sexta-feira, 14 de agosto de 2009

De que lado está o Brasil?

NELSON DE SÁ -
Folha de São Paulo 14/08/09


Em chamada na capa e em editorial, a "Economist" faz a pergunta acima e responde, em destaque, que é "hora de Lula defender a democracia em vez de abraçar os autocratas". Abre o texto:

- Este é um grande momento para ser brasileiro e especialmente para ser Luiz Inácio Lula da Silva, o inspirador presidente do país. Por tanto tempo o gigante de baixa performance da América Latina, o Brasil agora está em toda lista dos lugares que importam no século 21. Parece que nenhum encontro internacional, seja para discutir reforma financeira ou aquecimento global, está completo sem Lula, um ex-metalúrgico e líder sindical cuja bonomia e instinto para a conciliação entre contrários políticos faz com que tenha amigos em toda parte.

E encerra:

- Ninguém deve esperar que o Brasil aja como xerife da América. Mas é de seu próprio interesse evitar uma nova guerra fria na região. O modo de fazê-lo é não confundir democratas e autocratas, como Lula parece pensar. É envergonhar Hugo Chávez riscando um limite claro e público, em defesa da democracia -o sistema que permitiu a um pobre torneiro mecânico chegar ao poder e mudar o Brasil. Por que outros países mereceriam menos?


Sob críticas, Brasil estreita elo com Peru

Chanceler Celso Amorim tem reunião com colega peruano hoje em Lima, preparatória para visita de Lula em novembro

Associação indígena acusa Petrobras de não consultar comunidades da selva em comitê da ONU; chanceler peruano vê uso político

FLÁVIA MARREIRO

DA REPORTAGEM LOCAL


O chanceler Celso Amorim se reúne hoje em Lima com seu colega peruano, José Antonio García Belaunde, para assinar uma série de acordos de cooperação, especialmente para a zona de fronteira, e para preparar a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país andino em novembro.

Na véspera da visita, a Agência de Cooperação Brasileira e a contraparte peruana fecharam convênio para melhorar a capacidade técnica da produção de látex na fronteira e também do processamento de castanha. Amorim deve fechar hoje acordo de cooperação de eletrificação rural, por exemplo.

Enquanto os países aprofundam a agenda de parceria em desenvolvimento social, a Aidesep, a principal associação indígena da Amazônia peruana, critica o que hoje é o principal eixo da relação bilateral: a ação conjunta em projetos de integração física, geração de energia e extração petrolífera.

A presidente interina da Aidesep, Daysi Zapata, discursou ontem na Comissão da ONU contra o Racismo, em Genebra, acusando o governo Alan García, em associação com empresas estrangeiras, de explorar a selva sem consultar as comunidades, como prevê convenção adotada pelo país.

Entre outras multinacionais, Zapata acusou a Petrobras, que detém o direito de exploração em cinco lotes no país, de atuar em seu bloco 117, na fronteira com a Colômbia, sem consultar as comunidades indígenas.

Questionado sobre o tema, o chanceler peruano respondeu: "Eu ficaria surpreso se as consultas não houvessem sido feitas. Com a Aidesep, é preciso cuidado, porque há um jogo político aí", disse à Folha.

A assessoria da Petrobras não havia respondido até o fechamento desta edição. Em junho, a empresa havia informado que não faria atividades com presença física ou mesmo sobrevoos na região até ser autorizada pelo governo peruano.

O presidente García trava arrastada queda de braço com a associação indígena, que se diz alijada dos projetos de desenvolvimento para a Amazônia.

Série de protestos de abril a junho deste ano -que envolveu confrontos que deixou 34 mortos- obrigou Lima a recuar de um pacote de decretos pró-investimentos na selva e abrir diálogo com a Aidesep.

Mas a associação sustenta que, enquanto a mesa de diálogo acontece, Lima dá por fechados acordos como o da brasileira Eletrobrás com o governo para construir hidrelétricas no Peru -investimento estimado em US$ 16 bilhões. O projeto da usina de Paquitzapango, que sofre resistência na selva central, foi incluído nas negociações com o governo.

O líder indígena Alberto Pizango, presidente da Aidesep até ser asilado na Nicarágua em junho, critica a hidrelétrica dizendo que ela faz parte do "pacote" brasileiro para o país.

Pizango segue influenciando a crise, com entrevistas à imprensa peruana. García Belaunde disse ontem ter reclamado formalmente com o governo esquerdista nicaraguense pela questão. "Lamentavelmente, as autoridades da Nicarágua parecem não entender quais as obrigações que têm os asilados e o país que os recebe", queixou-se.


Pacto reduzirá efetivo militar, diz americano

DA REDAÇÃO

O número dois da Chancelaria americana para a América Latina disse que o pacto que permitirá aos EUA utilizar bases militares na Colômbia apenas regulariza "acordos informais" já em vigor e implicará na verdade em redução do efetivo americano.

Em uma entrevista ao jornal equatoriano "El Comercio" publicada ontem, Christopher McMullen garantiu serem só três as bases militares na Colômbia a que os EUA buscam ter acesso, e não sete, como vem sendo veiculado.

Informações conhecidas dão conta de que o pacto -previsto pela Colômbia para ser concluído até domingo- permitirá aos EUA ter no país até 800 militares e 600 civis.

De acordo com McMullen, no entanto, o interesse americano restringe-se às bases de Apiay, Malambo e Palanquero, e em até três anos a presença na Colômbia será "mínima".

"Temos usado bases desde o Plano Colômbia, há dez anos. (...) Estamos atualizando convênios dos anos 50, da Guerra Fria."

Já o subsecretário de Defesa dos EUA para a região, Frank Mora, disse ontem à agência Efe que o acordo "não tem fim bélico nem capacidade militar ofensiva de nenhuma índole" e visa só a "cooperação no combate ao narcotráfico e ao terrorismo".


TENSÃO ENTRE VIZINHOS

Bolívia expulsará brasileiros à força de região de fronteira

DA EFE

O governo da Bolívia afirmou ontem que expulsará "à força" cerca de 20 famílias de brasileiros que vivem no povoado de San Ignacio de Velasco, no departamento de Santa Cruz.

Os brasileiros são acusados de terem se assentado na cidade sem autorização e de derrubarem árvores indiscriminadamente na região.

O vice-ministro de Terras do país, Alejandro Almaraz, afirmou à rádio Erbol que a remoção das famílias se dará em uma ou duas semanas.

O anúncio chega uma semana após Bolívia e Brasil informarem que estão coordenando a transferência de cerca de mil famílias brasileiras que vivem próximo à fronteira na região de Pando (norte boliviano).

O plano prevê o assentamento destas famílias nos dois países entre outubro e dezembro. A nova Constituição da Bolívia veta a estrangeiros a posse de terras a menos de 50 km das fronteiras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Dê sua opinião, livremente, respeitando os limites da legalidade e da ética.

Fórum da Inteligência

Este é um espaço destinado ao debate e à manifestação democrática, livre, coerente e responsável de idéias sobre Inteligência.