Estado de Minas 30/08/09
Ministério da Saúde estuda medidas para estimular a população masculina a investir na prevenção contra um dado alarmante: eles são dois de cada três pessoas mortas no país
Junia Oliveira
O administrador de empresas Ricardo Martins Ribeiro, de 36 anos, tinha a típica vida dos tempos modernos. Responsável pelos negócios de três empresas, em meio à correria total, nada de se preocupar com hábitos saudáveis: estresse, nenhum tempo para refeições e apenas aquela paradinha para comer um salgado aqui e outro ali. Mas, há seis meses, essa rotina teve de ser subitamente repensada. Ao sentir palpitações repetidas vezes, ele decidiu procurar um médico e recebeu o diagnóstico depois de uma bateria de exames: hipertensão. Desde então, o jeito foi entrar nos eixos. “Tomei os remédios, a pressão normalizou e faço controle alimentar, de forma saudável. Na hora do almoço, o telefone apita e paro o que estiver fazendo para comer”, diz. Ele explica o fato de ter sido surpreendido pela doença: “A mulher sabe que deve ir ao ginecologista, já o homem se pergunta: ‘Vou fazer controle de quê? Qual especialidade devo procurar? Um cardiologista ou um clínico?’. Nunca encaixa com trabalho, sempre marca e cancela, deixando sempre para depois, até a hora que não tem mais jeito”.
Ricardo Ribeiro é um dos 20,1% de homens moradores em Belo Horizonte que tiveram o diagnóstico clínico de hipertensão, segundo dados do Ministério da Saúde. No grupo das mulheres, esse índice é de 28,2%. A análise clínica confirmou outra doença que requer cuidados específicos, o diabetes, em 4,4% da população adulta masculina e em 5,6% da feminina. Nas mulheres, o percentual das duas enfermidades é maior exatamente porque elas procuram mais o diagnóstico que eles. E é por causa desse desleixo com a própria saúde que os homens adoecem e morrem mais no país.
A falta de cuidados médicos, a despreocupação com a prevenção e o hábito de procurar os serviços de saúde quando a dor ultrapassa o limite do suportável fazem com que eles engrossem uma assustadora estatística: quase 60% dos óbitos no Brasil são de homens – aproximadamente dois a cada três casos de morte. Os dados são do Ministério da Saúde, que quer reverter esse quadro com a Política Nacional de Saúde do Homem, lançada esta semana. Ao todo, serão investidos R$ 613,2 milhões em nove eixos de ação, entre eles de comunicação, promoção à saúde, expansão dos serviços, qualificação de profissionais e investimento na estrutura da rede pública.
Belo Horizonte ocupa posições preocupantes em alguns setores que se tornaram problema de saúde pública. A capital tem o quarto maior índice de homens fumantes (22,5%), atrás de São Paulo (27,7%), Macapá (24,7%), Campo Grande (23,5%) e Boa Vista (23,5%). E ocupa a mesma posição entre os sedentaristas, depois de Rio Branco, Natal e Maceió.
Enquanto a campanha do ministério tenta atingir os menos preocupados, alguns homens já se adiantam e provam que o melhor é mesmo se cuidar. O empresário João Antônio de Campos Meneghin, de 52, é um dos que vão na contramão das estatísticas. Ele sai de Lagoa Santa, na Grande BH, para se consultar com um médico na capital, especialista na medicina ortomolecular. “Tenho um zelo excessivo. Se sinto qualquer coisa, vou ao médico. E não abro mão de um checape anual, de fazer o exame de próstata, de sangue, eletrocardiograma e teste ergométrico quando é possível. Não espero estar mal para me consultar”, relata.
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