O Estado de São Paulo 04/08/09
Ao falar da morte de jovem, diretor da Anvisa questiona exame; garoto teve gripe suína na excursão, diz agência
Lígia Formenti e Emilio Sant’Anna
Os testes rápidos usados para detectar o vírus A(H1N1), causador da gripe suína, apresentam resultados incorretos em cerca de 50% dos casos. Esse pode ter sido o exame feito em Orlando (EUA) na estudante Jacqueline Ruas, de 15 anos, que morreu durante o voo de volta ao Brasil anteontem. Ela estava com pneumonia, segundo o Instituto Médico Legal (IML).
O diretor de Portos, Aeroportos e Fronteiras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), José Agenor Álvares da Silva, afirmou ontem que o teste rápido apresenta índice de resultados incorretos expressivo. "É um exame questionável. A própria Organização Pan-Americana de Saúde afirma que o teste, em 50% dos casos, acusa resultado de falso negativo", explica.
A jovem, que estava na Disney de férias, apresentou sintomas de gripe em 28 de julho, após outro garoto que participava da excursão ter apresentado os mesmos sintomas . Atendida no hotel, um dia depois Jacqueline tomou o medicamento Tamiflu pela primeira vez.
No dia 30, queixando-se de falta de ar foi levada ao Celebration Hospital. Ali foi atendida, realizou um teste rápido para gripe suína e, depois de medicada, foi liberada para o voo de retorno. O resultado para gripe suína teria sido negativo. Ela morreu na viagem, uma hora antes de chegar a São Paulo.
O voo fez uma escala no Panamá. Ao desembarcar naquele país, a jovem relatou aos responsáveis pela excursão que estava sentindo tonturas e cansaço e uma cadeira de rodas foi oferecida pela guia de turismo Gisela dos Santos.
Nas três horas em que permaneceu no Panamá, a jovem não passou por nenhuma avaliação médica, a não ser a análise da própria guia de que a garota não tinha febre e poderia seguir viagem. A informação foi dada ontem, em São Paulo, por Filipe Fortunato, diretor executivo da agência Tia Augusta, organizadora da excursão.
Após se queixar de tontura e cansaço, a garota disse que estava bem e não foi levada ao posto médico do aeroporto. Ele admite que a guia não têm treinamento médico, mas diz "confiar em sua experiência". "Achou-se que não era necessário passar pelo médico, pois ela teve apenas cansaço e tontura", diz.
Segundo ele, a empresa espera obter o auxílio do Ministério da Saúde para que o hospital nos Estados Unidos torne público os procedimentos adotados no atendimento.
O diretor da Anvisa diz que no Brasil seria pouco provável que a estudante conseguisse embarcar nas condições que apresentava. "Aqui é pouco provável que ela conseguisse embarcar. Mas não sabemos o protocolo de outros países", afirma. Segundo o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, não há como afirmar ainda que houve erro. "Temos de aguardar os resultados dos exames."
ALERTA
Jacqueline não foi a única a apresentar os sintomas de gripe na excursão. De acordo a empresa, "outros jovens já haviam apresentado os mesmos sintomas".
Um menino de cerca de 11 anos, acompanhado pelos pais, teve diagnóstico positivo gripe suína.
"Ele foi isolado enquanto estava com os sintomas, recebeu o Tamiflu e depois de algumas horas já não tinha mais os sintomas e pode seguir viagem com o grupo", disse. Questionado sobre a segurança da decisão, Fortunato afirmou: "Foi uma decisão da família."
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