O Globo 11/08/09
Agiram bem os presidentes Lula, do Brasil, e Cristina Kirchner, da Argentina, quando mantiveram a reunião da União nas Nações SulAmericanas (Unasul) no limite do razoável. Tratava-se de encontro para dar posse a seu segundo presidente, o equatoriano Rafael Correa, que por sua vez assumia o segundo mandato presidencial em meio às festas do bicentenário da independência do Equador.
Não era essa a direção pretendida pelos bolivarianos. Basta lembrar a frase de efeito lançada por Hugo Chávez, da Venezuela, em Quito: “Ventos de guerra sopram sobre a região.” Referia-se às desavenças entre a Venezuela e o Equador, de um lado, e a Colômbia, de outro, depois da revelação de que os EUA acertaram com o governo de Bogotá o uso de sete bases colombianas.
Chávez reagira dizendo que compraria tanques russos para reforçar a defesa do país. Correa saiu-se com a bravata de que sua próxima reação seria armada.
Cortinas de fumaça para disfarçar fatos até agora não respondidos, ou respondidos apenas com palavras indignadas, sem provas: os de que armas suecas vendidas à Venezuela apareceram nas mãos das Farc; e declarações gravadas de um comandante narcoguerrilheiro de que a organização armada deu dinheiro para a campanha que elegeu Correa. Na reunião de Quito, à qual não compareceu o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, Chávez vociferou contra os EUA e contra a Colômbia, esta por “entregar” bases aos americanos. Correa fez um lamentável ataque à imprensa independente, exortando outros chefes de Estado a agirem como os bolivarianos: mídia boa é mídia silenciada.
Cumpriam o ritual de pôr a boca no trombone para minimizar graves problemas internos decorrentes, principalmente, da queda do preço do petróleo, do qual ambos são exportadores.
Lula insistiu não ter sentido investir no confronto quando há tanto a ser feito pelos países da Unasul para melhorar a vida de seus cidadãos.
E, com a ajuda de Cristina, conseguiu adiar para um próximo encontro a discussão sobre as bases americanas na Colômbia. Esse é o papel do Brasil, e é ótimo quando o país pode ter a Argentina a seu lado.
Fica a esperança de que a reunião de Quito marque o fim, ou a atenuação, da ambiguidade diplomática brasileira, provocada por simpatias ideológicas.
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