sábado, 1 de agosto de 2009

O acordo da discórdia


Brasil pede explicações aos EUA sobre bases colombianas; Uribe boicotará Cúpula da Unasul
Gilberto Scofield Jr. e Janaína Figueiredo

Diplomatas e adidos militares brasileiros fizeram ontem consultas ao governo americano para buscar detalhes do acordo de cooperação militar que está sendo negociado entre Colômbia e EUA. Na próxima segunda-feira, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, o general James Jones, viajará para Brasília para conversar pessoalmente com representantes do governo brasileiro sobre o assunto.
O governo americano não revela o conteúdo da conversa que será travada entre o general e os ministros brasileiros, mas estima-se que sua tarefa seja deixar claro que o governo Barack Obama não mudou sua orientação militar com relação à América Latina. E que todos os acordos negociados com a Colômbia estão dentro da parceria antiterror e de combate ao narcotráfico já acertada entre os dois países. Em entrevista publicada ontem pela revista "Ahora", o presidente colombiano, Álvaro Uribe, assegurou que seu país nunca agrediu vizinhos e que o objetivo do entendimento com os EUA é obter uma colaboração prática no combate à violência interna.
Em meio à nova crise diplomática entre os governos de Colômbia, Venezuela e Equador, representantes do Executivo colombiano confirmaram que Uribe e o ministro das Relações Exteriores de seu país, Jaime Bermúdez, não participarão da Cúpula de Presidentes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), marcada para o dia 10 de agosto, em Quito. Anteontem, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Michelle Bachelet, do Chile, pediram que o acordo entre a Colômbia e os Estados Unidos para o uso de bases militares colombianas fosse discutido na Cúpula da Unasul.
A ausência de Uribe era esperada, já que Colômbia e Equador romperam relações em março do ano passado, após o ataque, por parte do Exército colombiano, a um acampamento das Farc em território equatoriano. O governo Uribe enviará um representante ao encontro, mas será um funcionário de segundo escalão.
- Virão todos os presidentes da Unasul, com exceção do presidente da Colômbia - confirmou o chanceler equatoriano, Fander Falconí, que defendeu a resolução de conflitos regionais no âmbito da Unasul.
O comércio na região de fronteira entre Venezuela e Colômbia está praticamente parado devido ao aumento do controle da passagem de pessoas e mercadorias, desde a decisão do governo venezuelano de congelar relações com Bogotá.

OEA recebe comitiva de venezuelanos
Ontem, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, recebeu um grupo de parlamentares venezuelanos da oposição, que solicitou uma audiência para denunciar "a grave situação democrática" e a "falta de respeito à Constituição" no país. A delegação foi formada pelos deputados Ismael García, Juan José Molina e Wilmer Azuaje, além do embaixador Milos Alcalay, que foi representante permanente da Venezuela nas Nações Unidas entre 2001 e 2004.
Num comunicado da OEA, Insulza teria lembrado aos deputados que ele sugeriu que não apenas representantes do Poder Executivo, mas também membros do Legislativo e do Judiciário possam recorrer formalmente à OEA, numa sugestão de que as viagens de parlamentares, apesar da significação política, têm pouco poder de influência na organização.
Ainda ontem, os embaixadores dos 33 países americanos se reuniram de manhã com Insulza num encontro privado na OEA no qual a situação em Honduras pós-golpe de Estado foi discutida. O conselho permanente da instituição se reuniria à tarde, mas um comunicado avisou que o encontro foi adiado, sem explicar as razões. Diplomatas presentes ao encontro matinal afirmaram que os países americanos continuam divididos sobre a adoção de sanções adicionais ao governo de fato de Honduras, medida que seria discutida ontem à tarde.
O Globo 01/08/09

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