que pode ser muito bem explicado pela psicologia. Afinal, o ser humano precisa respirar poder. Curiosamente, mas não por acaso, o poder é um catalisador do dinheiro, e o dinheiro, algo que atrai o poder. Parece que se completam, em que pese o fato de os detentores de um ou de outro (e de ambos) não admitirem publicamente sequer a atração que existe ao aproximá-los, à semelhança do que ocorre com os ímãs.
A política partidária pressupõe poder. Afinal, o povo confere àqueles homens e mulheres o “poder de representá-lo”. O grande problema é que, nos últimos tempos, com tantas notícias desabonadoras envolvendo representantes do povo, criou-se uma impressão geral de que “o governo do povo, pelo povo e para o povo”, mote da democracia, não é pelo povo, nem para o povo. Em que pesem as notícias pipocarem com inquietante frequência aqui no Brasil, há de se considerar que o fenômeno – digamos assim – de uma relação incestuosa entre dinheiro e poder não é exclusivo do Brasil. Entretanto, até por uma questão de justiça, deve ser registrado que dinheiro e poder têm a capacidade de conviver pacificamente e sem tentações mútuas, o que pode ser comprovado pelas atuações e biografias de vários homens públicos, de todas as esferas.
O grande perigo é fazer com que a democracia sofra ferimentos que não propiciem uma cura. É triste dizer, mas, a cada notícia envolvendo má relação entre dinheiro e poder, ocorre um desalento do povo com relação àqueles homens e mulheres que, um dia, receberam a outorga para representá-lo. Talvez – até para tornar o assunto mais palatável – seja interessante vasculhar o grande acervo de músicas brasileiras, para retirar lições e alertas que podem ser vinculados ao assunto em pauta. Uma delas, exemplarmente aplicável ao quadro atual (e que valeria a pena ser permanentemente lembrada por aqueles que, ao receber a honraria de representar o povo, são os mensageiros e guardiões de projetos e sonhos dos cidadãos), diz que “nada do que foi será do jeito que já foi um dia”. E aí, para corroborar isso, olha-se para o passado e vem a lembrança de que, um dia, houve um juramento de posse, em que foi assumido o compromisso de trabalhar o processo democrático com correção e lisura. Também é importante resgatar, ainda, que confiança é um fino vaso de porcelana, que, quebrados (o vaso e a confiança), jamais retornarão ao estado original.
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